41 - Wichard

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O judeu de ouro

Ele estava muito satisfeito em ter capturado o judeu que mantinha uma relação próxima de sua filha. Foi um sucesso! Ele não demorou muito para descobrir a localização do sujeito, sua própria casa. Tinha mandado tropas para bisbilhotar Lisie em todo canto que ela fosse, e um de seus soldados, em uma noite que rondava a mansão, viu vultos na janela do quarto da garota. Voltou no terreno baldio no dia seguinte e ficou decepcionado. Não havia nenhuma pista ali. Até que um estalo surgiu-lhe à mente. Ele viu uma pequena entrada trancada. Pernoitou lá. Percebeu movimento e eis que em um dado momento alguém pronuncia um nome muito conhecido: Caleb. De fato, Wichard não sabia da existência de outro porão, muito bem projetado que dava acesso ao quarto de Lisie, mas tomaria providências para que ninguém mais entrasse ali. No dia certo em que Caleb chegou a Hoffnung, Wichard não se encontrava, e como o campo era lotado de prisioneiros, ele não sabia ao certo onde o judeu estava localizado. Pediu ao tenente Klotz que o localizasse o mais rápido possível e o trouxesse até ele. Isso demorou três dias para acontecer.

Wichard, por outro lado, estava muito aflito, a sua filha havia fugido de casa. Ele logo pensou no óbvio: revolta. Lisie com certeza planejou uma fuga por revolta, mas como estava ocupado demais com muito serviço a ser feito, organizou uma tropa especial para vasculhar a Alemanha atrás da menina, nunca passou por sua cabeça que Lisie havia chegado tão longe e estivesse tão perto dele. Ele não percebeu o sumiço de seu uniforme e nem dos bens do cofre, eram mínimos detalhes que Wichard assegurava estarem protegidos e que, também, não tinha tempo para averiguar. Ficava muito pouco em casa.

O tenente Schulz, um de sua confiança, estava envolvido nessa tropa. Já Klotz e Derek continuavam suas tarefas no campo. O sargento Strauss também estava ganhando a confiança do comandante. Ele continuava com sua função de conduzir as pessoas à morte.

Constantemente, os soldados precisavam de alguém para fazer serviços domésticos na Casa dos Soldados. Havia alguns meses em que uma jovem judia trabalhava como empregada lá, quando Wichard voltou, percebeu que precisava de mais uma pessoa para o serviço. Decidiu pegar uma criança, pois com as mãos pequenas, realizaria as tarefas com mais perfeição. Equívoco. Um menino judeu de oito anos foi o escolhido.

Quando finalmente Wichard ficou frente a frente com Caleb, o sangue ferveu lhe as veias. Seu rosto se corou de vermelho. Chovia forte em Hoffnung, trovões e relâmpagos traduziam a forte tempestade. A figura estava ali, com roupa listrada, cabeça raspada e totalmente imóvel. Assim como os demais prisioneiros do campo. Wichard examinava o judeu com os olhos. Nada disse por dois minutos. Não conseguiu imaginar sua filha se relacionando com aquele traste.

– Eu só queria saber de uma coisa... – Schmidt levantou de sua cadeira, caminhou para frente da mesa de seu escritório em Hoffnung e com a mão no queixo, prosseguiu. – o que você fez com a minha filha. Você a contaminou com seu sangue sujo, você é uma vergonha para a humanidade, para a raça ariana, para o universo inteiro. Você deveria estar morto!

Havia um copo de vidro sob a mesa do escritório de Wichard, ele pegou o objeto e arremessou-o acertando a lateral esquerda da testa de Caleb que começou a sangrar. O judeu permanecia calado.

– Você mexeu com a menina errada. Olha quem é o ilustre pai dela. Olha para mim! Felizmente ela tem alguém para defendê-la. Minha vontade é de acabar com você aqui mesmo seu crápula.

Wichard não resistiu, partiu para cima de Caleb e começou a dar-lhe murros e pontapés. Espancou-o até descontar toda sua raiva. O judeu, agora, sangrava também pelo nariz. Estava definhado no chão, porém acordado.

– Você vai sofrer um pouquinho antes de morrer. Vai se arrepender por ter encostado na minha filha.

Daquele dia em diante, Caleb também trabalharia na Casa dos Soldados.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora