O acordo perigoso
Como Derek ainda se encontrava em Stuttgart e estava cada vez mais ameaçador, tentava intimidar Lisie de todo jeito. Ela, herdeira de uma personalidade forte, sempre arrumava um jeito de não se deixar levar pelas intimidações do rapaz atrapalhado.
Assim, faltando uma semana para que Derek retornasse ao campo de Hoffnung na Polônia, ele provocou Lisie:
– Case-se comigo imediatamente ou conto para seu pai tudo que sei sobre você, suas crenças e seu envolvimento com um judeu.
Eles estavam na área externa da mansão. Lisie não se deixou intimidar.
– Meu pai é quem decide a data do casamento e não você. Você não tem nenhuma autonomia para modificar regras impostas por ele.
Derek ficou calado por instantes. Logo depois, tentou mais uma vez provocar Lisie.
– Eu sei que você não quer se casar comigo. Seu interesse em mim não é como antes. A nossa infância foi tão boa e alegre e você se deixa levar por um crápula infeliz. Judeus não valem nada Lisie, eles são a poeira que encobre seus pés quando você pisa, eles são a vergonha da humanidade, são assassinos de Cristo e pragas na sociedade.
Lisie, por impulso, deu um tapa no rosto de Derek, que se descontrolou.
– Eu vou contar ao seu pai! – e empurrou-a.
– Você ficou louco. Assim como todos os alemães. Vocês ficaram loucos, possuídos por essa ideologia suja!
– Já chega! – Derek esbravejou. – Hoje mesmo contarei ao seu pai.
Lisie pegou um esfregão que estava encostado na parede externa e repreendeu Derek com um golpe em sua cabeça. Ele tropeçou e caiu no chão apoiado por um joelho. Derek colocou uma das mãos em sua cabeça e percebeu um calombo. Urrou de fúria.
– Se disser uma palavra ao meu pai eu acerto pra valer e racho a sua cabeça ao meio.
– Não tenho medo disso, eu utilizo armamentos de fogo. Posso parti-la em mil pedaços com apenas uma munição.
Lisie ficou sem reação. Engoliu em seco.
Nesse momento, Edith chegou à área externa da mansão e mandou que os dois fossem para dentro. Nenhum deles preferiu dar detalhes sobre o ocorrido.
Ao sair, Derek disse que queria um encontro no dia seguinte, à tarde com ela em uma pequena praça ali perto. Ela concordou. Apenas precisava pensar em algo que mantivesse momentaneamente os Lipschutz a salvo.
Lisie estava deitada em sua cama, já era de madrugada e dessa vez ela preferiu deixar Caleb no porão. Ela havia pensado em uma estratégia nada justa para conseguir impedir que a notícia sobre os judeus chegasse ao seu pai: suborno. Ela foi até sua penteadeira, pegou seu porta-joias e o abriu. De lá, retirou um lindo bracelete de ouro e pedras brilhantes, não lembrava a ocasião certa em que o havia ganhado, mas aquilo serviria perfeitamente para subornar Derek Kupffer. Ela estaria comprando seu silêncio por um preço bem alto. Guardou-o em uma bolsa e, no dia seguinte, foi até a praça com a bolsa na mão.
Derek não estava sozinho e ela reconheceu quem o fazia companhia; era o mesmo tenente que dirigia o carro quando viajaram à Munique e, também, o que havia entrado em seu quarto na noite do aniversário de seu pai.
O tenente a cumprimentou com um beijo suave em sua mão, já Derek não fez muita questão de formalidades com a menina, o assunto era muito mais interessante.
– Diga-me onde está o judeu. – Derek foi direto ao ponto.
– Eu tenho uma proposta melhor... – Lisie também seria direta.
– O que é mocinha? Vai pedir gentilmente para que o deixemos em paz? Olhe para nós, somos soldados muito qualificados para termos dó dos outros. – Klotz parecia caçoar de Lisie.
Antes que Lisie pudesse responder ao comentário irônico do tenente Klotz, Derek disse que queria o casamento e a localização do judeu, caso contrário a notícia chegaria a Wichard e ele promoveria uma verdadeira busca à procura de um judeu tão íntimo assim de sua filha.
– Não faremos nada de mal a ele caso você facilite as coisas para nós. – Derek garantiu.
Lisie, é óbvio, não acreditou.
– Apenas teremos uma rápida conversa com esse sujeito. – Klotz ria de um jeito malicioso.
Com a bolsa ainda em suas mãos começou a tremer. Era muito perigoso tudo em que ela estava se metendo.
– Não quero que isso chegue aos ouvidos do meu pai... – Lisie disse sem olhar nos olhos de nenhum dos dois homens.
– Boa menina! Agora diga-nos onde ele está. – Derek até se levantou para saudar a revelação da menina.
– Mas, vocês não saberão de nada. – ela retirou da bolsa o bracelete.
– Quanta preciosidade! – Klotz disse ao admirar a joia que reluzia.
– Pensa que somos corruptos Lili? – Derek parecia enfurecido.
Lisie não respondeu a Derek, apenas fez suas considerações:
– Eu entrego essa joia a vocês e façam o quiser com ela, mas, em troca, vão ficar calados e fingir que nunca souberam disso. Posso confiar nos dois soldados?
Klotz de imediato adorou a ideia de possuir um objeto de tamanho valor, mas Derek permaneceu resistente. Disse que era um soldado honesto e fiel. Chamou-a de semita, corrupta e inescrupulosa. Lisie ignorou as ofensas dele, afinal ela deveria proteger quatro vidas.
No final da conversa, os dois ficaram com a joia e prometeram silêncio. Garantiram que o comandante jamais saberia dos atos contrários da menina. Até então, Lisie sentiu-se aliviada, mal ela sabia que aquele só era seu primeiro suborno...
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Amor na Guerra
Ficción históricaROMANCE/FICÇÃO HISTÓRICA 4 de maio de 1943 Já faz 3 anos e 9 meses que a Segunda Guerra Mundial começou. E pouco mais de um ano que a "Solução Final para a questão judaica" foi posta em prática. Lisie Schmidt tem 17 anos . É uma alemã filha de um d...