XXXXIII: Through the Trees

1.2K 224 39
                                    

A brisa de verão chegava as copas das árvores, tocando-as gentilmente com um sopro leve. Henry se sentou em meio a todo o silêncio sinfônico da natureza quando acreditou já estar longe o suficiente da civilização caótica. 

Sentia-se emocionalmente exaurido. Sua cabeça doía diante ao choro contido, suas forças pareciam ter partido e ele se tornara um ser minúsculo dentro de si mesmo, sem saber o que fazer.

Escorou as costas em um tronco caído e olhou para cima, tentando desvendar o céu por entre as folhas verdes que o escondia. O sol da tarde estava lá, mas Henry sabia que em algumas horas, ele iria começar a se pôr e até este momento precisaria ter uma decisão em mente: Voltar para casa ou ir até Damien.

Parecia muito fácil, mas a dúvida e o medo ainda estavam lá, haviam muitas coisas práticas, que iam além da questão sentimental naquela dicotomia. Se fosse até Damien, o que fariam depois?

Uma pergunta difícil de se responder assim, pois Henry não sabia o que fazer da própria vida. Passara tantos anos perdido em suas ilusões de realidade e agora tudo parecia atingi-lo e voltar-se contra ele. Suas decisões quanto ao rumo de sua vida já não pareciam tão certas e uma centena de especulações do que poderia ter sido lhe apareciam rápido demais.

Se tivesse escondido seu caderno de anotações.

Se não tivesse anotado nada sobre a viagem para Nova York.

Talvez, conseguiria manter tudo em segredo até que acertasse sua vida, se tornasse independente financeiramente, tivesse um lugar só seu no mundo e não precisasse mais passar por aquele tipo de situação.

Este era o plano original: manter em segredo o máximo de tempo possível, até que pudesse viver sobre suas próprias regras.

Mas agora, não tinha como retornar para isso e não via muitas opções diante de si, o que era irritante, já que todas as grandes possibilidades apareciam no âmbito do passado, sem jamais encontrar uma solução rápida para o futuro.

Henry secou as lágrimas que teimavam em descer por seu rosto, tentava, em vão, expulsa-las de si, tentava encontrar uma saída madura e racional para sua crise pessoal e absurda. Se seus pais conseguissem entender, se eles parassem para ouvir e deixassem a mente aberta para a situação nada daquilo estaria acontecendo, Henry teria a segurança de sua casa e de sua família, não precisaria se preocupar, daria um jeito de seguir sua vida.

Se encolheu um pouco, pode jurar que ouvira alguém chamar seu nome, mas ao olhar para trás para avaliar, não viu nada além dos troncos das árvores e do solo da floresta, não havia nenhum barulho de aproximação, então chegou à conclusão de que se tratava apenas de sua imaginação, lhe mandando um falso aviso.

Voltou a se concentrar nos pensamentos, pois ainda precisava de um bom plano, precisava pensar no que deveria fazer para seguir em frente sem abandonar quem era, pois sabia que por mais que os Lockwood quisessem que ele seguisse os ideais retrógrados que pregavam e acreditavam, era impossível, era uma questão que ia muito além da vontade, muito mais complexa e que não podia ser mudada.

Era nada mais nada menos do que parte dele, parte que não podia ser descartada.

Ouviu o som de alguns gravetos se quebrando, havia mesmo alguém atrás dele, talvez seu pai, querendo arrasta-lo de novo para o inferno da discussão ilógica que estavam tendo, era o que acreditava, até ouvir seu nome ser chamado novamente, neste momento, ele reconheceu a voz mais jovem e grave de Damien.

Se levantou e suspirou pesadamente. Se ele estava ali, procurando por ele, não podia deixa-lo vagando pelo bosque, era perigoso, além do mais, ele podia acabar mudando de rumo e os dois se perderiam por entre todas aquelas arvores que pareciam muito iguais.

Coração de Porcelana.Onde histórias criam vida. Descubra agora