Amor.

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Oi meusamô tudo! Como cês tão? Então quem me acompanha no twitter (@ceuatelua pra deixar claro) sabe que eu falei que tinha uma novidade, e que ela viria junto com o próximo capitulo. Bom, aqui tá o próximo capitulo, que é muito especial para mim então espero de verdade que cês gostem, e a novidade já tá lá no twitter!!!!! e eu, do fundin da minha alma espero que vocês se agradem também. Um beijin, e até o próximo.

Com amor, Mar.

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Por anos da minha vida eu me perguntei o que era amor, do que se tratava. A verdade é que eu nunca havia tido uma resposta concreta, uma conclusão. Eu havia certeza, amava papai, aquele que sempre me passou a imagem de herói, o que nos defendia das longas broncas de mamãe e nos dava doces escondidos das ordens dela, que sempre foi muito carrancuda. Mas mesmo assim, eu a amava também, pois de qualquer forma ela me moldou, mesmo que de maneira mais difícil, para encarar o mundo. Eu amava Rafael, meu irmão mais velho e melhor amigo, que mesmo sereno se colocava a minha frente em cada confusão que eu sem querer me metia, ele me apoiava, me encorajava a seguir com a música, mesmo que por debaixo dos panos, devido ao enorme tabu contido em minha residência sobre a relação entre música e futuro. Eu amava Luana, minha irmãzinha mais nova que mais me aconselhava que qualquer outra pessoa no mundo, nosso laço era inquebrável, nós éramos grudadas, desde pequenas, e ainda somos, de alma, mesmo de longe. Muito se passava em minha cabeça, consequentemente, muito também se passava em meu coração, e para poder me expressar, encontrei nas palavras debulhadas no meu caderninho de capa desgastada e nos sons que eu atribuía a elas pelo meu violão, a melhor forma para então fazer. Meu violão foi o primeiro amor da minha vida fora do meu circulo familiar. Quem me era próximo na época que eu o ganhei, sabia o quão especial ele era para mim. A música, no geral, era especial, era minha válvula de escape sempre, era nela que eu me refugiava todas as noites para esconder o choro frustrado em relação ao futuro me imposto. Era nela que eu depositava toda felicidade me acontecida, e toda tristeza e qualquer outro sentimento também. Entretanto, muito mudou.

Quando você é jogada no mundo sem pelo menos ter uma prévia de como viver, a vida te muda, e te faz aprender. Nos meus primeiros meses em São Paulo, eu mal saia de casa. Me afundava no pensamento da rejeição que vivi, e então a empurrei toda para o bebê em meu ventre. Minha cabeça imatura me fazia depositar toda raiva, repulsa e culpa nele, pequeno ser que crescia aos poucos, sem cuidados, sem amor, sem carinho, sem querer. Me culpei todos os dias após sentir seu chutinho em minha barriga, por ter o tratado assim. E com toda certeza de minha vida, digo, Ana Lis Caetano era o maior e mais puro amor da minha vida. A cada pequeno movimento dela, esse amor só se expandia. Eu era mãe, e só então pude entender que não havia tido aquele sentimento tão grande depositado em mim pela parte da minha, e eu não queria fazer igual, não iria.

A nova vida também me provou que os dizeres populares "Não existe amor em São Paulo" eram completamente mentira, e me foi mostrado desde a primeira aparição da mulher de juba bagunçada e sorriso alinhado, naquela quarta-feira ensolarada. Ela juntou sua voz na minha, e do nada, sua vida também. Ela possuía a alma mais bonita que eu tive a sorte de conhecer, ela nunca me pressionada, e estava disposta a estar do meu lado. Eu amava Vitória Falcão também. A amava por tudo que ela fazia, havia feito ou prometeu fazer por nós. Eu amava seu jeito brincalhão, assim como amava quando ela falava toda avoada sobre o céu. Eu amava a vozinha fininha que ela falava com a minha filha, amava vê-la se auto titulando "mamãe" sem querer enquanto eu espiava de longe, amava o jeito que ela amava o meu pedacinho. Eu a amava por ter ficado, e por permanecer ficando. Vitória provava todos os dias, nas pequenas coisas, seus sentimentos, e eu, mais tímida, mais retraída e menos acostumada com tudo aquilo, não sabia bem como agir, ou como me expressar diretamente a ela. Apenas escrevia muitas e muitas letras aleatórias sobre seu existir e as mantinha em segredo, até algumas noites de papo leve eu resolvesse, as revelar espontaneamente.

Eu não havia muita experiência de vida, no quesito idade, mas tinha total consciência que já havia vivido muito. Durante essas vivências, um relicário é criado em minha cabeça, e nele estava guardado todas as experiências preciosas e únicas que provavam o amor em minha vida. Seu intuito era enfim, me fazer algum dia conseguir chegar a alguma conclusão. E em uma das noites, onde a mulher mais espetacular do mundo dormia de corpo grudado ao meu, eu finalmente consegui.

Henry David Thoreau o definiu como doença, onde a cura era amar mais. Já Aristóteles o definiu como uma única alma que habita em dois corpos. Para Helbert Hubbard, é reciprocidade, e para Sófocles, é liberdade. Para Erich Fromm é resposta. E para Platão, é poesia. Muitos analisaram, sem chegar em um consenso, mas o consenso existia entre todos. O amor é isso, diferença que resulta em igualdade, confiança, resultado de apoio. Amor é puro, é único de muitas maneiras, é complicado mas tão simples, é vivido, diariamente, é sentido, por mim, por tu, e por todos. Amor não machuca, amor cura, refaz, desfaz e refaz novamente. Está em constante transformação mas sem perder a origem. Amor traz calma, paz, vontade, desejo, tudo aglomerado mas bem distribuído na pessoa certa. Amor não precisa de exagero, ele não tem pressa, pois no final, sempre se encaixa. A ligação de coração com alguém existe, de maneira única, em meio a tantos. Eu havia por sorte encontrado a minha, ou pelo universo engraçado, que sempre indicava o certo no final. Encontrei a minha em Vitória Falcão, e junto a ela e sua presença, encontrei a minha conclusão.

E por amá-la, eu temia, puxando a mala nada organizada pelo aeroporto, enquanto ela, de cara fechada e de olhos ainda lacrimejando, puxava a sua. Lis em meu colo dormia calmamente, sem entender nem um pouco do ar pesado que a rodeava. Já havíamos feito o check-in, e ao ver o SP-TO na passagem só fazia meu estomago embrulhar cada vez mais. Eu estava nervosa e queria chorar. Não era o momento que eu imaginava precisar voltar a todo meu pesadelo, mas Vitória precisava de mim, e eu estava ali para ela. Quando o voo é chamado, encho os olhos de lagrimas e levanto, andando em direção ao portão de embarque.

-Ninha, você não precisa ir. --Ouço a voz embargada dela, que segura minha mão me encarando com olhos chorosos. Voltar para aquela cidade e para perto de tudo que resultou em meses de recomposição doía, mas ver o meu amor daquele jeito me doía mil vezes mais. Vitória estava por mim em todos os momentos, estava na ultrassom, estava na escolha do nome, no parto, nos meus choros noturnos, estava na calma dos meus pesadelos, estava em tudo que me rodeava, e nesse tudo, sempre trazendo o melhor para o grande caos que eu vivia. Eu não poderia fazer menos, eu queria mostrar para ela que eu estaria ao seu lado sempre, assim como ela fazia questão de me mostrar. Dentro do sempre, tem esses momentos, e eu irei os encarar. Pois amor também passa por turbulências, e de coração junto, tudo fica bem no final.

-Vi. Eu te amo. --Falo determinada, em um fôlego só, de voz concreta, vejo seu rosto surpreso e até um sorriso de lado se formando antes de me virar e seguir até o avião, sem esperar sua resposta. Não foi de forma banal, foi de todo coração, para provar ao seu, que temia por mim, que nós duas, no caso, nós três, seria a força, tanto para mim, quanto para ela.

Sabra Falcão havia sofrido um acidente. Vitória, pelo pouco que percebi conhece-la, ela extremamente ligada a sua família, e isso só se fortificou mais após a perda do seu pai. Ela, sua mãe, avó, e as duas irmãs tinham a mesma ligação forte que eu possuía com Luana e Rafael. Naquele momento, ela estava desesperada, precisava voltar para então se fortificar, junto ao seu alicerce. Não sabíamos a situação de sua irmã, mas após ela me falar atordoada sobre, eu não sequer cogitei em acompanha-la. Talvez eu tivesse sendo extra, intrometida, mas após o olhar incrédulo regado de agradecimento, entendi, era o certo.

Não nego o medo e a tensão, todo o pesadelo da minha vida iniciou ali e acabou em resultar aqui. Eu preferia acreditar que não iria esbarrar com ninguém que me magoasse, mas a realidade de Araguaína era menor, todos se conheciam e logo logo as noticias iriam correr. Meu coração pulsava quando o voo decolou, e eu, checava a reação de Lis a cada segundo, temendo mais ainda uma reação errada partindo do organismo da minha pequena, mesmo ela tendo sida liberada pelo médico, acordado pela madrugada por duas mães desesperadas. Vi segura a minha mão, mas não falava. Eu a entendia, muitas vezes eu preferia não falar também.

O voo foi longo, saímos na madrugada e chegamos logo quando o céu clareou. Quando pisei em solo tocantinense pela primeira vez após todo o caos formado, me sinto um pouco perdida, mas dessa vez me renovo. Eu não estava sozinha. Não mais. Dessa vez eu tinha meu primeiro sol em meus braços e estava pronta para conhecer um pouco mais da história dela, do meu segundo sol, Vitória Falcão.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora