Coração de Porcelana.

XXXV: Um Conto da Geração Perdida

Henry só queria que Joan conseguisse um táxi antes de Charles conseguir chegar até eles, mas isso foi impossível, bastou alguns momentos para que o rapaz se aproximasse, trazendo uma tensão terrível, ao menos para Joan e Henry, já que Damien ainda estava ali, sem entender nada do que estava acontecendo.

- Se não é Henry, Joan e... Daniel, não é? - a voz grave soava ácida, cheia de ironia. Charles logo demonstrara que suas intenções ali não pareciam ser e os olhos escuros fitavam cada uma das pessoas a qual se dirigia como se fossem nada além de uma piada.

- Na verdade é Damien. - tentou se apresentar, ainda sem saber que se tratava de Charles, mesmo reconhecendo no tom de voz daquele intruso, a vontade quase violenta de se fazer superior.

- Não importa - Charles disse dando de ombros.

- Damien... Esse é... - Henry tentou fazer as apresentações e seguir em frente, não queria ter uma conversa muito prolongada com a pessoa que tinha acabado com sua noite.

- Meu nome é Charles, aposto que o Henry falou bastante de mim! - o rapaz cortou completamente, direcionando-se a Damien com os mesmos ares de desprezo que mantinha desde que se intrometera na noite dos três.

Damien engoliu a seco, contendo aquele ciúmes bobo... Porque Charles era bonito, muito bonito na verdade. Era alto, tinha todos os traços bem desenhados, quase esculpidos por um daqueles artistas incrivelmente precisos. Os fios escuros e longos que iam até a altura do ombro pareciam ter saído de um daqueles comerciais de produtos para cabelo... Charles poderia muito bem estar estampando a capa de algum tipo de revista de moda, e Damien, mesmo que nunca fosse admitir isso, se sentia ameaçado apenas pela presença daquele homem ali e por suas inseguranças quanto o assunto era seu próprio ser.

- Eu não quero falar com você agora! - Henry disse um tanto encolhido, enquanto buscava pela segurança, entrelaçando seus dedos nos de Damien.

- O único jeito de eu conseguir falar com você é descobrindo onde você vai - Charles respondeu, como se não se importasse, quando na verdade estava visivelmente irritado com tudo aquilo - Você mudou seu número de telefone.

Charles sempre fora uma pessoa difícil, um tanto arrogante, mas se estava agindo daquela forma extrema, era porque ainda gostava de Henry, como poderia esquece-lo afinal? Eram amigos de infância, tinham namorado por um bom tempo... Por mais que odiasse os Lockwood, por mais que odiasse o que aquela família fizera com sua vida, não podia simplesmente apagar sentimentos que existiam há muito mais tempo e a foto que Joan postara mais cedo, junto as notícias de Henry tinha continuado sua vida e estava com outra pessoa o deixaram enciumado, e por mais que Charlie soubesse que não tinha direito nenhum de se sentir daquele jeito, era impossível de controlar, não podia simplesmente dizer para si mesmo "fique bem com isso" e seguir em frente.

- Eu não acredito que você me seguiu - Henry disse mais alto, quase em tom de discussão, completamente indignado.

- Eu só quero conversar, eu quero resolver as coisas - ele respondeu - de preferencia sem a presença de terceiros - os olhos de Charles voltaram-se para Damien quando ele disse as últimas palavras.

Henry apenas riu de forma irônica e revirou os olhos em resposta aquelas palavras, quantas vezes tentara resolver as coisas? Mesmo depois de se mudar para Greenville, quantas vezes tentara estabelecer um diálogo? Charles nunca quisera conversar, nunca quisera resolver nada, por que estava ali agora?

- Não temos muito o que conversar, Charles, eu segui a minha vida e você deveria fazer o mesmo - Henry respondeu, mesmo que houvesse muita coisa a ser dita, mesmo que houvesse uma centena de palavras trancadas em sua garganta, não dedicadas ao seu ex-namorado e sim para aquele que um dia fora seu melhor amigo.