XII

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— Quero assistir a um filme seu.

Os cookies estão no forno e mais uma rodada de café está sendo feita. A tevê exibe a reta final de St. Elmo's Fire e Henry e eu assistimos – ele também adora esse.

Henry para a xícara de café – que está tomando por falta de chá – no meio do caminho para a boca.

— Um filme meu?

— É! Nunca vi nenhum... desculpa.

— Eu imaginava. — Ele sorri sem levar como ofensa. — Não deve estar passando nenhum...

— Não custa nada tentar.

Abaixo-me ao lado da TV e começo a mudar os canais, procurando por algum título familiar (daqueles que eu vi nas listas da internet). Com o controle seria muito mais fácil: apenas digitar o nome dele na busca, e os filmes com sua presença no elenco apareceriam junto ao dia e horário de exibição. Mas, não... eu tinha que perder o paradeiro do controle. Estou há quase dez minutos passando de canal em canal e abrindo a página de programação para saber o que vai passar até o final do dia, e a frustração só cresce quando não há nada com Henry no "menu".

— Eu tenho uma ideia — diz Henry, de repente.

— O quê? — Não o olho enquanto pergunto; estou concentrada nos canais.

— Você já participou de alguma peça de teatro na escola, ou algo assim?

— Quê?

— Você sabe atuar? — Ele gesticula as aspas enquanto fala "atuar".

— Lógico que não.

— Não é tão difícil assim...

— Qual sua ideia?

— Você poderia atuar comigo.

— Quê? — repito, mais desacreditada agora.

Paro de mudar os canais da tevê e caio sentada no chão.

— Ficou louco? Não sei atuar — digo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, porque é a coisa mais óbvia do mundo.

— É só uma brincadeira, aqui, agora. Posso te ensinar.

Henry vem até mim e estende a mão para uma Sabrina derrotada jogada no chão. Eu encaro seus dedos esticados, me esperando.

— Vamos, vai ser divertido! — Se anima Henry.

Eu estico o olhar para seu rosto e o pego sorrindo genuinamente.

Ainda um pouco receosa, junto minha mão à sua e sinto o impulso dele me puxando para cima.

— Quero terminar o dia como a Audrey Hepburn da minha geração.

— Não prometo tanto, pois assim eu seria o Cary Grant da minha geração.

— Deixe que eu julgo isso até o final do dia.

— Você não parece ser o tipo de jurada boazinha e sensata.

— Por que não? Sou um amor de pessoa.

— Não duvido disso — diz ele, tão baixo, quase inaudível.

— O quê? — O peço para repetir.

— Não duvido que você seja um amor de pessoa — confirma Henry, e conclui: — Só não é comigo.

Dirijo um soco em seu braço direito.

— Viu? Era disso que eu tava falando.

— Cala a boca e vamos atuar! — falo, subitamente entusiasmada.

Henry Smythe I & IIOnde histórias criam vida. Descubra agora