O segundo sol: Epílogo

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Com amor, Mar.
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Encaro meu reflexo no enorme espelho que possuía naquele quarto. Eu me sentia estranha, mas não era um estranho ruim.

O vestido branco que eu trajava era leve, o pano fino da saia se movia delicadamente a cada brisa que passava pela janela e entrava no quarto. A maquiagem e o cabelo arrumado denunciavam do que se tratava aquele dia.

Era janeiro. Dessa vez, dois anos depois do janeiro no qual Vitória havia recebido o meu sim a seu pedido. O tempo passava voando, disso eu tinha total conhecimento.

Nós passamos dois anos para organizarmos nosso casamento. Vitória saltava de animação só de imaginar o evento, e eu, além de estar empolgada por conta própria, ficava mil vezes mais ao ver seu sorriso surgir a cada vez que aquilo era mencionado. Nós recusamos qualquer ajuda, e isso foi quase como uma exigência minha, que Vi concordou de imediato. Foram dois anos de trabalho para fazermos aquele dia se tornar realidade, e ele enfim havia chegado.

Eu estava nervosa, nervosa ao extremo. Seria uma cerimonia simples, apenas com os mais íntimos possíveis, e mesmo assim eu sentia meu estômago embrulhar ao cogitar falar alguma palavra errado ou até mesmo tropeçar nos saltos altos, o que era extremamente possível. Fora isso, eu não via Vitória desde a noite passada, quando Dona Isabel nos forçou a dormir separadas e avisou que só iriamos nos ver no altar. Eu estava com saudade. E era estupido, eu sei, pois não se passavam nem vinte e quatro horas sem contato com ela, mas meu corpo era ligado ao daquela mulher, e já ansiava pela proximidade novamente.

-Mamãe?—Ouço a voz infantil na porta e sigo com o olhar até a figura pequeninha ali.—Coloca isso aqui no meu cabelo, por favor?—Ana Lis se aproxima de mim, estendendo a presilha cheia de flores.

Lis havia recentemente completado cinco anos. Ela estava maior, obviamente, e me impressionava cada vez mais com sua inteligência. Minha pequena já não se referia a si mesma na terceira pessoa, já não precisava de ajuda para dar nó nos cadarços e nem para ler suas histórinhas. Eu, a dias atrás, a observava de longe, e acabei por soltar a típica frase "eles crescem tão rápido" de mãe nostálgica, fazendo Vitória gargalhar alto do meu drama e Lis desviar o olhar do seu desenho e encarar confusa a mãe de risada escandalosa.

Ana Lis Caetano Falcão era uma criança esperta, que esboçava o sorriso puro a quem quer que fosse. Ela era uma perfeita mistura, tendo os meus traços mas a personalidade de Vitória. Ela era parte de nós. De nós duas. Juntinhas.

-Claro, meu amor.—A vejo se aproximar de mim e assim coloco a presilha em seu cabelo.—Prontinho. Você está muito linda, filha.—A encaro cheia de encantamento, e ela sorri grande.

-Você que está, mamãe. Tá parecendo uma princesa...não não, uma rainha. A mais bonita de todas.—Rio da maneira exagerada que Lis havia se expressado e dou um beijo no topo de sua cabeça.—A  mãe também está linda demais. Parecendo outra rainha.—A olho curiosa e sinto de imediato a ansiedade de vê-la logo.

-Você a viu? Como ela está?—Pergunto e vejo a minha filha se distanciar.

-Ah não! Eu não posso responder, mamãe, a vovó Bel disse que é surpresa e me proibiu de falar qualquer coisa sobre a mãe, mas eu falo demais, então eu vou sair correndo e ir irritar a Tia Analu. Tchau.—Lis fala nervosa, ela parecia se segurar para não soltar alguma coisa e eu rio alto da maneira engraçada que a minha pequena saiu do quarto. Dona Isabel fazia mistério demais sobre casório, mas eu não tiraria sua razão, ela era uma mulher de muitos costumes, e Vi seria sua primeira filha a se casar.

Quando o céu já parecia querer iniciar a tomar tom alaranjado, vejo a porta se abrindo mais uma vez e por ela passando ela, minha mãe.

-Você está...—Dona Mônica se aproxima de mim, me olhando da cabeça aos pés. Esfrego as mãos em nervosismo e a encaro.—Incrível. Você está deslumbrante, Ana Clara.

Segundo solOnde histórias criam vida. Descubra agora