Desafio.

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-Não acredito que tu chorou, Naclara. --Ouço Vitória rindo ao meu lado e a encaro.

-Mas o final foi lindo! --Tento justificar as lágrimas que eu derramei na sala de cinema minutos atrás.

-Nem foi, Ninha. Muito mal feito o filme, sem nexo nenhum.

-Vitória, não conteste as lágrimas de uma mulher grávida cheia de hormônios. --Brinco e ela intensifica a risada.

-Companhia da mulher grávida cheia de hormônios num diz mais nada. --Vi fala no mesmo tom me fazendo soltar um riso baixo. Ela passa o braço sob meus ombros e naquele chamego, caminhamos juntas até a praça de alimentação.

Era sexta à noite, Vitória não teria aula naquele dia, segundo ela, haveria uma palestra chata que ela não tinha interesse nenhum em assistir. É então que após passarmos o dia no parque, ela me convida para ir ao cinema e eu aceito de prontidão, com uma coisinha dentro de mim gritando por mais umas horinhas com sua presença. Estávamos no shopping, o filme havia acabado a poucos minutos e eu havia adorado e chorado bastante no final, já Vitória não parava de falar o quanto havia se decepcionado pois pelo trailer parecia superinteressante.

-Vai querer comer o que? --Ela pergunta assim que chegamos a praça de alimentação, que pelo horário, havia poucas pessoas.

-McDonalds! --Exclamo feliz, parecendo uma criança de seis anos que queria McLanche Feliz.

-Segundo as minhas anotações, a mocinha aqui tem que comer coisas saudáveis. --Ela enfatiza, me fazendo lembrar do quão encantador havia sido seu interesse em prestar atenção nas minhas negligências, colocando nas notas de seu celular os tópicos mais importantes da gestação.

-Ah não, Vi! Só hoje, por favor. --Junto as mãos em frente aos lábios, em apelo, a vendo me encarar com os olhos semicerrados. -Tô com desejo de Double Cheddar e um Milk-shake gigante de Ovomaltine.  --Ao pensar no lanche sinto minha boca salivar, era realmente uma necessidade e pelo jeito, meu primeiro desejo de grávida.

-Olha, eu num ia deixar não sabe, mas num tô querendo que nossa plincesa nasça com cara de hambúrguer não, então 'vamo'. --Sua voz soa engraçada, me fazendo rir um pouco alto. Ela me puxa para a fila do McDonalds e tira uma nota de vinte e dez reais da carteira.

-Nem vem, eu pago o meu. Tu já pagou o cinema, mulher. --Falo séria, vendo os olhos de Vitória caírem sobre mim.

-Nem vem tu, Ninha. Eu que convidei, eu que pago. --Vitória me estende as notas e eu finjo nem vê-las.

-Num vou pegar. --Cruzo os braços fazendo birra e ela sorri.

-Tu é teimosa, viu? --Dou de ombros, sorrindo de lado. --Então tá bom. Dessa vez eu deixo passar. Vou ao banheiro rapidinho e depois vou pegar algo pra comer. Jajá eu volto, tá bom? --Vi explica, e eu concordo com a cabeça. Ela então sai, e eu acompanho sua figura bem desenhada com o olhar, suspiro vendo aquela mulher incrível se distanciando. Que sorte a minha de pelo menos dividir os momentos com ela.

Sinto uma cutucada no ombro, era a moça que estava atrás de mim, avisando que era a minha vez. Sinto meu rosto corar, comprovando tamanho efeito de me tirar de órbita que Vitória tinha.

Faço meu pedido e pago, vendo o dinheiro que havia arrecadado hoje no parque ir embora de uma vez só. Espero minha senha ser chamada e assim que vejo meu número aparecer na telinha, ando até o balcão e pego o lanche. Caminho até uma das pequenas mesinhas da enorme praça e resolvo esperar Vi para começar a comer.

Dez, quinze, vinte minutos haviam se passado e nada dela. O cheiro do hambúrguer estava me fazendo ansiar mais e mais, mas eu estaca ali, lutando firme e forte contra minha vontade. Mais dez minutos e então resolvo me entregar, não sei porque Vitória estava demorando tanto, mas eu realmente queria comer aquele hambúrguer.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora