Henry e eu passamos o final da noite parisiense num pub no centro da cidade. O pôr do sol em Paris no verão acontece apenas após as nove horas da noite, então ainda estava consideravelmente claro quando terminei minha taça de vinho — me desfiz das contas de quantas foram na noite. A música não estava alta as pessoas mais calmas do que os jovens agitados nos pubs de Londres ou nos bares de Nova Iorque.
Henry não bebeu mais do que outro copo interminável de cerveja. É um acordo silencioso entre nós dois: quando um exagera um pouco na bebida, o outro está lá o mais sóbrio possível para o fim da noite.
Caminhamos para o hotel lado a lado, com o sol se pondo à nossa frente e a cada minuto mais escuro, mais pessoas alegres aparecendo nas ruas. Do ponto de vista de uma pessoa sóbria, eu com certeza era um desses pontinhos felizes e saltitantes cambaleando pela rua. Não pude evitar. Notícias boas e ideias frescas na mente sempre me dão vontade de ignorar meu lado responsável.
E, inevitavelmente, é difícil ignorar a ressaca que me bate na manhã seguinte, principalmente quando o sol se derrama para dentro do quarto, acertando meu rosto, e depois todo o corpo em cheio. Parece que estou queimando.
Levanto-me, grunhindo e resmungando. Henry, sorridente e já de banho tomado, aparece ao meu lado. É a perfeita imagem do bom humor, algo raro de se encontrar pela manhã em qualquer lugar do mundo.
Quando lhe digo isso, ele rebate:
— É, mas a manhã praticamente já acabou. — Ele tem coragem de se inclinar e me beijar nos lábios. Bocejo três vezes seguidas e me espreguiço, tentando livrar meu corpo da mazela da ressaca, mas me jogo (ou sou praticamente puxada por magnetismo) na cama com preguiça.
— Vamos. Tem almoço nos esperando lá embaixo, e uma programação especial para o dia.
– Vamos ficar aqui, só nós dois. Temos a vida inteira pra explorar Paris e Londres e Roma – digo, me esparramando ainda mais na cama, o olhar sonhador fixado em Henry e um sorriso aberto.
Mas Henry me olha com o cenho franzido, e embora esteja sorrindo também, parece um pouco forçado.
– O que foi?
– Não gosto muito dessa ideia de termos a vida inteira.
– Não? – Me ajeito na cama, deixando a posição brincalhona de lado. Sento-me de pernas cruzadas em frente a Henry. Minha cara com certeza está inchada de sono e meu cabelo reflete a bagunça dentro de mim, mas não me importo. – Não é bom pensar que temos bastante tempo? Pra fazer tudo isso de novo?
– É... mas nunca é verdade, é?
– Esse é um pensamento bem pessimista...
Henry suspira, e passa a mão pelo meu braço.
– Ora, vamos, não quero te deixar pra baixo hoje.
– Não vai. – Paro sua mão e a seguro na minha, entrelaçando nossos dedos. Eu adoro que a mão de Henry é muito maior que a minha e me aquece instantaneamente. – Eu gosto de saber como você pensa. Me diz.
Ele aperta meus dedos, depois solta, mas continuo com sua mão na minha.
– Tá. Pensa.
Fecho os olhos e permaneço apenas ouvindo Henry e deixando que suas palavras formem imagens na minha mente.
– Imagina que você vai num pub uma noite e é a melhor noite daquela semana, do mês, do ano! Sua melhor amiga do colégio estava lá...
– Julie Andrews! – Me empolgo, e abro os olhos.
– Quê?
– O nome dela era Julie Andrews! Como a atriz mesmo. A gente passava horas assistindo Mary Poppins, A Noviça Rebelde...
– Hum. Eu acredito. Isso não podia ser mais a sua cara. — Henry revira os olhos e recebe de mim um empurrãozinho no ombro. — Tá, você está lá com Julie Andrews, sua amiga, não a atriz...
Henry faz sinal e eu volto a abaixar as pálpebras, ouvindo agora com mais atenção, imaginando Julie no pub comigo.
– Vocês se divertem demais. E você não vê Julie por mais um ano...
– Aiii. Eu estou mesmo com saudades. – Lamento.
– Brina...
– Tá, desculpa. Continua.
– Um ano depois, vocês planejam uma noite igualzinha àquela. E Julie aparece. Mas ela está grávida e sem poder beber. Além disso, hum, Paul, o recém noivo dela — sei lá — vai junto. Chove muito nesse dia também, e seu Uber cancela três vezes, você fica exausta, bebeu demais e está com dor de cabeça da ressaca do vinho. A noite era para ser igual a outra, e poderia ter sido, mas a vida nunca está exatamente igual.
Permaneço de olhos fechados, não porque acho que terá mais algum desenrolar para a história, mas porque é bom pensar estando assim. Parece que há uma cortina na minha frente e ninguém pode me ver demostrar emoções.
– É... nunca tinha pensado assim.
– Não dá para voltar e ter as mesmas coisas, nas mesmas circunstâncias, Brina. Bem que eu queria, às vezes, mas a vida não se repete. A gente tem que aproveitar o aqui e agora.
Abro os olhos devagar e mantenho o olhar fixo nas mãos de Henry sobre as minhas. Depois de um tempo, pergunto:
– Pra onde você iria? Que dia você viveria de novo, exatamente igual?
— Eu não sei... é difícil pensar em um só dia. Talvez algum dia em que eu estava muito feliz por algo idiota, na infância.
— Em Liverpool?
Henry assente.
Ele fala pouco da época em que morava em Liverpool, na cidade dos Beatles e dos seus avós. Nunca fomos lá, e agora sinto vontade de pular alguns meses no futuro e visitar a cidade, mesmo que a brincadeira aqui seja revisitar um lugar do passado.
— Eu adorava morar perto dos meus avós. A cidade não é a mesma sem eles.
— A gente nunca sabe que tem uma vida perfeita. Na infância, não temos como dar conta disso.
— É. É desse sentimento que é construída a nostalgia. De ter tido algo perfeito e saber que não há mais como voltar.
Liberto minha mão dos dedos longos de Henry e a levo até seu pescoço, para trás, no cabelo que cresceu e começa a enrolar em um cacho perfeito em sua nuca.
— Você tá sentimental hoje.
— É culpa sua. — Ele fala. Seu tom é muito sério, mas logo Henry dá indícios de estar brincando; seu lábio treme. Está prendendo um sorriso.
Solto seus cachos pequenos rente com a nuca dos dedos — tenho a mania de enrolá-los em meu dedo indicador e prendê-los ali até adormecer.
Ele coça a garganta.
— E você? Para onde iria? Que dia você viveria novamente?
Respondo antes mesmo de Henry terminar de formular as perguntas:
— Eu iria para casa.
— Ah. — Ele ergue as sobrancelhas e forma um "o" com os lábios. — Para Minnesota? A casa da sua mãe?
— Não... — Junto as sobrancelhas, minha cabeça pendendo para o lado. — Eu pensei em Londres. O apartamento.
— Você jura? — A voz de Henry é suave. Quase consigo sentir a maciez. Penso em avelã e meu estômago ronca.
— Sim. — Deixo a fome de lado. — É lá que eu penso quando penso na palavra casa. Lar. E é onde eu tenho ótimas memórias. Queria reviver todas.
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parece alucinação mas não é, teve capítulo MESMO.
eu amo vocês não desistam de mim (nem do henry) ♥
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...