Depois de um almoço regado a comidas sofisticadas demais para que eu saiba pronunciar seus nomes (francês não é mesmo meu forte), Henry e eu descemos até o primeiro andar da torre apenas para aproveitar a vista. É uma imagem que nunca vou esquecer.
Há pessoas na fila para chegar até o primeiro e o segundo andar, mas Henry conseguiu nos fazer driblar essa inconveniência. Alguns privilégios da vida de Henry caíram muito bem dentro da minha, não posso negar.
Henry está ao meu lado, estamos os dois observando a vista, mas sem dizer uma palavra. Sei que ele está ali pois sua mão volta e meia toca a minha, seus lábios depositam um beijo no meu ombro, sua perna encosta na minha. Mas estamos calados. É a coisa mais íntima, estar em silêncio com outra pessoa e ainda assim se sentir confortável.
A calma da minha mente agora está começando a me levar para lugares onde eu não ia há muito tempo. Está começando a me fazer sentir aquela coceira inquietante que me dá no cérebro quando estou prestes a elaborar uma ideia. Algo que não sinto desde que começamos a viagem. Um pouco da minha animação em viajar por lugares nunca visitados era a certeza de que teria muito conteúdo para escrever, muitas anotações para fazer e histórias para serem contadas a cada esquina.
A verdade é que eu não escrevo nada desde os primeiros dias em Roma. Meu caderno de anotações está enfiado bem no fundo da minha bolsa, sem ser aberto há dias. Se tem uma coisa mais triste para uma escritora do que ter seu caderno de anotações lotado de páginas vazias, não sei ainda.
Começo a tamborilar os dedos na janela de vidro que nos cerca. Inconscientemente, estou batendo em ritmo, como se meu cérebro estivesse cantando "estou tendo uma ideia, estou tendo uma ideia" numa nota só. Troco o peso do corpo de uma perna para a outra diversas vezes em trinta segundos, abro a bolsa e procuro o caderno. Vasculho de um lado para o outro, ligo a lanterna do celular para clarear meu caminho no labirinto que se transformou minha bolsa, e nada aparece.
A voz de Henry aparece pela primeira vez, e me diz:
— Está no bolso de fora.
Eu não lhe contei o que estou pensando, mas acho que não é realmente preciso. Ele já me disse que dou sinais quando estou construindo uma ideia. Sou geralmente calma, mas quando estou prestes a começar algo, preciso me mexer.
— Como você sabia? — pergunto, tirando a caderneta do bolso da frente, o indicado por ele.
— Eu coloquei aí, uns dias atrás. Pra facilitar quando você precisasse, mas acho... acho que esqueci de falar.
Abro um sorriso, mas o direciono para as páginas do caderno, já imersa completamente nessa ideia. As pessoas ao nosso redor estão conversando e fazendo barulho, tenho certeza, mas só me concentro no que está sendo construído dentro de mim.
É um momento crucial, essa primeira chama da ideia. Pode levar a um fogaréu, e pode também se apagar com um estalar de dedos. É preciso saber controlar.
Depois de alguns minutos escrevendo toda e qualquer frase sem nexo que aparece na minha frente, levanto a cabeça, com a ponta da caneta ainda parada sobre o papel. Henry está olhando para mim. Com os braços cruzados, encostado numa estrutura de ferro e os olhos brilhando, como se refletissem o pequeno sorriso que dança em seus lábios. Ele ergue as sobrancelhas e me pergunta, sem som: pronto?
Respiro fundo e fecho o caderninho.
— Vamos descer — digo, estendendo a mão para que ele a segure, junto com a caderneta de anotações, a caneta e tudo. — Quero tomar um café, olhar para você e descobrir o resto da história.
— É romântica? — ele pergunta, em passos desajeitados atrás de mim, passando pelo meio das pessoas curiosas com a vista.
— A mais romântica que já escrevi.
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Henry Smythe I & II
Novela JuvenilMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...