55 - Lisie

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O resgate final e o aparecimento de Hans Schmidt

Schneider já tinha demitido seus funcionários poloneses e já havia admitido os funcionários judeus que estavam aprisionados no campo de Hoffnung. O tenente Klotz veio conversar com o empresário a mando do comandante que estava muito abalado. Foi a primeira vez que Lisie teve notícias de seu pai depois de fugir de casa.

De posse dos documentos que constavam quais judeus estavam empregados na fábrica de munições bélicas de Schneider, Strauss e Lisie se reuniam todas as noites no escritório do empresário juntamente do próprio. Eles discutiam sobre tudo: comida, roupa, transporte, alojamento e principalmente em como iriam retirar um contingente gigantesco de pessoas em mais ou menos 15 minutos de dentro do temeroso campo.

Strauss sugeriu que ao terminar o resgate, um trem partisse com duas mil pessoas e que dentro dos vagões fossem deixadas comida, água e roupas para os resgatados. Schneider sugeriu dar sequência no plano até que sua fábrica ficasse mais vazia e assim pudesse abrigar mais gente por perto, já que a maioria dos prisioneiros eram poloneses. Lisie concordou com tudo, apenas alertou que levaria a família Lipschutz e Samuel com ela para a Alemanha. Durante essa reunião, Lisie despejou seu dinheiro e suas joias na escrivaninha de Schneider e disse que tudo aquilo deveria ser usado para o bem dos prisioneiros que seriam resgatados. Ela apenas guardou uma tiara de ouro e alguns marcos de volta na mochila e disse que aquilo serviria para uma ocasião futura.

Com aquele dinheiro foi possível comprar roupas e comida e subornar os maquinistas dos trens, assim como pagar os funcionários de Schneider nas outras empresas.

No final de julho de 1944, mais precisamente no dia 28, Strauss chegou cantarolando no escritório. Lisie havia deixado Samuel e Schuzy dormindo no cômodo em que lhe servia de abrigo. Ela e Schneider acharam gozada a atitude do sargento e ele logo explicou os motivos de sua alegria: o primeiro era que o exército alemão estava recrutando oficiais da SS para o front de batalha, principalmente na própria Polônia, em que o exército vermelho já estava ocupando. O segundo era que os Aliados (ingleses e estadunidenses) haviam chegado à França em junho e isso facilitaria o resgate dos judeus e por logo, ocupariam Paris. O terceiro e principal motivo era que Strauss havia sabotado a câmara de gás de Hoffnung. Ele descartou as pastilhas de cianeto Zyklon-B e quebrou um equipamento da indústria farmacêutica que fabricava o cianeto nas dependências do campo, o que demoraria dias para o conserto, e dentre esses dias era que o resgate deveria acontecer. Era o fim do extermínio em massa no campo de Hoffnung.

Tudo aconteceu no dia 8 de agosto de 1944. Um trem já estava carregado com roupas, água e comida a espera de duas mil pessoas, ele seguiria para a França. Lisie se disfarçou de soldado novamente e pediu para Samuel ficar na companhia de Schneider e Schuzy no escritório.

Strauss lhe daria um sinal para ela entrar no campo e liberar os barracões. Os portões de Hoffnung estavam abertos e o sargento fez o sinal positivo para que ela entrasse. Durante uma correria cansativa pelo campo, Strauss disse que havia derramado seis frascos de tranquilizante na janta dos soldados – frascos que haviam sido trazidos por Schneider no mesmo 28 de julho e que ele conseguira com um amigo polonês farmacêutico – e que ainda sobraram dois para um caso de emergência. Ele também comunicou que os soldados que faziam guarda estavam no lugar dos crematórios, que ficava mais distante do campo. E eles agora tinham 13 minutos.

Lisie tirou o quepe da cabeça para não parecer uma ameaça e foi entrando nos barracões e ordenando que todos saíssem. Era de fato um bom horário, pois era na hora da ração e todos estavam em seus alojamentos. Os que vigiavam os prisioneiros ou estavam sob efeito de droga, ou no crematório sem entender nada, graças aos truques enganadores de Strauss.

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