Fecho a porta de imediato, mas ele interrompe o processo com o pé, usando sua força dez vezes maior que a minha ao seu favor, voltando a deixa-la aberta.-O que você está fazendo aqui?—Sua voz grossa nojenta soa alto, fazendo meu estomago embrulhar. Eu tinha ânsia de seu ser, nojo, repulsa.
-Não te devo satisfação nenhuma. —Falo com a voz trêmula, tentando passar a imagem de segura, quando por dentro, eu temia com força aquilo ali. No automático, cubro o rostinho de Ana Lis, o evitando de até mesmo ter o prazer de ver a face serena dela. Só então ele percebe a criança no meu colo, e seu rosto empalidece rapidamente.
-É nosso filho? —Aquela frase atinge o ápice da minha paciência e da minha sanidade, me fazendo trincar o maxilar de ódio após proclamada. Ele me olha sorrindo e até tenta tocar na minha filha, mas eu me afasto em um pulo. Nicolas não teria o mínimo contato com a minha filha.
Flashback: Um ano atrás.
Eu encarava o teste de farmácia em minhas mãos com lágrimas nos olhos. Era o quarto que eu tinha feito, e o mesmo resultado estava estampado nele e em todos os outros, duas linhas. Faltava menos de um mês para meu aniversário de dezenove anos, eu mal havia acabado a escola e estava com a cabeça enfiada nos livros desde então para conseguir entrar em medicina, após não conseguir uma vaga de primeira. Eu não tinha tempo, estabilidade financeira e estrutura psicológica, mas eu tinha bem ali, um bebê em meu ventre.
Precisa ser muito azarado para chegar em meu nível. Sempre me guardei toda vida para a pessoa certa, e em minha mente, Nicolas era o certo. Nós namorávamos a mais de oito meses, ele, era famosinho na cidade, fazia todas as garotas suspirarem e eu chegava até a me exibir por ser a escolhida dele. Estupida. Ignorava todos os comentários sobre ele me trair mais que tudo que rodeavam a cidade, ignorava os pedidos para que eu me afastasse dele, por ele não ser uma boa peça. Para mim, e para minha cabeça imatura, o mundo girava em torno dele e de nós, eu estava apaixonada, amando. Pelo menos pensava que sim.
A vida de fato, é muito certeira. Nos presenteia quando precisamos ser presenteado, mas nos castiga quando é necessário também. Saio do banheiro escondendo os testes na bolsa e me perguntando o que diabos eu havia feito de errado para merecer aquilo. Eu havia esperado toda a vida, e só aconteceu uma única vez, após ele me pedir tanto e até brigar por aquilo. Eu entendia sua ira em minha direção, já estávamos juntos a tempos e eu cortava qualquer investida dele. Até que para agrada-lo, eu não cortei mais.
Meu coração romântico se despedaçou naquela noite. Não, não havia sido gentil, muito menos especial. No meio de tudo, enquanto eu forçava gemidos para ver seu sorriso de satisfação, eu me pergunto porque eu havia me guardado tanto para aquilo. Eu não sentia prazer, e ele não fazia questão de me dar, pois estava muito ocupado me usando para ter o próprio. Sinto até vontade de chorar, eu havia imaginado tudo tão diferente. Carinho, amor sendo expresso, toques delicados, e não tanta irrelevância e indiferença. Minha virgindade havia sido tirada da maneira menos esperada possível, mas para mim não importava, no final, ele sorria e me chamava de amor, não estava mais grosso e nem gritava sobre minha falta de segurança. Sorrio em sua direção, fingido que havia adorado, ele estava feliz, e era o amor da minha vida, está tudo bem.
Me atirei. Precipitei.
Fazia um pouco mais de um mês do acontecido e eu não havia o deixado repetir, fugindo com as desculpas mais sem lógicas do mundo e o deixando irritado e frustrado como antes. Eu não sabia como contar, nem o que esperar, porém, em meu coração, eu preferia acreditar que após tantas juras de amor trocado, ele permaneceria ao meu lado.
Ando até sua casa, era quase fim da tarde, e olhares estranhos eram direcionados a mim. Talvez pela minha pressa e cara atordoada enquanto andava, mas para mim, estavam todos conversando sobre minha gravidez precoce e como aquilo iria acabar com toda minha vida, enquanto riam e falavam palavrões a minha pessoa.
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Segundo sol
RomanceAna Clara estava no meio do caos, literalmente. Sofrendo às consequências de um suposto erro, sua vida muda de cabeça para baixo, sendo obrigada a sair de sua pequena Araguaína para encarar a grande selva de pedra, São Paulo. Quem dera ela esse foss...