18 - Capítulo Triplo

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As três almas: Lisie, Wichard e Caleb

Caleb:

Sem dúvida aquela foi uma noite mais que emocionante. O beijo mais doce e gostoso que dera toda em sua vida, na garota mais linda do mundo. Sentir os lábios de Lisie nos seus era a melhor e mais perigosa sensação do mundo. E quando ela disse que não se importava com Derek, seu coração de judeu ficou tão feliz quanto o possível. A lua que sempre fazia questão de completar a cena romântica e o sentimento de Caleb que era maior do que tudo naquele momento.

As pulsações de seu coração voltaram-se de amor para medo em questão de segundos. Ele viu pela primeira vez a sombra negra que corrompia todos os prazeres judaicos, aquela escuridão que o perseguia desde a Polônia e que agora estava diante de seus olhos em carne, osso e uniforme negro. O arrepio tenebroso que corrompia Caleb da cabeça aos pés.

Lá estava em pé, bem no ângulo da fresta do armário, o comandante Schmidt todo coberto pelo manto negro da SS, os cabelos castanhos e lisos bem penteados e o quepe na mão esquerda. Ele encarava a filha que parecia uma formiga em sua frente. A sua face denunciava o quão perverso e cruel ele deveria ser e Caleb pensou no que o comandante faria se o visse lá.

"Prefiro nem pensar." Ele conversava consigo com aflição.

– O que você está fazendo minha princesa? Acordada essa hora. – ouviu a voz grave de Wichard e isso o arrepiou ainda mais. Estava ouvindo o terror da humanidade conversar docemente com a filha adolescente que escondia judeus. E aquela palavra... "princesa" que ele pronunciou mostrava o perigo há muito mais perto do que uma mente humana imagina.

Respirava com dificuldade. Sentia seu corpo se entregar devagar ao silêncio da eternidade, mas ele tinha que ser forte.

Percebeu um olhar rápido do comandante para a fresta do armário onde ele estava. Sentiu que ia desmaiar.

– Filha, está muda? Por que está me olhando com esses olhos? E por que o armário está entreaberto? Ele estragou? Fale comigo Lisie! – não se podia captar voz alguma da menina. – e esse gato? De onde surgiu?

Caleb, mesmo com seu medo lhe perturbando todo seu corpo físico sofrido, viu o comandante aproximar-se de seu "esconderijo" improvisado e isso lhe causou um sério mal estar.

Wichard em seu campo de visão foi se tornando um vulto bem negro, depois um borrão de tinta no escuro, a voz grave dele ia desaparecendo... A escuridão virou o conforto de Caleb Lipschutz, o jovem judeu escondido no porão do feroz comandante Schmidt.

Wichard:

Depois de tanto tempo fora de casa, uma folga que surgiu inesperadamente foi o suficiente para ele se dirigir a Stuttgart e matar a saudade dos familiares principalmente da filha. Ele precisaria voltar ainda no dia seguinte, mas valeria a pena passar um tempo em casa.

Com certeza, naquela hora da madrugada ele não esperava encontrar sua princesa acordada e totalmente estranha. Ela tremia, seus olhos estavam arregalados e aflitos e ela não falava nada. Um gato muito pequeno, branco e cinza estava na cama da filha e nem de pijama a menina estava.

Quando chegou ao corredor e viu a luz acesa pela porta pensou ser um ladrão ou um delinquente que ousava invadir sua mansão. Mas aquilo estava muito estranho: a filha, um gato e, ele podia jurar haver alguma coisa no armário.

– Estou falando com você Lisie. – estalava os dedos na frente da filha.

– An? Ah! Papai, eu... an... o que o senhor falou?

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora