— Damien, Damien. — A garotinha de oito anos estava parada ao lado da cama do irmão mais velho.
Ela se agarrava a um coelho de pelúcia, enquanto usava a outra mão para puxar os cabelos platinados do garoto que recusava-se a acordar, por mais que o sol já atravessasse o vidro da janela e tocasse o rosto pálido e desacordado.
— Damien.... acorda!
Lucy, quando queria alguma coisa usava o tom de voz birrento e franzia o cenho, fosse para exigir o brinde do cereal ou para implorar por algum doce no Wallmart.
No entanto, naquele dia, seus motivos eram mais nobres do que simples capricho infantil: ou o irmão acordava ou atrasaria toda a rotina e teriam de correr, o que provavelmente acabaria com o café da manhã. Além do mais, caso Damien continuasse se rendendo à preguiça, não teria tempo de trançar os cabelos de Lucy como Catherine fazia todas as manhãs.
A garotinha se arrumava praticamente sozinha. Se tornou muito independente nos últimos dois anos, aliás, os dois se tornaram. Foram obrigado a abrir mão de muitas coisas para se manterem unidos depois do que aconteceu. Apesar disso, sempre que Lucy tentava trançar os próprios cabelos castanhos, acabava os embaraçando.
— Damien! — ela usou de uma severidade cômica e puxou com mais força a mexa tingida do irmão que, enfim, fez menção a abrir os olhos preguiçosos e um tanto mal humorados diante aquela forma nada sutil de despertar.
O sol fez com que Damien demorasse para conseguir enxergar perfeitamente, pois suas vistas estavam desacostumadas com toda a claridade que adentrava o quarto.
Geralmente ele acordava com o despertador, as seis da manhã, mas naquele dia, seu celular decidiu que não tocaria "You are my Sunshine" e ele ficou adormecido até as sete horas – o que verificou ao pegar o aparelho e fitar a tela para saber quanto tempo tinha para começar a rotina.
Para Damien, acordar as sete horas representava que teriam de se contentar com o cereal matinal ao invés das panquecas tradicionais, as torradas ou os ovos com bacon que ele ainda estava se acostumando a preparar para manter a tradição deixada por Greg.
Seu pai, Gregory Collins, possuía um restaurante ao sul de Greenville. A cozinha sempre foi dele, de forma que Catherine nunca se empenhou muito em aprender a preparar refeições.
A mãe de Damien e Lucy era um verdadeiro desastre quando o assunto era cozinhar, no entanto, se você se sentisse mal, a Doutora Collins (principal médica do hospital da cidade) saberia perfeitamente o que fazer.
Era uma faca de dois gumes, Damien pensava naquela época, pois ser filho de uma médica o poupava de visitas a consultórios quando algum mal estar infantil o fazia não querer abandonar sua cama. Ao mesmo tempo, ele sempre acabaria desmentido, caso tentasse fingir uma dor de barriga para faltar à aula de matemática.
Às vezes o garoto se sentia mal, pois Lucy nunca pode aproveitar estas coisas tanto quanto ele.
— Eu sei! Estou atrasado. — Damien disse se espreguiçando. Faltava vontade de levantar diante a letargia comum para uma manhã de segunda-feira.
— Você precisa arrumar meu cabelo!
O rapaz teve que aprender todas aquelas coisas em pouco tempo. Arrumar os cabelos de Lucy no início era tão difícil como resolver um cubo mágico, no entanto, o costume fez da situação algo rotineiro e até mesmo simples. Bastava repartir as mechas castanhas e ordena-las da forma certa.
— Vá pegar a escova de cabelo e deixe seu coelho no quarto, ele não pode acompanha-la até a escola. — Damien disse pouco antes de Lucy sair correndo pelo corredor que abrigava as portas para os três quartos da casa:
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Coração de Porcelana.
RomansaQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...