As férias de primavera chegaram, e aparentemente, todo mundo da idade de Henry havia viajado para algum lugar, não havia nada para fazer ali, e o rapaz compreendia, no entanto, decidira ficar na cidade. Por mais que pretendesse ir para Nova York, a falta de uma companhia apropriada o fizera abandonar os planos para se dedicar a escrita de seu romance, este que enfim, depois de algumas semanas sem a interferência de Charles, aos poucos ia tomando o mesmo ritmo de antes.
O único problema era que desde o início das férias, Damien havia sumido do Green Coffee, e Henry deduziu que ele, como todos os jovens dali, tinha partido para algum tipo de aventura na praia. Embora o jovem escritor, talvez por vergonha após aquela cena estranha que ocorrera enquanto voltavam juntos para suas casas, não tenha se comunicado muito com o outro rapaz, reduzindo as conversas a assuntos impessoais, e na maior parte das vezes, escolhendo ficar em casa ao invés de ir até o centro.
Mas não naquela tarde de sábado, decidira que iria caminhar, não aguentava mais aquelas quatro paredes sufocantes, e além disso, seus pais decidiram dedicar o dia a trocar farpas nada agradáveis, deixando o ambiente pesado demais para que se suportasse ficar lá por muito tempo.
Como quase tudo ali fechava nos fins de semana, era impossível ir até a rua comercial, onde só a mercearia permanecia aberta após o meio-dia, mesmo que fosse um local provinciano, não era seguro caminhar por uma rua deserta, por isso rumara ao único parque que havia ali, este que ocupava um quarteirão, e parecia incrivelmente pequeno, perto do que Henry conhecia, ainda assim era sua melhor opção.
Ele estava mais uma vez munido de sua caneta e bloco de notas, enquanto caminhava pela alameda florida e colorida, no local lotado de famílias. Parecia uma fotografia, tirada por algum fotógrafo demasiadamente otimista, no entanto, a verdade é que aos olhos de Henry aquilo mais parecia uma confusão barulhenta e saturada, onde não havia muito o que se fazer, senão tentar encontrar algum banco vazio onde pudesse se dedicar a sua escrita.
O Hamilton Park, tinha este nome graças ao primeiro secretário do tesouro da história dos Estados Unidos, no entanto, quando lia o nome estampado em uma placa decorativa, Henry apenas conseguia pensar no famoso musical da Broadway que ainda estava em cartaz no Richard Rogers Theatre, e que atraía centenas de pessoas que pareciam dispostas a matar por um dos poucos e caros ingressos à venda. Ao que parecia ele não conseguia se desligar da cidade grande, por mais que quisesse, por vezes, esquece-la, e isso era estranho.
Amava Nova York, gostava da movimentação, sentia falta do lugar onde nascera e crescera, o problema é que haviam pessoas e situações ligadas a cidade, estas que ele adoraria simplesmente poder apagar de sua memória.
Enfim, depois de algum tempo perambulando, Henry conseguiu encontrar um banco vazio para se sentar, ainda que ficasse próximo demais da área onde as crianças brincavam, e isso queria dizer uma coisa:
Barulho e pais entediados cuidando os filhos ao longe.
- Hey, Henry - a voz conhecida chegou a ele no momento em que abriu seu bloco de notas para começar a escrever - Será que eu posso me sentar com você? Não consigo achar outro lugar, e minha irmã está brincando com as outras crianças, então...
- Claro - ele respondeu a Damien, que aparentemente não havia saído para viajar como todos os outros, mas estava ali, cuidando de uma suposta irmã mais nova. Henry ficou surpreso, primeiro, porque não conhecia ninguém da idade de Damien que se dispusesse a levar a irmã ao parque durante o sábado à tarde, e além disso o outro rapaz se quer havia comentado a existência de uma irmã mais nova.
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Coração de Porcelana.
RomantizmQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...