2 de Fevereiro de 2078
-Mãe, sério, eu vou acabar me atrasando.—Falo enquanto corro pelas ruas movimentadas de São Paulo. A pasta lotada de papeis em meu braço esquerdo e a minha pouca capacidade de equilibrar ela, uma bolsa e meu celular no ouvido, atrapalhava com toda certeza a minha velocidade para chegar ao metrô.
-Eu só quero saber como minha Ana Lua se sente em seu primeiro dia de trabalho, posso?—Mamãe pergunta debochada, me fazendo revirar os olhos enquanto sorrio.
-Claro que pode. Só que sua Ana Lua vai acabar caindo no centro de São Paulo por sua culpa, Dona Aurora.—Reclamo quando pela terceira vez durante o percurso, tropeço.
-Ih, tudo bem. Já vou indo, sua avó ta me chamando.—Ao ouvi-la mencionar sobre vovó, paro instantaneamente.
-Como ela está?—Pergunto preocupada.
-Melhor que nunca. Já voltou a andar direitinho, você sabe, precisa de muito mais que uma queda para derrubar uma Caetano Falcão.—Mamãe responde me fazendo sorrir automaticamente.
-Vovó Lis é literalmente dura na queda.—Volto a andar apressada ao ver rapidamente o horário no relógio.—Agora tenho que ir, mãe. Mande beijo pra todos dai, e diga que estou morrendo de saudades e que mal posso esperar para ir para Araguaína. Beijo, eu amo vo...—
Antes que eu possa terminar a frase, sinto um corpo se chocar com o meu, fazendo a pasta ir para um lado e meu telefone para o outro. Encaro estressada a mulher a minha frente.
-Presta atenção por onde anda.—Falo irritada, juntando minhas coisas do chão.
-Me desculpa, estava apressada e pelo jeito você também.—Ela ri e me estende a mão. A encaro de longe, os cachos claros e volumosos me faziam lembrar de alguém. Seguro sua mão e sinto no automático uma corrente elétrica estranha passar pelo meu corpo. Assim que me estabilizo em pé, encaro seus olhos claros sem jeito pela minha má educação de segundos atrás, e ela parece encarar na mesma intensidade os meus, nos fazendo entrar em uma bolha confortável de contato sem palavras e me fazendo até mesmo esquecer que se demorasse mais alguns minutos, perderia de passar uma boa impressão no primeiro dia de trabalho.
Aquilo estava me intrigando, eu conhecia aqueles olhos, mas não sei de onde.
E antes que eu possa me desculpar, uma mulher mais velha que estava bem lá na frente a olha de longe e a chama em tom alto:
-Anda, Vitória, vamos nos atrasar.—
***
Segundo algumas pesquisas, todos os sóis possuiriam um sol "gêmeo". Se isso é verdade, eu não faço a minima, mas o segundo sol seria um sol gêmeo. Gêmeo de Alma gêmea. A vida não é fácil mas quando o seu segundo sol chegar...ah! Sua felicidade estará nele, e ele irá realinhar toda sua órbita. Quando tudo estiver mal, ele estará lá, e quando tudo estiver bem, ele continuará bem ai, ao seu lado. Não precisa procurar, ele surgirá quando você menos esperar, ou já surgiu, e em breve você notará. Você vai saber, pois só ele faz seu coração disparar, só ele te faz sentir genuinamente feliz com o mais simples gesto possível. Só ele te faz sentir em casa em um abraço, só ele te tira do chão com apenas um olhar.
O acaso da vida nos proporciona encontros diversos. Eles servem para nos ensinar, nos ensinar a ser ou não-ser, nos ensinar a ver além o necessário e não ver o que não acrescenta. Família é o seu primeiro encontro, amizade vem logo após, também é encontro.
Amor, é encontro.
E ele chega.
E quando o segundo sol chegar...ah!
Fim (?)
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Segundo sol
RomanceAna Clara estava no meio do caos, literalmente. Sofrendo às consequências de um suposto erro, sua vida muda de cabeça para baixo, sendo obrigada a sair de sua pequena Araguaína para encarar a grande selva de pedra, São Paulo. Quem dera ela esse foss...