XXI

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— Mas antes, vou pedir um milk-shake — anuncia Henry.

— Sério? Você alimenta uma lombriga na barriga?

A meio caminho entre levantar-se e permanecer sentado, Henry paralisa, olha para mim como se pensasse seriamente na minha pergunta, e diz:

— Provavelmente, sim. Não. Muito provavelmente.

Abro um sorrisão e o observo ir até o balcão fazer o pedido. O vejo levantando dois dedos para a atendente. Dois milk-shakes. Meu estômago está estufado, mas quando penso em sobremesa, ele empurra toda a comida para um lado e abre espaço para os doces.

Henry volta caminhando rapidamente e se joga na cadeira à minha frente.

— Pronto. Estou preparado para sua história. Vamos, Sabrina Christine Holland, eu não sei praticamente nada sobre você e você sabe tudo sobre minha vida. Não é justo. Então, pode começar. Conte tudo. Detalhes insignificantes, histórias sem pé nem cabeça... tudo.

Respiro fundo e deixo todo o ar do pulmão sair.

Eu falo sério quando digo a Henry que não tenho uma história tão interessante quanto a dele, e por isso não sei organizar meus pensamentos para começar a contar tudo. Nem sei o que tudo significa.

— Pronto? Aqui está para você a História Mais sem Graça de Todos os Tempos!

Ignoro um revirar de olhos de Henry e começo a falar:

— Conheci Dimitri há quatro anos, quando conheci também sua namorada na época, Jenni, que se tornou minha melhor amiga em questão de dias. Acho que, a essa altura, não é difícil acreditar que sou uma pessoa fácil de confiar nos outros, né...

Henry ergue ambas as sobrancelhas e levanta as mãos com as palmas para cima, como quem diz "culpado".

— Nem sempre isso foi uma qualidade — continuo: — nossa, eu diria que 90% das vezes isso foi um defeito – mas é assim que acontece, enfim. Jenni e eu estudávamos juntas, e logo no dia em que a conheci ela me apresentou Dimitri, seu namorado. Ele era um garoto franzino, alto demais, desajeitado e com o cabelo encaracolado voando para todos os lados.

— Não mudou muito — comenta Henry.

Solto uma risada nasalada.

— Pois é... não liguei muito para ele, mas quanto mais passava tempo com Jenni, mais passava tempo com Dimi, e em algumas ocasiões, com outros amigos de Jenni e outros amigos de Dimi. Fui conhecendo os amigos dos amigos dos amigos deles, sabe? E com isso chegamos a Tommy, que era irmão de Julia, uma das amigas de Jenni.

Henry franze as sobrancelhas, parecendo genuinamente confuso, e eu abano a mão para que ele só ouça; os amigos dos amigos não têm importância.

— Eu e Tommy nos demos bem instantaneamente. Conversávamos sobre tudo, criamos piadas internas que só nós dois intendíamos, assistíamos a filmes "juntos" – ele no computador dele, eu no meu, nós dois segurando uma ligação telefônica – etc., etc. O problema é que Dimi e Jenni terminaram o relacionamento pouco tempo depois de Tommy se aproximar do nosso grupo. Aí eu passei por aquele terrível teste de amizade: quando um casal de amigos se separa, com quem você continua a amizade? Eu adorava Jenni, mas não queria me afastar de Dimi, então tentei ser a boa amiga que permanece em cima do muro e continuei falando e saindo com os dois.

Henry espreme o rosto numa careta, mas eu continuo falando empolgada:

— ...Mas me vi saindo bem mais com Dimi, pois Jenni estava estudando para a faculdade de Medicina, e embora Tommy e Dimitri não fossem melhores amigos, Tommy sempre estava lá. Onde eu estava, ele estava. Até que passamos tempo demais no telefone uma noite, e no dia seguinte ele me chamou para um encontro. Eu fui – foi o dia mais estressante da minha vida sem saber se um encontro era o que eu realmente estava pensando ou se era só mais uma coisa de amigos – e no final, sabe... acabamos nos beijando. E no dia seguinte tivemos outro encontro, e nos finais de semana combinávamos de ir ao cinema, ou a mais e mais encontros. Até que estávamos namorando sem nunca ter havido um pedido oficial. Éramos tão próximos que transgredimos de amigos para namorados em um piscar de olhos e sequer notamos a evolução.

Henry Smythe I & IIOnde histórias criam vida. Descubra agora