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Não me lembro qual foi a última vez que acordei onze horas da manhã em uma segunda-feira, mas sei que já faz muito tempo.

O fato de estar cansada e a casa estar praticamente vazia ajudaram no meu longo período de sono. Meu pai sai cedo para trabalhar e a Madu vai cedo para escola. Uma horas dessas só tem minha mãe e eu em casa, e pelo cheiro que está no quarto ouso dizer que ela está fazendo almoço.

- Bom dia. - Disse lhe dando um beijo no rosto. - Tem café?

- Bom dia, minha filha. O almoço já está quase pronto.

- Mas tem café? - Perguntei escorada nos seus ombros. - Preciso de café.

- Tem, Manuela. Tem café. - Enchi uma xícara de café e me sentei á mesa. - Como você está?

- Estou bem. Acho que só precisava tirar uns dias de descanso. As últimas semanas foram bem intensas.

- Vai finalmente me contar o que está acontecendo?

- Não. - Sorri pra ela que apenas cruzou os braços na frente do corpo. - Não é nada demais, mãe. Ao mesmo tempo é muita coisa. - Bufo. - Sabe que isso de conversar sobre problemas, nunca foi meu forte.

- Manuela, desabafar é bom. Você não precisa carregar todas as dores do mundo nos seus ombros. Sei que temos pontos de vista bem divergentes uma da outra, mas também sempre fomos amigas. - Arrisquei pegar uma fatia de bolo encima da mesa e tomei uma bofetada com o pano. - O almoço está quase pronto, Manuela. E... - Ela respirou fundo. - Você sempre pode contar comigo.

- Eu sei mãe, obrigada. Mas no momento estou bem em ficar assim. - Dei de ombros e ela não insistiu.

Enquanto esperava o almoço ficar pronto, decidi trocar de roupa, pentear meus cabelos e escovar os dentes.

Aproveitei também para ajeitar o quarto da minha irmã, já não é justo dizer que também é meu, se só passo duas a três semanas do ano aqui.

Quando terminei de ajeitar tudo, minha mãe já estava gritando pra Maria Eduarda não correr daquele jeito dentro de casa:

- Manuzinha. - Ela pulou em cima de mim, me abraçando. Minhas sobrancelhas se arquearam diante sua manifestação exagerada de afeto.

- Oi! Está tudo bem? - Ela assentiu agitada. - Por que você está parecendo um cachorrinho quando vê o dono, Maria?

- Nossa, você é tão grossa. - Revirei os olhos. - Enfim, sabia que o Pedro ficou caidinho por você?

- Pedro??

- Nem vem, Manuela. Não tem como esquecer um homem bonito daquele da noite para o dia. - Mostrei minha língua em um protesto infantil. - Miguel disse que ele não parou de falar sobre você um minuto sequer... - Seu olhar era diabólico.

- O que você está aprontando, Maria Eduarda Bicalho?

- Credo, está parecendo a mamãe. Eu não aprontei nada. - Ela fez uma pausa dramática. - Ou quase isso. Mas relaxa, vamos todos nós...

- Vamos todos nós quem? Aonde?

- Nós. Você, eu, Pedro e o Miguel. Vamos todos nós no cinema.

- O que você está achando que está fazendo, Maria?

- Você está deprimida por conta do outro cara, o de Belo Horizonte. Achei que...

- Daí você entendeu que porque estou triste, ouviu bem triste e não deprimida, por causa de um cara. Tenho que sair com outro?

- Um outro bem gato, não é?

- Não é sobre isso que estamos falando, Maria.

- Você está nitidamente precisando de um homem, irmã. Ou você agora fica com mulheres também?

Pecado Predileto - Livro I [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora