Capítulo 52: Talvez feridas devem ser tocadas para serem cicatrizadas.

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Cheguei em casa meio atordoada com o que aconteceu, nunca imaginei aquela reação agressiva do Pedro. Na verdade achei que havia me livrado do meu dedo podre quando o Gustavo foi preso por tráfico de drogas a alguns anos.

- Não tinha que estar no estágio? - Disse assim que avistei Madu jogada no sofá.

- Venho em casa pra almoçar, bem, todos os dias.

- Ah sim, eu não sabia. Bom, tem alguma coisa pronta pra comer?

- Desculpa Manu, sabe que sou péssima na cozinha, então sempre acabo comprando minha comida, e assim, como vocês demoraram eu achei que tinham feito o mesmo.

- Antes fosse. Acredita que o Pedro teve a audácia de buscar Júlia na escola hoje?

- Mas o Pedro sempre fez isso Manu, é o normal dele, deve ser difícil pra ele se desacostumar com essa rotina.

- Aah Madu, se tem uma coisa que o Pedro não está é normal e eu o quero bem longe da minha filha, e bem, de mim. Argh! - Gosto nem de lembrar o que seria de mim se não fosse a minha força e pontaria.

- O que você quis dizer com isso? Aconteceu alguma coisa?

- Ah... Não estou afim de falar sobre isso agora. Bom, vou preparar algo para almoçar com Júlia. Conversamos depois. - Fui pra cozinha e deixei Júlia brincando com a tia enquanto preparava o nosso almoço. - Vamos almoçar bonequinha? - Ela já deveria estar faminta e portanto veio correndo almoçar.

- Estou voltando pro trabalho Manu. Ah e hoje não vou na faculdade, então nos vemos a noite.

- Tudo bem, até mais tarde. - Depois de terminar de almoçar com Júlia, lhe dei um banho, fizemos nossos deveres, ela os da escolinha e eu os da casa, digamos que Madu não é a mais cuidadosa com o lugar onde vive.

Quando terminei de ajeitar tudo encontrei minha bonequinha deitada entre os brinquedos e dormindo, resolvi então tomar um banho e em seguida lhe acompanhar em seu soninho.

(...)

Acordei com dedos carinhosos alisando o meu rosto.

- Achei que estivesse com raiva de mim. - Disse ainda com os olhos fechados, mas de alguma forma ainda consigo decifrar as delícias desse toque.

- Achei que estava dormindo. - Disse se afastando.

- Estava. Acabei de acordar. Mas, ahn, o que está fazendo aqui?

- Fiquei de vim ver minha filha, se lembra?

- Ah é claro. E cadê ela?

- Madu está dando banho nela.

- Ah meu Deus! Que horas já são pra Maria já estar em casa?

- Quase 20h. Ei Manuela, está tudo bem com você? Maria Eduarda disse que você estava meio estranha quando chegou do trabalho.

- Está-claro-que-está. Foi só uma sensação da Madu. Porque está preocupado comigo? Pensei que estivesse louco pra me ver mal.

- É eu devo ser tão trouxa quanto você afinal. Mas, ei, acontece alguma coisa na casa do Pedro?

-Ahn-é não, não aconteceu nada.

- Certeza? Porque tenho informações que você chegou dizendo que ele é louco e de que vocês brigaram.

- Quem-quem te falou isso?

- Maria e Júlia. E então foi tudo bem ou não?

- Foi Lucas. - Nisso Júlia entrou no quarto e pulou no colo do pai, onde começou a brincar. E eu aproveitei para levantar, dar uma lavada no rosto e tomar uma xicara forte de café antes de voltar para o quarto.

- Manuela. Quero resolver as questões legais da paternidade da Júlia o mais rápido possível, e espero que não tenha objeções, nem suas e menos ainda do Pedro.

- Não sei qual o procedimento exatamente, mas pode ficar tranquilo que não vou me intrometer nisso. Esse é um direito seu e enquanto ao Pedro não se preocupe, ele não pode interferir em nada, aliás ele nem registrou Júlia.

- Então ele queria pagar de paizão mas não queria registrar a menina?

- Ele queria, eu que nunca deixei. Talvez parte de mim sempre soube que esse momento, onde você registraria sua filha iria chegar.

- Talvez se eu soubesse que eu tinha uma filha, eu tivesse assumido.

- Tá, Lucas. Não da pra viver imaginando como séria o passado. É melhor começar a pensar no hoje e aproveitar que agora conhece sua filha.

- Não é simples e tão pouco fácil assim, Manuela. Você me privou disso e agora, estou aqui, tendo que aprender como é ter uma filha.

- Fica tranquilo, aparentemente você leva jeito com crianças e vocês já se amam da pra perceber nos seus olhares. E pensa pelo lado bom, você pulou a parte das fraldas.

- A parte das fraldas, todo o desenvolvimento, a primeira palavra, o primeiro dentinho, o primeiro passo. Você tem noção de tudo o que você me privou? E é por isso que estou sentindo tanta raiva de você, Manuela. Porque você fez isso comigo Manuela?

- Eu juro que ia te contar Lucas, aquele dia, eu tinha até comprado uma lembrancinha que eu ia usar pra te dar a notícia. - Meu olho sempre enche de água quando me lembro do rebuliço que foi aquele dia. - Acho que eu ainda à tenho guardada. - Me levantei e fui procurar entre as coisas da Júlia que ainda não estão tão arrumadinhas, pela falta de espaço. - Está aqui. - Fui até ele com a caixinha onde os sapatinhos de tons amarelos estavam. - Eu comprei esses sapatinhos antes mesmo de sair o resultado do exame de sangue, porque fiz só pra alívio de consciência, havia feito mil exames de farmácia antes. Mas enfim, quando eu cheguei no seu apartamento pra te contar, Lucas. Você... - As benditas lágrimas se intensificaram. Certas feridas não se curam afinal. - Bom, ignore essas lágrimas idiotas, são porque essa história ainda mexe comigo. Enfim Lucas, quando cheguei no seu apartamento você estava transando com a Isabela e desde então eu não queria mais te ver. E você já sabe todo o resto...

- Eu até "entendo" os seus motivos e talvez eu também não fosse querer um pai tão imaturo e idiota pra minha filha. Mas você sabe que isso no final das contas não te dava o direito de não me deixar conhecer a minha filha.

- Eu sei Lucas, hoje eu sei. Infelizmente as coisas já foram feitas assim e, bom, a unica coisa que posso fazer é te pedir desculpas.

- Eu não sei se algum dia eu vou ser capaz de te perdoar, Manuela.

- Sei bem como é essa sensação. - Dei de ombros. - Mas enfim, agora você já sabe a verdade então aproveite para curtir essa bonequinha. Mas, ahn, bom, só vamos com calma pra falar isso com ela, se tem uma pessoa que eu não quero que sofra com essa história é a minha filha.

- Nossa filha, Manuela.

- É, nossa filha. Agora eu vou tomar um banho, se aproveitem. - Fui saindo com um sorriso de lado.

- Manuela, que roxo é esse no seu braço?

Pecado Predileto - Livro I [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora