Morto por 10 dias
Derek Kupffer sozinho prendeu suas mãos atrás de si e o conduziu a um lugar distante. Mesmo que dentro do imenso campo de Hoffnung, aquele lugar parecia tão isolado quanto era possível. Era a verdadeira solitária. Um cômodo bem menor do que o porão que abrigava Caleb e sua família na casa de Lisie.
Ele entrou por uma porta de ferro e foi arremessado ao chão por Derek que ainda lhe deu um chute.
– Dessa você não escapa. – o soldado gritou.
Kupffer trancou a porta de ferro do lugar e deixou Caleb lá sozinho e trancado. A espécie de "janela" que tinha no local era suficiente para colocar apenas uma mão para fora e ao Caleb se abaixar para ver qual vista aquela "janela" proporcionava, ele não conseguia ver mais que dois canudos de fumaça preta.
Todos os dias no fim da tarde, Derek aparecia com a sopa rala e meio copo de água. Antes de entregar a ração ao judeu, ele lhe pedia que ficasse de pé, depois o pedia que desse uma volta em torno de si. Às vezes lhe dava um soco no rosto ou na boca do estômago e por fim deixava a ração lá.
Com pouco ar para respirar e bastante subnutrido, Caleb ia definhando ainda mais do que quando trabalhava. Já no quarto dia de isolamento, ele não conseguiu ficar de pé como ordenava Derek e este lhe espancou. Para piorar tudo, o soldado jogou a sopa rala no judeu o que o fez ficar sem nenhum tipo de alimento por um dia. O meio copo de água de longe saciava a sede.
Caleb ficou deitado no chão poeirento implorando um pequeno milagre que o tirasse abruptamente dali.
Começou uma tempestade do lado de fora e como a construção era precária, goteiras surgiram no cômodo. Ele não hesitou. Arrastou-se pelo chão empoeirado e realizou o único movimento que foi capaz: abrir a boca. As gotas de água da chuva caiam dentro de sua boca perfeitamente e ele ficou ali deitado por longas horas matando sua sede.
Ele dormiu um sono profundo o que não acontecia há meses. Quando acordou, percebeu que uma figura vestida de negro o velava.
– Olá. – a voz era imponente.
Ele não teve forças para dizer nada, seus olhos apenas focalizaram um soldado alto e loiro e ele lembrou-se de tê-lo visto uma única vez, mas não se recordava em qual ocasião era. A sua mente estava bem embaralhada e sórdidos detalhes fugiam-lhe com facilidade.
– Certamente não vou perguntar se você está bem porque eu sei que não está.
Depois Caleb percebeu que o soldado portava algo em sua mão como um prato coberto por um pano.
– Eu trouxe isso aqui para você. É o meu almoço, mas eu posso conseguir outro depois.
O soldado ofereceu-lhe a farta refeição que estava contida no recipiente. Caleb teve forças para levantar a cabeça.
Ao perceber a indisposição do rapaz, o soldado pôs o prato num canto e o ajudou a se sentar, recostando-o na parede. Ele depositou o prato cheio de comida no colo de Caleb, retirou o pano e lhe deu os talheres. Caleb não se moveu.
Percebendo o tamanho da fraqueza do judeu, o soldado decidiu realizar mais um ato caridoso: colocar a comida na boca do rapaz.
Caleb ficou constrangido. A sua mãe lhe deu comida pela última vez quando tinha ele tinha quatro anos e ele já estava com quase vinte!
Por fim, os dois entenderam que aquele ato seria o melhor a se fazer no momento.
Caleb se sentiu revigorado ao terminar a primeira refeição decente desde que chegara a Hoffnung. Ele já tinha forças pelo menos para pronunciar palavras e manter seu corpo sentado sem o apoio da parede. Pelo menos uma parte do milagre estava se realizando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor na Guerra
Historical FictionROMANCE/FICÇÃO HISTÓRICA 4 de maio de 1943 Já faz 3 anos e 9 meses que a Segunda Guerra Mundial começou. E pouco mais de um ano que a "Solução Final para a questão judaica" foi posta em prática. Lisie Schmidt tem 17 anos . É uma alemã filha de um d...