|Capítulo 1|

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Ainda que os familiares estivessem cansados deste mesmo assunto, Judith optou por iniciar a conversa.

- E você, Arthur? Já pensou na proposta?- ao prever o que poderia acontecer, a adolescente Beatrice lançou olhares rápidos para seu pai, Peter, e o irmão, Arthur.

A mãe parecia esperar a resposta, fitando o rapaz dos cabelos louros com crueldade.

Peter avaliou a situação e, após um cansativo dia de trabalho, prometeu a si mesmo que não se envolveria no assunto.

A família Coleman, tão renomada no estado, não conseguia um único jantar em paz. A mesa parecia farta de pessoas vazias.

Arthur respirou fundo antes de respondê-la.

- Eu já disse, mãe. Não tenho nenhuma intenção de sair do país para jogar no Barcelona. Talvez eu ainda não esteja preparado.

Judith ofereceu um sorriso nada convincente para o filho.

- Pense bem.- ela insistiu.- não são todas as pessoas que têm essa oportunidade e de jogam fora.

Arthur cortou a carne em seu prato, tentando não encarar o olhar da mãe.

- Sim, não são todas as pessoas que têm essa oportunidade.- ele soltou os talheres.- mas não quero chegar a lugar nenhum por você, Judith. Deveria ser mérito meu.

A mulher sorriu, expondo os dentes perfeitos e brancos.

- Mas é isso. Você tem potencial. E eu conheço pessoas que podem te levar até o pódio...

Arthur respirou fundo mais uma vez, tentando elaborar uma resposta que não soasse tão grosseira. Mas Peter os interrompeu com um "chega!" que fez Beatrice deixar cair o garfo e a faca de suas mãos.

O pai não havia alterado o tom de voz, mas o ato de bater na mesa chamou a atenção dos outros.

- Por que insiste tanto em mandar o nosso filho para longe?- Peter desviou o olhar.- se ele quer ficar e acha que não está preparado, deixe-o.

Judith precisou da ajuda da taça de vinho para engolir as palavras que poderiam ter vindo depois. O silêncio predominou, indicando que a conversa estava encerrada.

Beatrice encarou por alguns segundos a nova receita vegetariana que lhe foi oferecida. Abobrinha recheada com quinoa.

Tentava não fazer caretas para não decepcionar a mãe, mas precisou confessar para si mesma que aquele não era, nem de longe, um prato vegetariano saboroso e decente. Não para ela.

Mas, diante da situação, ela preferiu ingerir feijão, tomate e as abobrinhas de uma vez só.

Judith observou o esforço da adolescente.

- Se você fosse, me daria orgulho da mesma maneira que Bea me dá.- ela sorriu para a menina, que retribuiu.

Peter quase não acreditou que ela ainda continuava.

Precisou falar enquanto Arthur revirava os olhos e jogava um pano no rosto da irmã.

- Não acho que "orgulho" seja a palavra certa para definir Beatrice no momento.- ele descarregou seu olhar preocupado na filha.- aproveitando, podemos falar sobre as notas dela?

Quando Arthur riu do puxão de orelha que a irmã começava a receber, Beatrice devolveu violentamente o pano que ele jogara nela.

- Ah, o terceiro ano.- a menina riu sem graça.- não é fácil pra ninguém.

- Principalmente porque nossa filha está adiantada.- acrescentou Judith.

Peter não aceitou a desculpa esfarrapada.

Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora