T2 - Capítulo 6

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Tecnicamente, Henry e eu moramos juntos, em Londres, há um ano. É engraçado, porque quando se tem uma agenda tão agitada, e cada um tem tipos de compromissos diferentes, em lugares distantes e por períodos de tempo diferentes, é complicado realmente passar algum tempo junto. Mesmo dividindo o mesmo endereço. Sei que Henry e eu moramos juntos porque, quando volto de viagem durante a divulgação de um lançamento de livro, etc., eu vejo seus vestígios pelos cômodos, e bilhetes pelos cantos mais inusitados.

Essa falta de convivência faz com que estejamos a um nível abaixo daquele em que os casais que já moram juntos estão. Então, eu ainda encontro pequenas coisas inéditas sobre Henry, como se ainda estivesse o conhecendo pouco a pouco.

Por exemplo, eu nunca vi Henry com ciúmes.

— Eu não estou com ciúmes — insiste ele, se aninhando ao meu lado na cama, fingindo ler o final do livro III da série Os Brightons.

A saga dos irmãos Brightons será adaptada para a tevê em breve, e Henry está confirmado no elenco. Embora as filmagens só comecem daqui alguns meses, ele está dando conta de ler todos os sete romances antes, para preparação de personagem, etc.

E eu sei que ele está fingindo ler porque há mais de dez minutos não vira uma página.

Pauso o filme no notebook. É "The Awful Truth", de 1937, com Cary Grant.

— E eu queria ver esse filme com você — diz ele.

— Já vimos esse filme juntos.

— Faz tempo.

— Tá bem, vou colocar na tevê.

— Sabe — Henry fecha o livro e o coloca de lado — às vezes eu prefiro o Cary Grant ao Jimmy Stewart.

Giro o pescoço quase 180° para ele.

— O quê?

— Ah, você sabe... o Cary tem essa pose de malandro. Ele sempre sabe se safar das coisas, ele é esperto. O Jimmy é sempre o bonzinho... bonzinho demais.

— Ah, meu Deus.

Eu sei de onde isso tudo está saindo.

Hoje, mais cedo, eu disse a Henry que não tinha por quê ter ciúmes de Tommy. Eles irão se dar bem, Tommy é um cara "bonzinho". A nice guy.

Você nunca falou nada do Jimmy antes. De onde isso saiu? – Jogo verde com a pergunta.

Henry está incrivelmente sério. As sobrancelhas baixas, enrugando sua testa antes lisa, e os braços cruzados em frente ao peito.

— Ah, foi só uma coisa que percebi... os caras bonzinhos enchem o saco de vez em quando.

Solto uma risada pelo nariz.

— Você sempre interpreta o cara bonzinho.

Henry me fita sem piscar por alguns segundos.

— E você é um cara "bonzinho".

— Bem, talvez eu mude isso.

Deixo escapar uma gargalhada e volto para o meu lugar de antes, ao lado de Henry. O notebook fica esquecido na ponta da cama.

— Sério? Henry, por favor.

Meu celular, sabendo a hora exata para criar tensão, começa a vibrar no criado-mudo do meu lado da cama.

— Sério! E mal saímos de férias e você já está cheia de bandeirinhas vermelhas. E nem são de pessoas que deveriam ser — reclama ele, mas eu não consigo me manter séria.

Henry Smythe I & IIOnde histórias criam vida. Descubra agora