Tudo bem, eu confesso: biscoitos assados na hora, mornos e com gotas de chocolate de verdade, são bem melhores do que aqueles comprados no supermercado e que eu achava ser a melhor coisa do mundo.
E meu cabelo está duro como pedra por causa de todo chantili, agora seco.
Meu consolo é que o cabelo de Henry também está impenetrável, então tudo bem. Estamos empatados.
Por enquanto.
Não sou uma pessoa vingativa, mas se comecei a guerra, só saio se vencer. Por enquanto estamos num momento de trégua.
— Agora, o toque final... — anuncia Henry, e eu já me viro para ele revirando os olhos. Todos esses detalhes...
Henry derrama um pouco – bem pouco, um pouquinho de nada – de leite na xícara (leite em temperatura ambiente) e me pergunta se eu quero açúcar. Só um tijolinho. Ele prepara o chá do jeito que eu peço e estende a xícara num pires para mim. Um pires. Eu estou descobrindo meu apartamento como se fosse uma caça ao tesouro.
Levo a xícara aos lábios, bebericando o chá o mais lentamente possível, e é a vez de Henry bufar e rolar os olhos para cima.
— Meu Deus, pode acabar com essa angústia logo?!
Dou meu máximo para não rir e cuspir a bebida longe, e dou um longo gole.
— Bem... — digo, demorando com a palavra na boca. Beeeeeeeeeem... — para uma pessoa que não gosta de chá, eu gostei muito desse. — Dou meu veredito.
As bochechas de Henry quase cobrem os olhos e ele sorri com o rosto todo. Bate uma palma, se agita e dá um soco invisível no ar.
— Eu sabia! — clama. — Sabia que você ia gostar. Faço o melhor chá.
— Que eu já tomei, sim — concordo, e me arrependo logo em seguida. Henry estufa o peito e esboça um meio sorriso rabugento no rosto.
Ignoro a sensação gelada que me vem ao estômago e giro o corpo nos calcanhares, marchando na direção da sala.
~
— Travesseiros, edredom... eu ia fazer uma lista de tudo o que eu trouxe, mas é só isso. Não faz efeito quando só tem dois itens na lista. — Murcho os lábios num bico.
— Obrigada pelo sofá, os travesseiros, o edredom, o apartamento, etc.
Apártmen. Jesus, eu amo esse sotaque gritante.
Pisco diversas vezes, só agora percebendo que Henry ainda fala e eu não estava ouvindo.
— ... então pode dormir tranquila.
— Hã... tá bem. Boa noite — desejo.
— Boa noite, Sabrina. — Henry se joga no sofá, jogando o cobertor por cima do corpo, e fecha os olhos.
Eu fico aqui, paralisada, as mãos apoiadas na cintura, olhando um ponto fixo, nada em específico, mas então...
— Sabrina? Vai ficar aí, me olhando? É um pouco bizarro... — Henry diz, e só então eu volto a focar minha visão.
Estava olhando fixamente para suas mãos cruzadas sobre a barriga.
— Ah, não, eu... eu...
— Tchau, Sabrina — diz ele, os olhos novamente fechados.
E um resquício de sorriso nos lábios.
~∙∙~
Ainda não consegui dormir.
Estou aqui há uma hora, mais ou menos, e já fui espiar a sala duas vezes. Não por medo ou nada assim, mas só para checar se é verdade mesmo. Já tive muitos sonhos vívidos o bastante para saber que há a possibilidade, mas, toda vez que vou, volto com a certeza maior que Henry está mesmo ali, deitado no sofá da sala minúscula do apartamento ralé que moro com minha irmã, Louise, que por coincidência não está passando esses dias em casa e... ah, me falta ar. É coisa de mais para assimilar.
E é muito louco.
Me sinto estúpida quando paro para pensar que eu não o conhecia.
Quantos astros superfamosos eu já esbarrei e sequer me dei conta disso?
Tudo bem, onde moro não é uma coisa que pode acontecer todos os dias, mas mesmo assim! Vivo agora com a dúvida na cabeça. E, outra coisa que ainda me faz sentir idiota: essa sensação especial que tenho por saber que ali é o Henry Smythe, o ator que muitas garotas sonham em conhecer, e eu estou aqui, conhecendo-o. Essa sensação de... encanto. Acho que é algo que os atores-sonhos-de-toda-adolescente têm: essa capacidade de encantar as pessoas. E mesmo eu, que não achava me encaixar no meio de adolescentes com um padrão de ídolo, me vejo aqui, nessa situação. Eu, que sempre imaginei uma conversa com o James Dean em vez de... Brad Pitt? (ou sei lá quem as pessoas acham ser o homem mais lindo do mundo) me encontro fascinada por um ídolo adolescente que ainda é adolescente hoje em dia, e não um que parou de atuar antes de eu nascer.
Me levanto repentinamente e vou até a sala, mas dessa vez não para checar a realidade sobre Henry Smythe, mas sim para pegar meu notebook. Ver um de meus filmes favoritos vai me aquietar até dormir, agora.
Procuro o laptop no escuro, no meio da bagunça da sala, e começo a me irritar por não acha-lo. Sufoco um grito quando vejo um vulto passando ao meu lado e de repente a luz do abajur ao lado do sofá é acesa.
— O que você veio espiar aqui de novo, Sabrina?
Um Henry de cabelo bagunçado – lavado depois do desastre com chantili – e cara amassada me pergunta. Ele tem apenas um olho aberto, se acostumando com a luz da luminária.
— Do que você está falando? Eu só vim buscar meu notebook!
— Eu tenho o sono leve, sabe... — avisa ele, e eu o encaro sob a meia-luz.
— Eu estava procurando meu notebook — insisto.
Henry se joga de costas no sofá, de volta a posição de dormir.
— Boa noite, Sabrina.
— Boa noite, Henry... — Deslizo os passos de volta ao quarto, mas antes de fechar a porta, ouço:
— Não está esquecendo nada?
Mordo os lábios com força, querendo bater a cabeça na parede pela demência, e volto relutante para buscar o laptop. Henry, no sofá, não abre os olhos.
~~~~~~
OI, GENTE <3
COMO ESTÃO? O que estão achando de Henry Smythe e Sabrina?
Eu tô me divertindo muito escrevendo esse conto, e por isso está saindo maior do que eu imaginava HAHAHAH Isso significa mais capítulos pra vocês, mais tempo com Henry e Sabrina, e mais amor pra mim <3
Espero que estejam gostando!
E SOS, a vontade de comer biscoitos assados na hora fez até meu estômago roncar aqui, numtôbem
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Henry Smythe I & II
Teen FictionMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...