— Me espera!
— Anda mais rápido!
— Eu estou indo rápido, mas suas pernas são grandes, olha o tamanho das minhas!
Henry para e vira-se para mim, fitando apenas minhas pernas. Olho para seu rosto e não consigo prender o riso. Está engraçado demais. Henry vê que estou rindo e me olha desconfiado, mas depois volta às pernas:
— Qual o problema delas? — pergunta ele quase sem movimentar os lábios.
— São minúsculas. — Consigo chegar perto dele, ofegando. — Nunca vão alcançar o seu passo.
Henry resmunga alguma coisa e volta a andar, mais devagar dessa vez. Eu agradeço mentalmente. Dois minutos depois, ele diz:
— Estou me arrependendo cada vez mais das decisões que tomo na vida.
— É, — digo — não sei se todas as suas últimas decisões são dignas de aplauso, mas eu apoio tudo o que está acontecendo no seu rosto.
Henry me fita com desdém.
— Adoro você.
— Eu sei.
— Essa máscara pelo menos vai me deixar com a pele mais macia, 100% hidratada?
— Garanto, pode acreditar em mim.
Henry levanta as bochechas satisfeito e uma rachadura aparece na máscara.
Eis o que está acontecendo: são cinco horas da manhã, o céu não está mais tão escuro quanto no auge da madrugada, mas o sol ainda não levantou-se completamente. Há um grupo de pássaros piando aqui ou ali, mas não há som de pessoas na rua como haveria às nove da manhã, por exemplo. É por isso que Henry e eu estamos na rua nesse exato momento, indo para a loja. Para o meu trabalho, aquele que eu só começo a exercer às oito da manhã. E mesmo assim Henry me convenceu de que é uma boa ideia sair de casa às cinco horas, porque, bem, é mais seguro estar na rua no fim da madrugada se você não quer ser visto. E sobre o rosto de Henry... mesmo com toda a população de Minnesota dormindo a essa hora da manhã, nunca está 100% seguro – segundo ele –, então, um pouco que como castigo por ter me feito acordar às quatro da manhã, eu o disse que colocasse no rosto uma máscara facial hidratante, daquelas pretas que grudam como cola e nos tiram a capacidade de mover um músculo sequer.
É por isso que ele está falando entredentes: para manter a máscara no rosto e não ser identificado. Com a ajuda de um casaco com capuz que eu lhe emprestei, Henry pode ser visto por duzentas fãs enlouquecidas e com as cordas vocais afiadas, mas nunca será reconhecido.
Assim eu espero.
Nunca enfrentei um ataque de fãs, repórteres ou qualquer outra pessoa, na verdade, e não estou preparada.
— Onde está sua bicicleta mesmo? — Quer saber Henry, e eu demoro um pouco para entender.
— Está na loja. A última vez que eu vim para casa, você estava comigo, por isso não a trouxe.
— Na volta, vou guiar a bicicleta e você vem na garupa.
— De jeito nenhum!
Henry para novamente e se vira para mim com o corpo inteiro. É o rosto que está duro, mas ele acha que é proibido mexer o pescoço também, por isso parece um robô ao se virar.
Eu estou adorando isso. Há um limite até onde posso segurar o riso, e Henry movendo o corpo inteiro em um só movimento só para me olhar é ridículo. Tento prender, mas meus lábios se rasgam em uma risada espalhafatosa. A expressão poker face de Henry consegue me fazer querer explodir em gargalhadas mais ainda, por isso estou roncando risadas pela rua, acordando bebês e assustando pássaros.
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Henry Smythe I & II
Ficção AdolescenteMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...