— Que lugar é esse?
Minha pergunta parece boba, mas é a primeira coisa que penso quando atravessamos as portas duplas. Há apenas escuridão à nossa frente, e, mesmo sabendo exatamente o que fazer para andar, meus pés tropeçam um no outro quando tento dar um passo. Perco totalmente minha segurança, e seguro no braço de Henry com ambas as mãos.
— Um restaurante às escuras. E uma boate após a meia-noite.
Solto uma risada comedida, depois me abro totalmente. As caretas que faço à explicação de Henry são livres, sem me preocupar com o que está estampado em meu rosto, pois ninguém pode me ver.
— Onde você acha essas coisas?
— Por aí.
Não sei o que ele fez, sua reação ou seus movimentos. É, no mínimo, curioso conversar com alguém sem olhar para a pessoa diretamente, e saber que ela está aqui, diante dos nossos olhos. Por telefone é diferente, é o que esperamos. Mas sempre que falo, gesticulo com as mãos, e acabo batendo em Henry duas ou três vezes antes de estabelecermos onde estamos exatamente.
O garçom nos guia — como, eu não sei — até uma mesa, e nos sentamos. Meu espanto é enorme quando percebo que há outras pessoas conosco.
— Hã... olá? — digo. Me sinto dentro de um filme de ficção científica, onde as vozes invadem a nave extraterrestre, mas não conseguimos saber de onde vêm.
— Olá! — Uma voz feminina e empolgada me responde, o que desencadeia uma mistura de vozes femininas e masculinas, agitadas e monótonas. Todas falando em inglês, algumas com sotaque francês forte.
Paro de mexer a cabeça tentando seguir as vozes e só ouço. São, no mínimo, quatro.
Quando Henry fala, depois de estabelecermos que não podemos falar mais de duas pessoas por vez, alguém diz:
— Sua voz é familiar.
Ele coça a garganta e tateia meu braço até segurar minha mão.
— Tenho o tipo de voz comum — diz.
— Não acho que seja isso — outra voz. — Eu reconheço sua voz também.
— É só coincidência — Henry é firme na afirmativa. Ninguém mais desconfia que sua voz seja conhecida, e eu aperto sua mão, que está por debaixo da minha.
Se passar por alguém desconhecido, não ser visto... Para mim, é normal. Para Henry Smythe deve ser sempre uma dificuldade. Quando estamos a sós, não penso nele como um ator mundialmente famoso. Às vezes, ainda, ao sairmos na rua, me espanto com flashs de câmeras disparados de detrás de uma árvore, ou alguém o parando para pedir que grave um vídeo para a prima que é a maior fã dele. Não é algo fácil de lidar para mim, que estou de fora. E é fácil esquecer que ele, que é sempre o centro dessas atenções, pode sentir falta de passar despercebido de vez em quando.
Já perguntei a Henry sobre isso.
— Eu gosto dessa atenção, mas não é o tempo inteiro que queria que acontecesse. Mas eu gosto. Sei que, se um dia parar sem que eu queira, não será um bom sinal. — Foi o que ele disse. Assenti, compreensiva, mas parei para pensar sobre isso diversas vezes. E nunca entendi completamente.
O mesmo garçom—percebo pela voz—entrega bebidas na nossa mesa. Com muito cuidado, um a um vai pegando seu copo de cima da mesa redonda. Admiro a organização dessas pessoas e sorrio para ninguém em específico (literalmente não sei quem está à minha frente).
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Henry Smythe I & II
JugendliteraturMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...