Música.

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Olá! Sei que ninguém estava esperando por esse capítulo, na verdade, nem mesmo eu estava. Mas nessa tarde fui presenteada com uma das histórias mais emocionantes que já ouvi na vida. Tocou meu coração e meu imaginário de tal forma, que resolvi liberar o que acabei escrevendo para vocês. Não sei quando o próximo sai, mas não vai demorar muito, prometo. Espero que vocês gostem do capítulo, ele foi feito com muito amor. Qualquer dúvida, crítica construtiva, opiniões ou qualquer outra coisa, só comentar bem ai, ou me chamar no twitter @ceuatelua. Dedico esse capítulo e essa história por completo a pessoinha que está me inspirando mais ainda a escreve-la. Ela sabe quem é. Enfim. Obrigada tu!

Com amor, Mar. Ou Aninha. Vocês que sabem.

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Vitória era uma mulher imprevisível. Do nada apareceu, sentou-se no chão ao meu lado e cantou comigo exibindo o maior sorriso do mundo. E fez isso no dia seguinte. E no outro depois desse. E em todos os outros desse mês. Ela parava tudo que fazia apenas para observar o pôr do sol. Ela parecia se importar comigo pois todo dia quando chegava cedo ao parque perguntava como eu estava. Quem, nesse mundo atual, pergunta se uma desconhecida está bem? E quem que acorda cedo pra ficar sentada no chão sendo ignorada sem ter motivo para isso? Ela todo dia tinha uma lição diferente para dar, todo dia fazia questão de mostrar como a vida era bonita. Ela é surpreendente. Surpreendente a ponto de ficar.

Ficar.

Ninguém ficou por mim.

Ninguém antes dela.

Minutos se passaram e eu não ouvi o barulho da porta do banheiro batendo, nem passos se distanciando. Pelo contrário, levantei o rosto rapidamente, pouco antes dela se aproximar lentamente, e me envolver em seus braços. Ali, dentro do seu abraço apertado, me permiti chorar tudo o que vinha guardando durante esses meses. Vitória sibilou um "Vai ficar tudo bem!" e eu soube após aquilo, que sim, iria ficar tudo bem.

-Acho melhor eu ir.—Sussurro após longos minutos, me desvencilhando do abraço.

-A gente ir né mulher. Eu não sei tu, mas eu tô morrendo de fome e a gente tem um jantar pra ir, esqueceu? —Ela fala animada como sempre e me encara sorrindo. Ela tinha ficado.

Coloco o casaco e me aproximo.

-Obrigado Vi.—Agradeço do fundo do coração. E ela só sorri mais. O sorriso mais bonito que eu já vi.

-Não tem de que agradecer.—Ela se aproxima mais e tira meu casaco—Tá calor, você não precisa mais disso, certo?

-Certo.—Sussurro olhando fixamente para seus olhos. A cor indefinida era a mais bonita que eu já havia visto, com toda certeza. Balanço a cabeça rapidamente percebendo que já devia estar estranho a encarar tanto e me afasto. Ela sai na frente, falando o quando eu ia gostar do local e eu saio logo atrás, agradecendo aos céus pelo presente me enviado naquele dia no parque.

O local realmente era lindo, e bem aconchegante. Não era um restaurante chique, nem nada do tipo, era algo mais simples, mas encantador. Andamos até a mesinha que ficava mais no canto e após fazermos o pedido, falo:

-Queria explicar...—mas Vitória me interrompe, segurando minha mão, que estava repousada em cima da mesa.

-Não precisa explicar nada enquanto não estiver preparada. Você está grávida, tem um serzinho ai dentro e isso é lindo. Nos conhecemos a pouco tempo Ana, e percebo que você é um pouco mais fechada, não vou te pressionar a me contar nada, só posso te garantir que temos tempo suficiente pela frente pra nos conhecermos o bastante.—

-Temos?—Sorrio instantaneamente.

-Oxi, claro que temos. Tu acha que eu vou te deixar em paz assim, Naclara?—Seu sotaque sai mais forte ainda na frase, me fazendo rir.—Tá errada viu. Vou te aperriar por muito tempo ainda.

-Tu não é aperreio, Vi. Que isso.—Falo tímida olhando para nossas mãos ainda juntas.

-Mas me diz, tu tá de quantos meses mulher?—Ela pergunta animada e eu não me incomodo nem um pouco pela primeira vez, quando se referem a gravidez. Durante todo esse tempo não era uma realidade para mim.

-Quase cinco.—Deposito a outra mão sobre a barriga;

-A nau, modeus.—Vi fala com a voz fininha, me fazendo rir baixo novamente.

-Pois é. Jajá ele sai daqui.

-Ou ela, né. Ai eu num vou dar conta não, morro de amor com criança, Ana.—a vozinha fina continua, ela era adorável.

Nossa noite passou regada de brincadeirasa, acho que nunca ri tanto de uma vez só. Vitória além de linda era engraçada, sabia levantar o astral de uma pessoa como ninguém. Nossos pratos chegaram e provei que sua fala enaltecendo aquele lugar tinha mais que razão, realmente, era incrível. Nós conversamos sobre tudo imaginável no mundo, fiz questão de elogiar a peça e sua incrível atuação, e tive a honra de presenciar pela segunda vez suas bochechinhas ficando vermelhas, acabei por descobrir algo novo sobre ela, Vitória era bem espontânea, esvoaçada, adorava conversar, fazia amizade até com as arvores, mas quando um elogio era direcionado a sua arte, ela ficava toda sem jeito.

A noite só acabou quando ela estacionou em frente ao meu prédio. Todo o percurso de volta passamos cantando alto as músicas que tocavam na rádio e rindo dos motoristas estressados que xingavam Vitória e sua desatenção

-Obrigada pela noite linda, Ana.—Ela sorri, fazendo seus olhinhos fecharem como sempre acontecia.

-Obrigada tu por tudo, Vi.—Agradeço sinceramente. Ela me abraça novamente, deixando um beijo no topo da minha cabeça. Beijo sua bochecha rapidamente e saio do carro num pulo. Entro no prédio sem conseguir conter o sorriso, e prossigo assim até entrar no meu apartamento. Suspiro indo direto para o banho.

Após sair do banho e vestir o pijama, pego o violão e sento no chão da sala. Fazia mais de cinco meses que eu não escrevia nada, minha inspiração estava abalada, assim como meu tudo. Mas hoje foi diferente, pego o caderninho abandonado em cima da mesa e escrevo as palavras que me veem a mente tão facilmente.

"É que tu tem asas nos pés,

e me faz querer voar também.

Tu é paz, tu é luz, tu é mar.

É encaixe."

Suspiro encarando a letra e lembro de imediato dela. Ela que tinha alma de pipa avoada, e que insiste em me convencer que sim, a vida é tão bonita.

É, pelo jeito eu escrevi, ou comecei a escrever uma música.

Uma música para Vitória.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora