Como prometido, Henry e Damien voltaram a trocar mensagens e se comunicar de forma constante naqueles cinco dias que sucederam aquela estranha madrugada de sábado na casa dos Collins. Não falaram muito sobre o que seria dos dois, as conversas continuavam em um patamar amigável, sem exceder os limites de Damien, sem afetar a relação que estavam construído. Na maior parte do tempo o tema variava entre músicas, filmes, séries, jogos... Uma vez ou outra tocavam em algum assunto mais profundo, mas nunca o discutiam com tanta naturalidade como faziam quando estavam frente a frente, principalmente porque Henry não conseguia se expressar bem em mensagens de texto, por mais que isso fosse paradoxal quando se tratava de alguém que vivia escrevendo.
Henry estava diante a mesa de jantar e ao menos, daquela vez a encenação tinha um tom um pouco mais verdadeiro. Ao que parecia, John e Jennifer haviam reatado mais uma vez depois daquela briga longa e cansativa que levara Henry a sair de casa, isso queria dizer que pela próxima semana, provavelmente haveria uma trégua no meio da confusão dos Lockwood e Henry se sentia bem com isso, quer dizer, sua cabeça precisava de um descanso e já não aguentava mais aquele mesmo problema.
Ele havia passado a tarde organizando os capítulos que já havia escrito de seu livro e revirando os classificados da cidade, decidira que estava na hora de procurar um emprego, não aguentava mais ficar parado o dia inteiro, além do mais, quando morava em Nova York, costumava a conseguir empregos de meio período para ter seu próprio dinheiro, comprar seus livros, roupas e coisas do tipo.
O celular vibrou no seu bolso, e Henry largou os talheres de forma um tanto desajeitada para correr e ler a mensagem que provavelmente vinha de Damien. Antes do jantar, eles falavam sobre as expectativas do mais novo em começar a trabalhar.
"Eu espero que consiga um emprego na biblioteca ou na livraria, eu só imagino você cercado de livros" Damien enviara, fazendo com que Henry abrisse um sorriso largo, era bem provável que acabasse trabalhando no Walmart da cidade, ou então na papelaria onde precisavam de alguém para organizar o estoque, nada bem remunerado e nada que tivesse haver com livros, no entanto, a mensagem de Damien, ainda que simples, parecia ter uma essência diferente, algo que fazia com que ele simplesmente sentisse o coração dar saltos no peito.
- Henry está todo cheio de sorrisos ultimamente, não acha Jenny? - John disse bem humorado, chamando a atenção do filho que se escondia atrás da tela do celular, digitando uma resposta.
"Que droga" o rapaz pensou e guardou o telefone no bolso, enviando o texto incompleto. Precisava disfarçar o mais rápido possível toda aquela felicidade repentina.
- Tem alguma novidade para nós Henry? - a senhora Lockwood tinha aquele jeito de falar de forma casual, tentando ocultar o interesse e a animação diante a alguma situação.
- Não, não tem nada, eu só estava na internet, só isso - Henry deu de ombros, fingindo não se tratar de nenhuma grande situação.
Jennifer riu e trocou olhares com o marido, como se ambos estivessem conspirando, e Henry, bom, a unica coisa que ele podia fazer era revirar os olhos e voltar a refeição, fingindo não estar constrangido e nem desconfortável. Ao menos os dois estavam concordando em alguma coisa, Henry pensou, sem abandonar sua pose irredutível.
- Filho, você disse que o nome do seu amigo era Damien? Por um acaso é Damien Collins? - John chamou mais uma vez a atenção de Henry, que desta vez olhou para o pai um tanto quanto assustado, afinal, por que ele queria saber? Por que comentaram sobre o humor de Henry e em seguida colocaram Damien naquela conversa? Por alguns instantes aquilo lhe trouxe certo espanto, como se os dois pudessem ler sua mente ou alguma coisa do tipo.
- Sim, é ele, por quê? - Henry apenas deu de ombros, fingindo não estar afetado com a pergunta.
- Não, nada, é que... Se lembra quando eu disse que a antiga médica que ocupava o posto no hospital tinha falecido há dois anos, pois então, ela era mãe de Damien - John disse de forma que todos ficaram em silêncio e voltaram os olhares para ele - Christopher, o responsável pela cardiologia, disse que é uma história bem triste, parece que os dois pais morreram e agora o rapaz tem que cuidar da irmã mais nova - John disse aquela última parte se direcionando a Jennifer, a atualizando do que havia descoberto.
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Coração de Porcelana.
RomanceQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...