Fugir.

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Acordo ouvindo vozes altas e alguns barulhos altos vindo do lado de fora. Parecia ser tarde, e ao ver o horário na tela do celular conclui que não só parecia, era. Levanto da cama rapidamente e corro para o banheiro. Apesar de já deixarem claro que eu pertencia a família, ainda me deixava envergonhada o fato de dormir muito em uma casa que não fosse a minha.

Tomo um banho rapidamente e me visto no mesmo ritmo. Quando enfim pronta, pego o celular e saio do quarto, já do topo da escada, percebendo de onde vinha todo o barulho. Hoje seria a festa de aniversário da avó de Vi, e dona Isabel pelo visto havia oferecido a casa para ser palco da comemoração. Diversas pessoas andavam apressadas de um lado para outro carregando decorações, e como se não bastasse toda a correria, na sala ainda estava reunida uma quantidade considerável da família de Vitória, que riam e falavam alto enquanto observavam Lis e o afilhado de Sabra encenarem ou tentarem, uma peça.

-Artista todinha igual a Vitória.—A tia de Vi comenta enquanto milha filha exagerava na dramatização. Sorrio para cena e ando até a cozinha, onde Vi, Sabra e Analu ajudavam Dona Isabel com os doces.

-Bom dia!—Falo animada chamando atenção das quatro mulheres.

-Boa tarde, né amor?—Vi responde rindo, vindo em minha direção e deixando um beijo rapido em meus lábios.

-Opa...—Respondo tímida fazendo Vitória rir.

-Oxe ligue não Ana, pode ficar a vontade, já disse que a casa é sua.—Dona Isabel diz simpática enquanto sinto meu rosto corar. - Agora senta aí e tome seu café tranquila, tem muita gente aqui pra eu colocar pra trabalhar, não se preocupe viu.

- Eu posso sentar pra tomar café então, mãe? - Vitória perguntou distraída.

- Você não, e vê se anda logo com esses doces, menina. - Dona Isabel falou saindo da cozinha com alguns doces deixando Sabra e Analu rindo da cara de ofendida que Vitória fez.

Terminei meu café o mais rápido possível e comecei a ajudá-las. O clima era sempre leve, todos seguiam animados e ansiosos para a hora da festa, e apesar do reencontro no aeroporto e do retorno a Araguaína, que sempre mexia comigo, trazendo lembranças boas e ruins juntamente com a sensação de medo constante, estar ali também fazia eu me sentir em casa. Ali, eu tinha o que só conheci com Vitória. Apoio. Não havia espaço para julgamentos, não havia espaço para dor e a minha família merecia isso. Fiquei imersa em meus pensamentos, revivendo o momento em que encontrei minha mãe, tudo que havia passado e o quanto a vida tinha mudado até ouvir Vitória me chamando.

- Amor? Ana? - Balancei a cabeça rapidamente afastando todo aquele turbilhão de pensamentos. - Tá tudo bem?

- Tá sim, tava só pensando.

- Acho melhor depois que a gente almoçar, colocar a Lis pra dormir um pouco, ela precisa descansar porque se não ela não aguenta a festa e vai ficar irritada.

Concordei com Vi e olhei de relance para a sala, onde Lis continuava sendo o centro das atenções, ela realmente tinha puxado a Vitória e adorava que os outros assistissem as suas encenações.

- Ela puxou a você. - Falei ainda olhando para a minha pequena.

- Devo dizer que realmente ela não herdou a sua timidez. - Vi disse orgulhosa por reconhecer que nossa filha tinha muito do seu jeito. - No entanto, ela tem os olhos mais lindos que eu já vi, parecem duas mini jabuticabas, iguais aos seus. - Ela se aproximou e me abraçou de lado.

O tempo parecia estar correndo mais rápido que o normal, e entre terminar os preparativos, colocar Lis para dormir e começar a nos arrumar, a hora da festa enfim tinha chegado. Eu não sabia explicar, mas cada minuto mais próximo de descer para a festa, mais impaciente e ansiosa eu ficava. Terminei a maquiagem e quando saí do banheiro, pronta para dizer a fatídica frase "não tenho roupa", tive a sensação de flutuar ao ter certeza de estar olhando para as duas mulheres mais lindas dessa vida. Vitória estava com um vestido longo preto contrastando com o vestido branco de Lis, que brincava em seu colo enquanto a mãe tentava colocar o laço em seu cabelo, me aproximei abraçando as duas e senti meu coração se acalmar por tê-las comigo.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora