O sonho do amor na guerra
Lisie não sabia que daquele dia em diante sua vida jamais seria a mesma. A começar por esconder as coisas dos outros, o que ela detestava. Mentiras só levam as pessoas ao delírio de sua própria consciência.
– Vem jantar, Lisie! – ouviu a voz da mãe a três andares abaixo de si.
Acordou de seus pensamentos e finalmente deu-se por conta que já era noite.
– Estou indo mãe. – gritou do quarto.
Desceu a escadaria da mansão e chegou à cozinha com o cabelo todo desarrumado. A mãe pareceu notar a aparência engraçada da filha.
– Você dormiu? – perguntou Edith.
– Não, mas a senhora sim.
– Estou muito cansada, acho que vou pedir a seu pai que contrate uma nova empregada.
– Coitada mamãe, ela vai ter que lavar tudo três vezes ao dia. – Lisie fez um deboche já que a mãe só sabia arrumar casa desde que o pai passou a se ausentar por longos dias.
– Empregadas são para limpar as coisas.
– Limpar é uma coisa, ser fanático é outra. A senhora está neurótica como o vovô. A senhora também foi para a guerra?
– Deixa de ser tola. Mulheres não vão para a guerra. E tome o prato. Vá servir seu jantar.
Que bom que a mãe não desconfiou que haviam "sumido" quatro pratos, oito talheres, duas jarras e algumas comidas.
Lisie pegou o prato e se serviu.
Comeu em menos de dois minutos, pois servira pouco e nem estava com fome.
– O que está havendo com você? – a mãe parecia assustada.
– Nada, por que mamãe?
– Não comeu nada!
– Comi sim.
– Comeu pouco.
– Estou sem fome, mãe. – Lisie irritou-se.
– Você arrumou o quarto?
– Arrumei.
– Debaixo do tapete?
– Sim. – "e nem imagine o que há debaixo dele." – pensou Lisie.
Uma breve pausa. A mãe parecia pensar.
– Tenho uma notícia. Acho que você vai gostar. – disse a mãe.
– O que? – por um momento passou pela cabeça de Lisie que a mãe de alguma forma mágica ou sobrenatural descobrira o seu segredo da tarde.
– Seus avós vêm, definitivamente, morar conosco. A Casa de Regensburg vai ficar fechada. Seu pai vai ficar mais tempo fora e eles estão muito decadentes. Precisam de cuidados mais próximos.
"Casa de Regensburg" era a denominação da casa de dois andares, um pouco menor que a mansão, onde vovô e vovó passaram a morar depois que Lisie, o pai e a mãe se mudaram para Stuttgart.
"Mansão de Stuttgart" era a residência dos Schmidt logo após o pai assumir seu grande e misterioso trabalho.
– Por quê papai vai ficar mais tempo fora? – a única parte que interessou Lisie de fato foi essa.
– É o trabalho dele filha. Ele cumpre ordens muito rigorosas.
– Eu gosto dele aqui, com a gente.
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Amor na Guerra
Historical FictionROMANCE/FICÇÃO HISTÓRICA 4 de maio de 1943 Já faz 3 anos e 9 meses que a Segunda Guerra Mundial começou. E pouco mais de um ano que a "Solução Final para a questão judaica" foi posta em prática. Lisie Schmidt tem 17 anos . É uma alemã filha de um d...