|Capítulo 3|

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Quando  Peter acordou, o relógio marcava exatamente 05:30. Se virou e encontrou Judith ainda adormecida, e decidiu não acordá-la, já que desde a discussão na noite passada ela não estava com um bom humor. Ela quase sempre estava de mau humor, na verdade.

Peter tomou seu banho quente como de costume, sem ter ideia dos problemas que iria enfrentar logo pela manhã.

Enquanto se arrumava, ele pensava em maneiras de conversar com sua filha -longe de Judith- e tentar salvá-la à sua maneira. Já que Judith sempre passava a mão na cabeça de Bea, talvez ele conseguisse algo com a garota se não estivesse perto da mãe.

Ficava pensando e talvez se culpando pela noite de ontem. E não arrependido por ter chamado atenção de sua filha, mas arrependido por não tê-la repreendido antes. Por não ter passado tanto tempo com Beatrice na adolescência como ele passou na infância. Ele descobriu, tarde demais, que Judith não era capaz de educar uma filha da maneira correta. Judith tinha princípios e valores gananciosos, e isso nada contribuiria na formação de Beatrice. Agora Peter pensava se ainda havia chances de mudar a forma de pensamento de Bea, a começar pela escola. Ela precisava levar os estudos a sério, precisava querer uma faculdade, um futuro, longe da bolha que Judith a colocou.

Peter caminhou entre os corredores silenciosos e escuros, enquanto abotoava sua camisa social azul clara. Entrou no quarto de Arthur e o viu sentado em frente ao computador.

- Já acordado?- perguntou Peter, se aproximando do filho e depositando um beijo em seus cabelos loiros.

- É. Acordei mais cedo. Tô assistindo uma partida.- Peter encarou o monitor e viu o jogo de futebol passando, enquanto os olhos de Arthur estavam vidrados.

Ele até poderia repreendê-lo por acordar tão cedo e já estar na internet, mas poderia dar um desconto: Arthur era um bom menino, já havia se formado na escola e, como iria seguir carreira de jogador, não tinha obrigações como a faculdade. Mesmo que Peter tenha pedido para ele pensar em um curso, que seja, só para garantir. Arthur prometeu que iria pensar.

- Vai treinar hoje?- questionou o pai, e o filho olhou para ele, pela primeira vez no dia.

- Sim.- o rapaz sorriu, como se pensar que iria treinar realmente o fizesse feliz. Peter ficou apenas alguns segundos se distraindo com o jogo e depois decidiu que precisava ir.

- Tenha um bom dia. Se quiser, te busco no treino hoje, é só ligar.- comentou, ainda com a culpa de, vez ou outra, ser ausente com seus filhos.

Peter abandonou o quarto de Arthur, e se deparou com alguns quadros que ele raramente reparava, pelos corredores. Uma foto mostrava Peter e Judith após o casamento, e ele se perguntou onde todo aquele amor e companheirismo foi parar.

Certo que, de uma forma ou outra, os dois só se casaram por conta da gravidez. Eles não tiveram tanto tempo assim para se amar, na verdade, nessa mesma época, Peter havia perdido uma namorada que parecia ser tudo para ele na adolescência. E quando Judith apareceu grávida, em uma proposta incrível de construírem uma família, Peter não pôde negar.

Porém nada adiantava pensar nas coisas que deram ou não certo em seu passado. Por mais que o casamento com Judith e a relação com os filhos estivesse conturbada, ele acreditava que conseguiria salvar ambas as coisas.

Peter abriu a porta do quarto de Beatrice com cuidado. Caminhou devagar pelo cômodo escuro até chegar ao abajur ao lado da cama e acender a luz.

Se surpreendeu ao ver que Beatrice não se encontrava na cama ,e que, para ser ainda mais estranho, essa cama estava arrumada.

Ele se aproximou da porta do banheiro e bateu, chamando por Beatrice. Uma. Duas. Três vezes. Até que, sem resposta, ele abriu a porta do banheiro. Não sabia se estava com raiva ou preocupado.

Não a encontrou, e ao virar seu corpo conseguiu ver as maquiagens de Beatrice espalhadas sobre sua escrivaninha.

Ele desceu as escadas mais rápido do que costumava.

- Nina!- a chamou, enquanto arrumava a mesa do café da manhã. A senhora dos cabelos esbranquiçados olhou para o patrão.

- Senhor?- ela perguntou, se preocupando com a expressão agitada de seu patrão tão cedo.

- Por que o quarto de Beatrice já está arrumado?

Nina estava um pouco confusa.

Olhou para Peter e depois caminhou até a janela, abrindo as cortinas.

- Eu não sei, senhor. Não a vejo desde o jantar. - Concluiu. Peter assentiu e, mesmo sabendo que não a encontraria ali, empurrou as grandes vidraças que davam acesso a área de lazer e piscina e procurou rapidamente por Beatrice.

Quando voltou à sala, Arthur estava vestindo sua camisa.

- Encontrou?- questionou ele, já sabendo do assunto.

Peter nem sequer olhou para o filho ao responder.

- Não.- e se dirigiu ao seu telefone sobre o sofá, a fim de ligar para Bea.

O telefone de Beatrice dava desligado ou fora de área. Mesmo não querendo, o coração de pai parecia errar algumas batidas.

Após algumas tentativas falhas de ligação, Peter desceu até a portaria. O porteiro afirmara que não havia visto a garota, e mesmo ligando para o porteiro do outro turno, a resposta fora a mesma.

Peter sabia que poderia ser precipitado, mas não havia o que fazer. Pegou o carro mais prático em sua garagem e saiu em busca da filha, até mesmo disposto a ir a delegacia pedir ajuda se fosse necessário.

Depois de talvez quinze minutos atrás de Beatrice nos lugares que normalmente ela frequentava e após tentar mais algumas milhares de ligações, Peter recebeu uma ligação de um número desconhecido.

Estacionou em frente uma farmácia, os dedos trêmulos quase não conseguiam atender. Sua mente o traia e o fazia pensar que poderia ser uma notícia ruim sobre Bea. E, ao mesmo tempo, Peter só desejava encontrá-la e colocá-la de castigo, talvez, para sempre. Algo dizia a ele no fundo da alma que essa havia sido uma fuga rebelde por conta da briga da noite passada.

- Alô?- Peter atendeu, a voz falhando.

- Pai...sou eu...- a doce voz de Bea atravessou a linha e o tocou, acalmando seu coração.

Tinha muitas perguntas, mas precisou respirar fundo e encostar a cabeça no banco.

- Onde você está?- indagou, aflito.- E o seu celular? Por que não atendeu?

A menina suspirou.

- Calma pai. Eu estou bem...eu queria pedir desculpas, mas talvez eu não tenha muito tempo agora. Eu estava no ponto de ônibus e...-ela parou.- O senhor poderia vir ao hospital?

Publicado em:11/09/2017
Atualizado em:23/01/2023

Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora