Se você já teve um dia ruim, aposto que o meu está sendo pior. E eu não sou nem um pouco dramática. Todas as vezes que começo a me animar e pensar "ok, tudo bem, não é tão ruim assim..." fica ruim assim.
Todo mundo já teve dias ruins, eu sei. Não é como se eu fosse privilegiada – se é que posso colocar dessa forma. É mais como... como um combo. Tudo acontece em sequência, rapidamente, como se alguém tivesse me lançando desafios a serem concluídos em muito pouco tempo, ou se não, estarei ferrada.
E eu não sou nenhuma atleta. Me sinto ferrada.
Acordei e achei apenas o bilhete de Louise dizendo que, assim, sem mais nem menos, estaria passando duas semanas fora. Louise, mesmo com toda sua imprevisibilidade, ainda consegue me surpreender. Aceitei passar quinze dias sozinha, deixando Louise do outro lado da cidade com Tate – o namorado – e levantei como em qualquer outro dia.
Aí encontrei o armário vazio.
Segunda-feira, acordo num apartamento vazio e sem comida. Relembro o domingo e o motivo de não ter ido até o supermercado fazer a compra da semana: o carro está sem gasolina, pois o dinheiro para o combustível foi usado para a cirurgia de emergência de Lola, nossa gatinha de estimação.
Lola ainda está em observação no veterinário, por isso não a senti enroscando-se entre minhas pernas.
Mas, tudo bem – pensei. Respirei fundo, me arrumei para o trabalho com um pouco menos de animação do que nos dias anteriores, e desci as escadas do prédio até o Hall onde ficam estacionadas as bicicletas. As bicicletas usadas pelos moradores do prédio, lógico, mas a minha estava lá, mesmo que eu não a usasse. Era o lugar dela. Só que ninguém lembrou de me avisar que os pneus de bicicletas tendem a murchar depois de muito tempo sem atividade.
Ir a pé até o trabalho sendo chicoteada pelo frio de Minessota é praticamente impossível. Cacei uma bomba para encher os pneus da minha bicicleta velha e achei uma no depósito do prédio, a qual Jimmy, o porteiro, gentilmente me deixou usar. Demorei um pouco até pegar o jeito e encontrar a força suficiente para fazer útil meu meio de transporte, mas consegui, enfim. Foi a primeira coisa que finalmente deu certo no meu dia, e não era nem dez da manhã.
Agora são duas da tarde e eu acabo de derramar meu copo de café inteiro em cima do livro que estava lendo – o volume definitivo de O Guia do Mochileiro das Galáxias. Eu estava relendo, mas o valor sentimental do exemplar era maior do que as memórias da leitura.
— Desse jeito você não vai só deixar seu dia pior, mas o de todo mundo — Dimitri balança a cabeça lentamente de um lado para o outro, me reprovando.
Quero semicerrar os olhos para ele, jogar nosso joguinho de sarcástico, mas não consigo pensar em nenhum comentário inteligente. Só quero choramingar pelo meu livro.
— Não dá para salvar... — falo, mais para mim mesmo.
Dimitri arrasta o que restou do livro pelo balcão e o coloca de lado. Não quero pensar que ele o jogou na latinha de lixo ali ao lado, então foco em seus enormes olhos castanhos que me encaram pedindo atenção.
— Esqueça o livro. Temos milhares aqui para você escolher a próxima leitura — ele olha ao redor, mesmo estando óbvio. — Vamos escolher o filme de hoje.
— Ah! — bato uma palma. — A Felicidade Não Se Compra, por favor, por favor. Estamos perto do natal... é tradição.
— Qualquer coisinha é um motivo para você apontar esse filme. Eu gosto do Jimmy Stewart, mas se fosse assistir um filme dele hoje seria Janela Indiscreta.
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...