A estupidez do comandante
Wichard estava cada vez mais infeliz. Dentro de seu quarto em Hoffnung, ele fazia suas preces e clamava ao Senhor que trouxesse Lisie de volta. Já fazia mais de um mês que ela havia desaparecido e ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Ele entrava em contato com a família em Stuttgart, todos estavam desesperadíssimos. O padre estava a ponto de enlouquecer. Um dia, ele chorou em seus aposentos apreciando a fotografia da filha segurando a sua flauta que ele deixara em sua mesa no escritório.
As notícias da tropa eram sempre negativas e mais notícias ruins viam bater a porta de Wichard. Alguns de seus soldados seriam convocados ao front de batalha devido à escassez de pessoas lá. Descobriu também, por seu pai, que seu irmão Werner e seus dois filhos Hans e Artur foram convocados à prestação de serviço militar. Ele entrou em estado de choque. Werner era seu irmão mais querido. Os dois sempre foram próximos e faziam travessuras juntos, ao contrário de Wilmer que era mais quieto e centrado. Os dois sobrinhos eram igualmente queridos. Em seu sonho de ser pai de um menino, ele se divertia com os sobrinhos Hans e Artur, tudo que sonhava em fazer com o filho que nunca teve. Isso não quer dizer que não amava Lisie, ela foi o maior presente que ele já ganhou na vida. A sua princesa.
Wichard não suportaria perder a filha, o irmão e os sobrinhos. Isso era demais. Ele estava arrasado.
Dentro de seu trabalho como comandante, ele sentia nojo toda vez que se deparava com Caleb. Ele tinha vontade de mandá-lo ao muro e fuzilá-lo sem piedade. Mas, queria cumprir com sua palavra de deixá-lo por ali sofrendo.
Com seu estado psicológico totalmente perturbado, Wichard sempre estava no campo com uma arma em punho. Ele saia atirando em qualquer prisioneiro que atravessasse seu campo de visão. Ele não gostava de tocar em prisioneiros, mas depois que espancou Caleb em seu escritório, começou a avançar nos prisioneiros e espancá-los até a morte. Numa ronda noturna pelo campo, ele entrou em uma das fábricas de suas dependências e saiu atirando para tudo em quanto é lado. Matou cinco nessa noite e outros que ficaram feridos, ele atirou de novo e os matou. Tratava seus soldados com mais ignorância ainda e perdia a paciência com todos, sem exceção.
Entre prisioneiros e soldados surgia o boato que o comandante havia ficado louco.
Por vezes, alguém o escutava berrando palavrões sozinho. Enfurecido, ele empenou a porta de entrada da Casa dos Soldados com um chute. Depois, arremessou uma garrafa de vinho cheia na parede que se espatifou toda. Ele chutava ou dava socos em tudo que encontrava, mas não era loucura, era uma maneira de descontar seus sentimentos.
O tenente Klotz surgiu em seu escritório numa tarde de domingo. Ele vinha lhe trazer uma notícia até razoável. O empresário Schneider queria contratar judeus para sua fábrica. Wichard achou interessante. Após forçá-lo a contratar dez míseros ratos, ele agora queria uma demanda até considerável de judeus.
– Mande os que estão na cabana 445. – ordenou o comandante.
O tenente já ia se retirar do escritório quando parou e deu meia-volta.
– Herr comandante, tem algo que observo aqui na casa. É aquele menino que o senhor mandou que trouxéssemos. Ele não faz nada direito e vive comendo escondido.
Wichard deu razão ao tenente. O menino de nada era útil. Com sua repugnância a judeus ele ordenou rindo:
– Quando avistar o Strauss com a fila que vai para as câmaras, leve o menino e o ponha na fila.
– Entendido Herr comandante. – Klotz prestou continência, saudou Heil Hitler e saiu.
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Amor na Guerra
Historical FictionROMANCE/FICÇÃO HISTÓRICA 4 de maio de 1943 Já faz 3 anos e 9 meses que a Segunda Guerra Mundial começou. E pouco mais de um ano que a "Solução Final para a questão judaica" foi posta em prática. Lisie Schmidt tem 17 anos . É uma alemã filha de um d...