— Quero assistir a um filme seu.
Os cookies estão no forno e mais uma rodada de café está sendo feita. A tevê exibe a reta final de St. Elmo's Fire e Henry e eu assistimos – ele também adora esse.
Henry para a xícara de café – que está tomando por falta de chá – no meio do caminho para a boca.
— Um filme meu?
— É! Nunca vi nenhum... desculpa.
— Eu imaginava. — Ele sorri sem levar como ofensa. — Não deve estar passando nenhum...
— Não custa nada tentar.
Abaixo-me ao lado da TV e começo a mudar os canais, procurando por algum título familiar (daqueles que eu vi nas listas da internet). Com o controle seria muito mais fácil: apenas digitar o nome dele na busca, e os filmes com sua presença no elenco apareceriam junto ao dia e horário de exibição. Mas, não... eu tinha que perder o paradeiro do controle. Estou há quase dez minutos passando de canal em canal e abrindo a página de programação para saber o que vai passar até o final do dia, e a frustração só cresce quando não há nada com Henry no "menu".
— Eu tenho uma ideia — diz Henry, de repente.
— O quê? — Não o olho enquanto pergunto; estou concentrada nos canais.
— Você já participou de alguma peça de teatro na escola, ou algo assim?
— Quê?
— Você sabe atuar? — Ele gesticula as aspas enquanto fala "atuar".
— Lógico que não.
— Não é tão difícil assim...
— Qual sua ideia?
— Você poderia atuar comigo.
— Quê? — repito, mais desacreditada agora.
Paro de mudar os canais da tevê e caio sentada no chão.
— Ficou louco? Não sei atuar — digo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, porque é a coisa mais óbvia do mundo.
— É só uma brincadeira, aqui, agora. Posso te ensinar.
Henry vem até mim e estende a mão para uma Sabrina derrotada jogada no chão. Eu encaro seus dedos esticados, me esperando.
— Vamos, vai ser divertido! — Se anima Henry.
Eu estico o olhar para seu rosto e o pego sorrindo genuinamente.
Ainda um pouco receosa, junto minha mão à sua e sinto o impulso dele me puxando para cima.
— Quero terminar o dia como a Audrey Hepburn da minha geração.
— Não prometo tanto, pois assim eu seria o Cary Grant da minha geração.
— Deixe que eu julgo isso até o final do dia.
— Você não parece ser o tipo de jurada boazinha e sensata.
— Por que não? Sou um amor de pessoa.
— Não duvido disso — diz ele, tão baixo, quase inaudível.
— O quê? — O peço para repetir.
— Não duvido que você seja um amor de pessoa — confirma Henry, e conclui: — Só não é comigo.
Dirijo um soco em seu braço direito.
— Viu? Era disso que eu tava falando.
— Cala a boca e vamos atuar! — falo, subitamente entusiasmada.
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Henry Smythe I & II
JugendliteraturMEUS DIAS COM HENRY SMYTHE: Sabrina Holland nem imagina o que se passa na vida dos astros Hollywoodianos atuais. Não está nem aí para os lançamentos de filmes no cinema; prefere os clássicos como A Princesa e o Plebeu, A Felicidade Não Se Compra, e...