Capítulo 4

7.8K 631 24
                                    

Sofia Rocha

Juro que eu não queria falar com minha mãe daquela forma. Mas as vezes sinto que ela não me entende, não entende a dor que estou sentindo, a dor que acaba comigo todos os dias.
Se ela soubesse um tanto de "se" que passa pela minha cabeça.
E se Hanna não tivesse ido naquela noite.
E se eu deixasse para ir a editora naquela noite.
E se eu tivesse apenas ido ao mercado.
E se... E se... E se...
Agora vivo apenas disso.

Parei meu carro em frente a editora de Pietro, peguei meu casaquinho branco e minha bolsa e desci do carro.
Pensei que tinha perdido o gosto por dirigir, mas não, ainda sou a mesma motorista de antes.
Esse foi a única coisa que não me traumatizou, dirigir.

- Sofia? Meu Deus é você?

Sorri assim que percebi que aquela voz se tratava da voz da Ana Paula, minha amiga de infância.
Quando me virei lá estava ela, com uma caixa em mãos e um sorriso largo.

- Meu Deus! - Ela coloxa a caixa em cima do balcão e me abraçando. - Eu pensei que nunca mais fosse te ver. Como você esta? - Pergunta quando nos afastamos.

- Bem... - murmuro.

- Quando voltou?

- Ontem. Falei com Pietro hoje de manhã, vim conversar.

Ela sorri.

- Seu emprego ainda está aqui, amiga. Não se preocupa! Estávamos com saudade.

✨____✨

- E como você está?

Pietro pergunta me dando uma xícara de café e voltando a sentar em sua cadeira de couro preta.

- Bem. Eu estou bem.

- Sentimos sua falta nesses cinco anos, Sofi. Espero que esse tempo fora tenha feito bem para você.

Não fez.

- Fez sim. Estou novinha em folha... - menti descaradamente.

- Que bom!

Ele sorri de leve, bebe um gole de seu café e então coloca sua xícara sobre a mesa. Faço o mesmo e respiro fundo.

- Eu ainda tenho um emprego? - Pergunto aflita.

- Quando pode voltar?!

- Ai meu Deus, Pietro! - Falo rindo. - Obrigada, muito obrigada!

- Eu disse que quando você voltasse ele ainda estaria aqui - Fala rindo.

E assim começa tudo novamente. Vou voltar a minha rotina o quanto antes, não posso ficar na casa da minha mãe, hoje mesmo vou procurar um apartamento.
Agradeci Pietro umas mil vezes e sai de sua sala, e automaticamente virei a direita, indo para a sala da Ana Paula.
Dei duas batidas e então ouvi sua voz pedindo para entrar, girei a maçaneta e adentrei.

- Sofi!

- Gostaria de continuar almoçando comigo todos os dias? Mesmo depois de cinco anos?

Ana levanta de sua cadeira, caminha até mim e pega minha mãos.

- Com todo o prazer, amiga!

E nos abraçamos, ficando por segundos ou minutos assim. Não sei ao certo, mas abraçar a minha melhor amiga depois de cinco anos, é simplesmente aconchegante.
E ter a Ana na minha vida, agora que quero tentar voltar com minha rotina vai ser essencial, porque eu preciso do apoio de alguém, e ela me entende.

Quando sai da editora, coloquei meu casaco branco e dirigi até o shopping mais próximo, preciso comer algo.
Subi para a praça de alimentação, e fitei o logótipo do McDonalds, meu coração acelerou e a imagem de Hanna veio na minha mente.
Se tinha um restaurante de fest food que Hanna amava, esse era o McDonalds. Lembro que ela, mesmo com dois anos, assim que via o M começava a bater palmas e assim que Lucas e eu entrávamos no restaurante, ela ficava feliz da vida.

Éramos felizes.

Entrei na fila do McDonalds e cruzei os braços, esperando que ela se movimenta-se. Respirei fundo e virei para olhar o movimento da praça de alimentação. Porém meus olhos fitaram o que imaginei que não ia ver tão cedo.
Lucas...
Minha respiração ofegou, o cabelo que antes era cortado e desgrenhado que o deixava lindo, agora está grande. Ele está usando uma camiseta preta e uma calça jeans clara.  Lucas está falando com um menininho, ele parece ter dois ou três anos, uma miniatura...
Arrumo minha bolsa em meu ombro e saio da fila, indo para o elevador e quando entro, aperto o botão do estacionamento.
Corro para meu carro assim que chego no estacionamento, jogo minha bolsa no banco do carona e coloco a chave na ignição e dou partida.

Ele refez a vida dele. Tem um filho, e com certeza tem uma mulher. E eu não o culpo, não o culpo por ter refeito sua vida, não o culpo por ter tido mais um filho.
Eu o deixei.
O deixei mesmo o amando.
E agora? Eu ainda o amo, mas depois de tudo, depois de tudo o que perdemos, sinto que não sou digna de tê-lo ao meu lado.
Limpo minhas lágrimas quando paro o carro no sinal vermelho, fecho as janelas e respiro fundo.

- Está tudo bem, Sofia... Ele está feliz, era isso que você queria... - sussuro para mim.

Entro em casa e sem que eu perceba meu olhar vai diretamente para o porta-retrato que vi ontem, porém ele não está mais lá, agora tem um vaso pequenino com algumas flores brancas.
Coloquei minha bolsa no sofá e sentei, afundando meu rosto em minhas mãos.
Ainda não acredito que o vi, que vi meu ex-marido depois de cinco anos.
O meu Lucas...

- Querida? Que horas chegou? - Mamãe pergunta saindo da cozinha, me fazendo levanta a cabeça e encarar ela.

- Cheguei agora!

- Está tudo bem? - ela me olha bem e senta ao meu lado. - Estava chorando?

- Eu vi o Lucas...

Ela arregala olhos, e então pega minhas mãos selando seus lábios nas costas delas.

- Ele estava no shopping. Estava com um garotinho... A senhora tem falado com ele?

- Não. A única vez que eu o vi foi no cemitério... Eu fui visitar a Hanna e o Teo e o vi sentado no chão próximo ao túmulo.

Uma lágrima foge de meus olhos, me fazendo limpa-lá rapidamente.

- E nunca mais soube dele?

Mamãe respira fundo.

- Maria tem falado com ele. E pelo o que ela disse ele... ele teve um filho!

Abaixo minha cabeça, por mais que eu tente, eu não consigo parar de sentir raiva, ou inveja.
Ele teve um filho...

- Sofia...

- Eu não o culpo por ter feito isso, mas...

- ... dói.

- Muito!

- Ah, filha!

Mamãe me puxa e me envolve em seu abraço, acariciando meu cabelo enquanto minhas lágrimas saiem desenfreadas, me fazendo soluçar.
A única coisa que eu quero é a minha vida de volta...
Eu quero ser feliz novamente.

De Volta ao Passado - Completo - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora