Para a alegria de Henry, estamos do lado de fora. As ruas de Roma são estreitas, e quase me sinto sufocada. Mas é verdade o que dizem: a cidade respira história. Para onde quer que andamos, vejo prédios com estrutura histórica e um pedaço do passado bem ali, à minha frente.
Já é quase hora do almoço, e eu posso ouvir, se me concentrar bastante, o estômago de Henry gritando por comida. Ele é algum tipo de compulsivo por alimento, o tempo inteiro pensando na próxima refeição.
— Aguenta um pouco aí, Pequeno Samurai — digo, e dou dois tapinhas no estômago de Henry. — Vamos pelo menos fingir apreciar e entender a arte de Roma.
Henry ri, mas ao final exibe uma careta.
— Não somos sofisticados o suficiente para isso.
O hotel onde estamos hospedados é bem localizado, e está a cinco minutos da Piazza Navona, um dos principais espaços urbanos do centro histórico de Roma. Henry e eu não fizemos questão guia turístico em nenhuma das cidades que visitaremos; preferimos fazer as pesquisas sozinhos para podermos aproveitar o mundo do nosso jeito. Pode não ser o melhor jeito, mas é um jeito único para nós dois.
Mesmo que eu nunca tivesse visto fotos (ou entrado em sites de satélite como o Google Maps), eu saberia que estou na Piazza Navona. É como se estivéssemos respirando depois de muito tempo submersos. A praça é enorme, cercada de prédios altos, mas não como em Nova Iorque. São prédios históricos, intocados há séculos, transformados apenas em restaurantes, pizzarias e sorveterias.
— Você acha que todas essas pessoas aqui são sofisticadas? — pergunto, depois de um tempo parados observando a praça. Não me sinto boba pois isso é o que 90% das pessoas estão fazendo: parados, observando.
— Com certeza, não — responde Henry, e segura minha mão para me tirar do transe.
Começamos a andar pela rua lateral que cerca a praça. Há muitas pessoas aqui hoje, como na quebra de ilusão de todo ponto histórico do mundo. A expectativa de que não haverá ninguém no local, como em fotos de sites de turismo, e a realidade de mal conseguir se movimentar sem a urgência de soltar um palavrão pela lentidão dos turistas ao nosso redor. Há, também – não deixo de notar – muitos pombos.
Henry para em frente à Igreja de Santa Inês (Sant'Agnese in Agone), e meus olhos são atraídos pela Fonte bem em frente ao santuário.
— Fontana di Quattro Fiumi — digo, numa tentativa de falar o italiano perfeito, lendo no celular. — Foi esculpida por Gian Lorenzo Bernini, entre Mil Seiscentos e Quarenta e Oito e Mil Seiscentos e Cinquenta e Um.
— Caramba. — É tudo o que Henry diz.
É. Caramba.
— A fonte representa os quatro principais continentes do mundo cortados por seus principais rios: Rio Nilo, Rio Ganges, Rio da Prata e Rio Danúbio — conto a Henry.
— Você está se saindo uma ótima guia — elogia ele.
Encolho os ombros.
— Vou me candidatar ao emprego.
— Não precisa; por mim, você está contratada.
Sorrio em resposta e enlaço a cintura de Henry com um braço enquanto o outro continua ocupado com o celular e a pesquisa "guia turística".
Na verdade, minha pesquisa turística cai em um site "In Rome Using 'Roman Holiday' as a Guide". A Piazza Navona não faz parte do cenário do filme, mas está bem aos nossos pés. Não poderíamos deixar de vir.
A Fontana di Quatrro Fiumi é um monumento espetacular, e eu poderia tentar, mas nunca conseguiria explicar por exato. É quase como um sentimento. E uma viagem no tempo. 1648. Mais de trezentos anos na história, e aqui estou eu, e aqui está a obra de arte, possivelmente por muitos outros trezentos anos. É a realização de que o que fazemos na vida permanece, muito além da nossa breve existência.
— Vamos comer?
O monstro faminto no estômago de Henry acorda do cochilo e me puxa de volta ao presente, desfazendo a fumaça de reflexão em que eu estava inserida.
— Vamos comer. Qual o menu do dia?
— Pizza?
— Pizza!
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oi! se você chegou até aqui, deixa a estrelinha <3
PS.: Todos os locais retratados nesse capítulo são reais, e para escrevê-los foi preciso MUITA pesquisa. Se vocês pesquisarem para ver, vão conseguir visualizar a cena lindamentchy.
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...