Tecnicamente, Henry e eu moramos juntos, em Londres, há um ano. É engraçado, porque quando se tem uma agenda tão agitada, e cada um tem tipos de compromissos diferentes, em lugares distantes e por períodos de tempo diferentes, é complicado realmente passar algum tempo junto. Mesmo dividindo o mesmo endereço. Sei que Henry e eu moramos juntos porque, quando volto de viagem durante a divulgação de um lançamento de livro, etc., eu vejo seus vestígios pelos cômodos, e bilhetes pelos cantos mais inusitados.
Essa falta de convivência faz com que estejamos a um nível abaixo daquele em que os casais que já moram juntos estão. Então, eu ainda encontro pequenas coisas inéditas sobre Henry, como se ainda estivesse o conhecendo pouco a pouco.
Por exemplo, eu nunca vi Henry com ciúmes.
— Eu não estou com ciúmes — insiste ele, se aninhando ao meu lado na cama, fingindo ler o final do livro III da série Os Brightons.
A saga dos irmãos Brightons será adaptada para a tevê em breve, e Henry está confirmado no elenco. Embora as filmagens só comecem daqui alguns meses, ele está dando conta de ler todos os sete romances antes, para preparação de personagem, etc.
E eu sei que ele está fingindo ler porque há mais de dez minutos não vira uma página.
Pauso o filme no notebook. É "The Awful Truth", de 1937, com Cary Grant.
— E eu queria ver esse filme com você — diz ele.
— Já vimos esse filme juntos.
— Faz tempo.
— Tá bem, vou colocar na tevê.
— Sabe — Henry fecha o livro e o coloca de lado — às vezes eu prefiro o Cary Grant ao Jimmy Stewart.
Giro o pescoço quase 180° para ele.
— O quê?
— Ah, você sabe... o Cary tem essa pose de malandro. Ele sempre sabe se safar das coisas, ele é esperto. O Jimmy é sempre o bonzinho... bonzinho demais.
— Ah, meu Deus.
Eu sei de onde isso tudo está saindo.
Hoje, mais cedo, eu disse a Henry que não tinha por quê ter ciúmes de Tommy. Eles irão se dar bem, Tommy é um cara "bonzinho". A nice guy.
— Você nunca falou nada do Jimmy antes. De onde isso saiu? – Jogo verde com a pergunta.
Henry está incrivelmente sério. As sobrancelhas baixas, enrugando sua testa antes lisa, e os braços cruzados em frente ao peito.
— Ah, foi só uma coisa que percebi... os caras bonzinhos enchem o saco de vez em quando.
Solto uma risada pelo nariz.
— Você sempre interpreta o cara bonzinho.
Henry me fita sem piscar por alguns segundos.
— E você é um cara "bonzinho".
— Bem, talvez eu mude isso.
Deixo escapar uma gargalhada e volto para o meu lugar de antes, ao lado de Henry. O notebook fica esquecido na ponta da cama.
— Sério? Henry, por favor.
Meu celular, sabendo a hora exata para criar tensão, começa a vibrar no criado-mudo do meu lado da cama.
— Sério! E mal saímos de férias e você já está cheia de bandeirinhas vermelhas. E nem são de pessoas que deveriam ser — reclama ele, mas eu não consigo me manter séria.
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...