5 - Lisie

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O sonho do amor na guerra

Lisie não sabia que daquele dia em diante sua vida jamais seria a mesma. A começar por esconder as coisas dos outros, o que ela detestava. Mentiras só levam as pessoas ao delírio de sua própria consciência.

– Vem jantar, Lisie! – ouviu a voz da mãe a três andares abaixo de si.

Acordou de seus pensamentos e finalmente deu-se por conta que já era noite.

– Estou indo mãe. – gritou do quarto.

Desceu a escadaria da mansão e chegou à cozinha com o cabelo todo desarrumado. A mãe pareceu notar a aparência engraçada da filha.

– Você dormiu? – perguntou Edith.

– Não, mas a senhora sim.

– Estou muito cansada, acho que vou pedir a seu pai que contrate uma nova empregada.

– Coitada mamãe, ela vai ter que lavar tudo três vezes ao dia. – Lisie fez um deboche já que a mãe só sabia arrumar casa desde que o pai passou a se ausentar por longos dias.

– Empregadas são para limpar as coisas.

– Limpar é uma coisa, ser fanático é outra. A senhora está neurótica como o vovô. A senhora também foi para a guerra?

– Deixa de ser tola. Mulheres não vão para a guerra. E tome o prato. Vá servir seu jantar.

Que bom que a mãe não desconfiou que haviam "sumido" quatro pratos, oito talheres, duas jarras e algumas comidas.

Lisie pegou o prato e se serviu.

Comeu em menos de dois minutos, pois servira pouco e nem estava com fome.

– O que está havendo com você? – a mãe parecia assustada.

– Nada, por que mamãe?

– Não comeu nada!

– Comi sim.

– Comeu pouco.

– Estou sem fome, mãe. – Lisie irritou-se.

– Você arrumou o quarto?

– Arrumei.

– Debaixo do tapete?

– Sim. – "e nem imagine o que há debaixo dele." – pensou Lisie.

Uma breve pausa. A mãe parecia pensar.

– Tenho uma notícia. Acho que você vai gostar. – disse a mãe.

– O que? – por um momento passou pela cabeça de Lisie que a mãe de alguma forma mágica ou sobrenatural descobrira o seu segredo da tarde.

– Seus avós vêm, definitivamente, morar conosco. A Casa de Regensburg vai ficar fechada. Seu pai vai ficar mais tempo fora e eles estão muito decadentes. Precisam de cuidados mais próximos.

"Casa de Regensburg" era a denominação da casa de dois andares, um pouco menor que a mansão, onde vovô e vovó passaram a morar depois que Lisie, o pai e a mãe se mudaram para Stuttgart.

"Mansão de Stuttgart" era a residência dos Schmidt logo após o pai assumir seu grande e misterioso trabalho.

– Por quê papai vai ficar mais tempo fora? – a única parte que interessou Lisie de fato foi essa.

– É o trabalho dele filha. Ele cumpre ordens muito rigorosas.

– Eu gosto dele aqui, com a gente.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora