Pôr-de-lis

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Olha só mas quem voltou! Espero que gostem, meusamô. Beijo!

Com amor, Mar.

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Amar é sinônimo de cuidado, e isso eu só vim descobrir a relativamente pouco tempo, sendo um dos fatores que mais me provavam que não, eu não havia sido presenteada com esse sentimento durante toda a vida. Amar é sinônimo de respeito, de carinho, é sinônimo de "ouvi essa música e lembrei de você", de "se cuida direitinho", de "eu estou aqui pra você."

O amor é estar, mas as vezes, é deixar ir.

Vitória era o amor da minha vida. Essa era uma das maiores certezas que eu tinha, e olha, eram poucas. Seu olhar me fazia estremecer mesmo depois de toda convivência, seu sorriso renovava minha alma, suas palavras eram poesia para meus ouvidos, e era incrível como as coisas mais simplórias do mundo, como um "bom dia" seguido pelos olhinhos risonhos sonolentos se estreitando bem a minha frente, saindo pela boca dela, se tornava de imediato inspiração para mais uma música dela, para ela, sobre ela, que eu fazia.

Não tê-la ao meu lado na cama fazia meu estômago embrulhar. Não ter sua presença animada me deixava temerosa. Não tê-la não devia ser nem mesmo uma opção. E encarando fixamente seu olhar assustado, sério, a minha frente, me fez ter mais uma certeza na vida. Não existe Ana sem Vitória.

E por isso, eu calei. Silenciei. Dois passos para trás. Virei de costas. Abri a porta. Sai do quarto. Respiro fundo. Não repeti. Teria volta?

-Ana!—Ouço a voz animada de Sabra surgindo no corredor e pulo rapidamente com o susto.—Desculpa pelo susto.—Ela ri e eu acompanho, com menos intensidade, mais tensão.

-Que nada, Sabra! Aconteceu algo?—Pergunto já imaginando o que minha pestinha aniversariante deveria estar aprontando.

-Não. Vim só saber se você concorda de irmos para a cachoeira comemorar o aniversário da Lis. É pertinho e lá é lindo, aposto que ela vai adorar. Vitória pelo menos ama.—Sabra propõe e eu de imediato concordo com a ideia. Cachoeira é calmaria, e é isso que estávamos precisando.

-Claro! Vou só arrumar a Lis rapidinho e me arrumar. Avisar a Vi também.—

-Lis? Tá pulando com a minha Ana desde que vocês subiram. Duvido muito que ela queira sair daquela farra pra vir aqui viu.—A voz de Sabra soa risonha.—Precisa de muita coisa não, Ana. Só leva uma roupinha de banho pra ela e veste um biquini, só vai a família.—A mulher, de sorriso semelhante ao de Vitória, esbanja ele em minha direção, piscando após mencionar o programa em família e descendo as escadas logo em seguida. Saber daquilo me deixava de coração quentinho. Era bom ser acolhida.

Respiro fundo mais uma vez, entrando no quarto que havia saído poucos minutos atras, e encontrando Vitória do mesmo jeito que a deixei ali. Parada. Baixo a cabeça envergonhada e ando até as malas.

-Vamos para a cachoeira. Não vai se arrumar?—Falo após longos minutos de silêncio constrangedor. Com toda certeza, não havia ninguém com mais vergonha no mundo que eu naquele momento.

-Ah...claro.—Ela responde, com a voz mais rouca que o habitual, provavelmente pelo longo tempo que não falou nada.

Esse foi o nosso diálogo. Vitória seguiu para a sua mala e eu fui para o banheiro me trocar, quando sai, ela entrou, enquanto eu preparava a mochila, ela ajeitava a juba clara em frente ao espelho, mas quando sentei na cama para espera-la, ela me encarou confusa, e eu vi, de relance, mas vi, o brilho no seu olho.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora