Anos atrás, antes mesmo de conhecer Henry, se alguém tivesse me mandado jogar uma moeda na Fonte dos Desejos e fazer um pedido, eu com certeza iria desejar estar em Roma com alguma pessoa especial, visitando os lugares em que Audrey Hepburn gravou A Princesa e o Plebeu mais de sessenta anos atrás. Claro que esse seria meu pedido número um. Pensar que ele seria realizado? Hum, não, eu não pensava.
Minha vida estava tão estagnada, que eu jamais pensei que sairia de Minnesota, da lojinha de Karen, debaixo das asas da minha irmã e do colo do meu melhor amigo. E, a propósito, minha vida era tão limitada anos atrás, que eu pensaria em Dimi como sendo a pessoa especial para me acompanhar numa viagem a Roma.
Mas não estou reclamando de Henry. Longe disso!
Depois de almoçarmos pizza numa das Pizzerias da Piazza Navona, Henry e eu continuamos turistando com a ajuda das minhas pesquisas turísticas online, por ali ao redor da Piazza mesmo. O tanto que há para se ver, parar e observar no centro histórico de Roma é inimaginável, então acabamos preenchendo uma tarde inteira e o comecinho de noite pelas ruas da cidade. Foi gostoso, histórico e romântico. Não há como não ser.
Na hora do jantar, não vamos muito longe. Ristorante Santa Lucia, algumas ruas saindo do centro da Piazza. À noite, o lugar está espetacular. É difícil achar uma localidade na cidade que não seja encantadora, principalmente banhada de luzes amarelas e toalhas de mesa vermelhas. Mesmo não estando apaixonado, é possível se apaixonar em Roma. Por qualquer coisa. Pelas ruas, pelo clima, pela comida, pela história do lugar.
Bom que eu já esteja apaixonada, ou se não viveria uma louca história de amor intenso por aqui, com um desconhecido ou um prato de comida. Eu poderia me apaixonar por comida.
— Você sabia — diz Henry, ao nos sentarmos em uma das mesinhas ao ar livre do restaurante — que esse foi o restaurante em que Julia Roberts gravou Comer, Rezar e Amar?
— Ainda não vi esse filme — confesso.
Henry parece genuinamente decepcionado.
— Você é ótima e péssima com filmes, tudo ao mesmo tempo — ataca ele.
Minha resposta é abrir e fechar a boca diversas vezes sem conseguir reproduzir uma palavra sequer.
— Que rude — digo depois de provavelmente tempo demais.
Henry ri. Henry Smythe ri à minha frente, iluminado pela luz amarelada dos postes de Roma, e eu me sinto num sonho.
Em A Princesa e o Plebeu, tudo está em preto e branco. Quando eu assisto, consigo imaginar a luz das cenas e o colorido das ruas, o efeito que a luz do sol tem nas pessoas na cena da Piazza di Spagna, e tudo isso, mas eu não sabia como era, até agora. Até ver Henry sorrir para mim e ouvir o som da ficha caindo. Eu estou aqui. Estou aqui, na cidade que figura em meus sonhos há anos, com a pessoa que me ajudou a realiza-los, e com o sorriso mais bonito que já vi assim tão de perto.
Não me importo com protocolos, com educação ou com pessoas encarando. Apoio as duas mãos na mesa e me inclino para beijar o sorriso de Henry Smythe. Um pouco para provar que isso é real, como um beliscão, e um pouco porque é irresistível a vontade de toma-lo como meu. O sorriso de Henry Smythe é meu. Isso eu gostaria de ter posse.
Ele me beija em resposta e continua sorrindo – até ainda mais – quando volto ao meu assento, contaminada pela paixão que emana em Roma.
— Ti amo, amore mio. Ti ameró per tutta la mia vita.
Lá vêm os arrepios de novo.
E eu nem sei o que significa.
— "Eu te amo, meu amor. Te amarei por toda minha vida"— traduz Henry, gentilmente.
Ai, meu Deus. Em italiano ou em qualquer outra língua, essa é a primeira vez que Henry me diz algo desse tipo.
Talvez meus olhos se encham de água pela carga romântica que têm as palavras em outro idioma, ou talvez seja só pelas palavras.
— Você vai ter que me chamar de Amore Mio para sempre a partir de hoje.
— Sem problemas — Henry dá um tapinha na mesa com a ponta dos dedos.
— Je t'aime — digo, em algumas das únicas palavras que conheço em outro idioma, praticamente.
— Francês? Ainda não estamos bem lá...
— Não me importo — digo. — Estou ensaiando.
Henry aperta meus dedos e morde o lábio dentro de um sorriso.
— É nessas horas que eu queria estar no hotel, sabe... — solto um suspiro sofrido.
Sinto os pés de Henry roçar nos meus debaixo da mesa, e subir um pouco até o tornozelo, e um pouco mais...
— Sério, Henry... eu saio daqui e te deixo sozinho.
— E o que você faria sozinha no hotel? —Ele umedece os lábios após a pergunta, e me torna incapaz de responder.
O garçom chega com nossos pratos nesse exato momento, e parte de mim comemora. Outra parte queria muito continuar o joguinho com Henry.
Que bom que temos o resto das férias para joguinhos em quarto de hotel e brincar com pés por debaixo da mesa.
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Ah, o amor... <3
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...