Os últimos dias em Roma foram basicamente na cama, na varanda do hotel e ocasionalmente sob o sol da cidade, onde Henry e eu vagamos olhando a paisagem histórica incansável e nos imaginamos vivendo nessa cidade, mas duzentos anos atrás.
Agora já embarcamos no trem para Paris, mas primeiro teremos uma conexão em Milão, e eu adoraria passar um tempo na cidade, mas são só alguns minutos de espera e já estaremos a caminho da cidade francesa, então espero para depois. Quem sabe não consigo convencer Henry a voltar e ficarmos em Roma-Milão por alguns dias! Não sou consumista, mas quando em Roma... ou melhor, em Milão... as compras de roupas se tornam obrigatórias. Mas aqui estamos, prontos para mais de treze horas de viagem até a capital francesa.
— Pena que estamos viajando à noite — diz Henry, sentando-se ao meu lado após guardar as malas pequenas. — De dia você ia ver paisagens lindas.
— Você já fez essa viagem?
— Já fiz Roma-Milão, mas até Paris, não.
— Vamos chegar pela manhã, então veremos alguma coisa ainda.
— Se não estivermos dormindo como dois bebês.
Não posso discordar.
— Bem, é melhor dormir no trem do que de fato na cidade Luz!
— Você sabe por que Paris é chamada de cidade luz? — questiona Henry, e eu me interesso pelo assunto súbito.
— Por causa das luzes da torre Eiffel?
— Não — Henry sorri satisfeito, como se soubesse que eu ia errar, e aponta o dedo indicador direto para meu nariz. — Todo mundo pensa, mas não tem nada a ver com isso.
— E qual o motivo então, sabichão? — Tiro sarro dele, que ergue o queixo, orgulhoso.
— Porque, durante séculos, artistas de todo lugar eram atraídos por Paris como insetos são atraídos pelas lâmpadas. Escritores, pintores, músicos, bailarinos... toda a classe artística se mudou para Paris, que se tornou o maior centro de arte do mundo.
— Eu não tinha ideia — comento, e encosto a testa na janela. Henry está sentado à minha frente. — Mas faz sentido — digo — Paris tem esse ar... artístico.
— Talvez nós devêssemos morar lá — comenta Henry. — Parece apropriado.
Dou uma risada, deixando o corpo escorregar um pouco pelo assento. Meu joelho encosta no de Henry e eu sinto uma pontada. Nunca deixa de ser bom perceber o contato com ele, mesmo que tão superficial.
— Não sei se conseguiria viver um dia sem imaginar como os escritores e pintores e músicos viviam um século atrás. Como naquele filme Meia-Noite em Paris.
— Ah, olha só. Você vê filmes do século vinte e um.
— Foi você quem me mostrou esse filme — lembro, arqueando uma sobrancelha.
— É um ótimo filme. — É tudo o que ele diz, nada modesto. Henry sempre se gaba pelas indicações cinematográficas que faz. Acho que ele tem crédito, mas abusa desse "poder".
Balanço a cabeça de um lado para o outro e fecho os olhos. Meus braços estão cruzados, apoiados sobre a barriga, e eu suspiro.
— Eu gosto da Nova York do século vinte e um. — Abro apenas um olho, espiando Henry. Ele presta atenção no que digo. — Não é tão glamorosa quanto Paris... eu acho. Mas ainda assim é uma cidade onde os artistas gostam de estar hoje em dia.
— Não seria Los Angeles? — questiona Henry.
Dou de ombros e agora abro os dois olhos avidamente.
— Sim, mas de uma forma totalmente diferente.
— Me explica como. — Ele fala, mas sem nenhum tom de pretensão. Só curiosidade.
— Los Angeles é para os atores. Para quem sonha em ser do meio cinematográfico. Nova York é para os escritores. E, numa mistura louca, as aspirantes a supermodelo.
Henry sorri.
— E onde a gente fica nesse meio?
— Transitando entre uma e outra — brinco.
— Mas você tem razão. As duas cidades chamam atenção, mas por motivos diferentes. Nova York é para os apaixonados. Los Angeles é para os ambiciosos e maliciosos.
— Você morava em Los Angeles — aponto.
— Não por escolha própria. — Ele estreita os olhos para mim. — Para de querer me zoar.
Levanto as bochechas, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Sabe o que eu acho? — Ele pergunta, mas é retórica, e eu só espero. — Nova York é para os apaixonados. Quando você vai e sente a energia da cidade... não há mais volta.
— É inexplicável o que eu sinto quando estou lá.
Miro um ponto aleatório no horizonte escuro da paisagem de Roma através da janela.
— É por isso que os artistas estão lá. Os sonhadores — diz Henry.
Sinto seu olhar em mim, mas não o encaro de volta. Depois de um tempo, talvez apenas alguns minutos, ele volta a falar:
— Mas, ei, sabe de outra coisa?! — O olho, finalmente, já sorrindo, fisgada pelo seu tom animador. — Vamos parar de falar de LA e Nova York. Temos Paris no nosso roteiro, as outras cidades podem esperar.
_____
Como Henry previu, dormimos no trem, em menos de uma hora de viagem, para dizer a verdade. Fiquei um pouco decepcionada com minha capacidade de cair no sono assim tão fácil, mas não posso negar que, embora a comodidade não tenha sido cem por cento, foi um bom descanso.
Acordei com Henry ainda dormindo. Ele passou para o meu lado em algum momento da noite que eu realmente não lembro. Sempre sou a pessoa que esquece tudo o que aconteceu enquanto dormia, mesmo que me digam que eu até conversei com elas. Então, acordar com Henry ao meu lado, com o corpo perfeitamente encaixado ao meu, dormindo num sono pesado, não me espanta.
Cutuco seu braço só um pouco. Ele acorda rápido, como tem o sono leve.
— Bom dia — digo, dentro de um bocejo.
— Bom dia, Sabrina Super-heroína.
— O quê?
— Quando eu te acordei pra me juntar a você... você contou alguma história sobre ser uma super-heroína disfarçada indo salvar a cidade-luz.
Deixo escapar uma gargalhada, e meu corpo tremendo das risadas faz Henry se afastar, se espreguiçando. Não tenho nem ideia do que ele está falando. Meu sono absurdamente pesado, como estava dizendo.
O trem ainda está em movimento, mas lá fora o dia já está claro. Alguns minutos e estaremos caminhando em solo francês.
Em alguns aspectos, me sinto como se estivesse prestes a entrar em cena num filme cult, provavelmente com o cenário alterado para levar os espectadores à Paris dos anos '20. É quase uma decepção quando desembarcamos do trem e Paris se mostra tão moderna quanto qualquer outra cidade atual.
— Pronta para conhecer a cidade do amor?
Meus olhos estão quase fechados de tanto que minhas bochechas sobem num sorriso. Aperto a mão de Henry na minha e assinto fervorosamente.
Conhecer a cidade do amor ao lado dele. Nada é mais apropriado.
_______________
Ansiosos para Henry&Sabrina em Paris?
JE SUIS CALM!!! (ME!, alguém? Taylor Swift? Não? ok) <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...