|Capítulo 53|

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Bea demorou no banheiro mais do que costumava, e vários lapsos de memória passavam por sua cabeça. Frederick sempre esteve lá, antes e depois. Era o melhor amigo de Peter no início, apresentou ele a Judith, nunca se esqueceu de um único aniversário dela, estava também no dia do concurso em Woodhaven. O que ele fazia lá? Por que sair de Columbus apenas para vê-la em um concurso? Por que todas as coisas se encaixavam agora?

- Você está bem? -Perguntou Judith, enquanto a menina caminhava lentamente até a cozinha.

- Sim. E, eu amei a casa. Está tudo muito bonito, mãe.- O tom de voz baixo dela não conseguia esconder a mudança repentina de humor. Ela encarava Frederick Flamming enquanto cozinhava, e ao pensar que a traição em sua família começara bem antes de Peter, Beatrice sabia que precisava ir embora.- Eu gostaria de ficar, mas, Arthur me ligou.- mentiu.- Preciso voltar pra casa.

- Ah, é?- Judith terminou uma taça de vinho.- O que a família feliz vai fazer hoje?- Disse, em tom irônico.

- Vamos...vamos assistir um filme, e...e o meu pai...nós...- Bea se sentia tão desnorteada, que se não saísse daquele lugar agora, não conseguiria nunca mais. Judith era, afinal, o que todo mundo dizia ser? Ela não podia aceitar isso. Foi a única que sempre acreditou em sua mãe, apoiou suas decisões, colocou a mão no fogo por ela. Não seria justo.- Preciso ir.

Judith a acompanhou até a porta, dando-lhe um breve beijo no rosto.

- Ah, espere.- Ela correu até uma caixa perto da tevê.- Aqui, nesse álbum tem algumas fotos, e tenho certeza que Peter me arrumaria problemas por elas. E eu não quero mais vê-lo.

Folheando rapidamente as páginas, Beatrice viu fotos dela e Arthur durante a infância. Judith era a única mãe que abria mão de recordações tão facilmente.

- Não quer vê-lo? Engraçado. Você o amava há alguns meses.- Ela riu, cabisbaixa.

- É.- Judith cruzou os braços.- Como vai sua relação com Mabel?

- Bem.- Bea fingiu.- Ela é ótima. E também está me esperando. Tenho que ir.-Antes de sair, a garota fechou os olhos e respirou fundo. Agora era época de resolver todas as coisas que a acorrentavam.- Mãe...nos últimos meses que esteve lá em casa. Você mudou da água pro vinho. Não era por nós, né? Não era por que queria de verdade...

Judith suspirou.

- O meu jeito é esse, querida. Você sempre soube disso.

- O que disse ao Arthur da última vez que o viu?

A mulher não esperava essa pergunta. Escutavam o barulho das talheres sendo postas a mesa, dentro do apartamento.

- Arthur nunca me deu uma chance, Beatrice. Eu apenas disse a ele que seria melhor se eu fosse a vilã que ele me vê. Que todos vocês vêem.

- Eu nunca...- Bea quase sussurrou.- A única imagem que tenho de você, é que foi a melhor mãe que eu poderia ter.

Judith riu, desdenhando.

- Sim, acredite, eu fui sua melhor opção.- Ela se encostou na porta.- Tome cuidado no caminho, Beatrice. Odiaria que seu pai me culpasse por um acidente.-A garota concordou, andando apressadamente até o elevador.- Diga a ele que nos vemos na audiência.

Quando entrou no carro, Bea se debruçou sobre o volante. Se sentia vulnerável, como se estivesse enxergando o mundo pela primeira vez. Exposta a curiosidade e ao medo. Tudo que Arthur falava...ele sempre soube do caso dos dois? Peter fazia alguma ideia? Por que Judith se importava apenas consigo?

Ela olhou a tela do celular, segurando uma vontade incontrolável de ligar para seu namorado e chorar um pouco, já que Joe era seu melhor ouvinte.

Ainda sim, não queria atrapalhá-lo em trabalho.

Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora