42 - Caleb

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A morte

           

Hoffnung era o inferno.

Aquele comboio havia levado Caleb para o inferno!

Ao chegar ao campo, todos organizados em fila, foram examinados por vista e toque por um médico e um soldado. A hora mais trágica foi quando ele e seu pai foram postos em fileiras diferentes da mãe e do irmão. A mãe que foi transferida de lado abruptamente. Ele nunca mais os viu. Enquanto a sua fila, da direita, seguia rumo ao desconhecido, ele olhava para trás para conseguir localizar a mãe e o irmão pela última vez.

Ao chegaram a um lugar não muito diferente de toda aquela paisagem horrorosa, o soldado ordenou que ficassem completamente nus. Suas roupas foram recolhidas. Entraram num barracão aonde iam passando por segmentos como se fossem mercadorias. Primeiro, rasparam-lhe os pelos do corpo todo, depois o tal médico pediu para que desse vinte voltas em torno de um caixote e que agachasse dez vezes, quem não conseguiu fazer isso, foi retirado dali por soldados, depois marcaram-lhe, molhando uma agulha num balde de tinta preta, com seis números que eram 866522, os de seu pai tinham o final 3, ele não pode expressar, mas sentiu muita dor quando lhe tatuaram esses números. Por último deram-lhe uma roupa listrada e um sapato de madeira.

O barracão em que foi alojado era o 247 que ficou lotado. Em um beliche de madeira do fundo do barracão, ele se acomodou com seu pai e mais sete homens. No inicio, trabalhava em uma fábrica de equipamentos eletrônicos usados na guerra junto com seu pai que estava com muita raiva dele, os dois nem conversavam direito.

– Quem é Caleb Lipschutz? – os soldados não costumavam chamar os judeus pelo nome, sequer sabiam o nome dos judeus. Mas aquele soldado loiro chamara seu nome completo. Ele sentiu que iria morrer ali mesmo na frente de todos.

Ficou calado. O loiro pegou um homem esquelético que estava ao seu lado e apontou a arma para ele.

– Apresente-se senão eu mato esse aqui.  – o soldado gritou, ele falava em alemão.

Foi assim em todos os barracões que o tenente entrou. Ele assassinou um prisioneiro em cada um deles, mesmo que o referido judeu não estivesse presente.

Caleb apenas levantou o braço. Foi o suficiente para ser puxado e levado para fora do barracão. Sentiu que jamais voltaria.

Ele andou cerca de meio quilômetro na chuva até uma casa mal cuidada, entrou pela porta dos fundos e escoltado, foi trancafiado dentro de um escritório junto com aquele que já conhecia: Wichard Schmidt.

Por lá, foi humilhado e espancado mais uma vez. Permaneceu o tempo todo calado e quieto. Trabalharia naquela casa a partir de então.

Ao voltar ensanguentado para o barracão, o pai lhe perguntou, em iídiche para que nenhum soldado entendesse:

– Está feliz agora? É essa a vida que você queria num é?

Ele nada disse apenas adormeceu.

Amanhecer em Hoffnung era outra tortura. Eram acordados as quatro da manhã, conferidos por chibatadas e levados para fazer suas necessidades diante do constrangimento de todos estarem olhando. Os pés com sapato menor doíam muito, ainda mais para Caleb que tinha que andar todo dia.

Em seu primeiro dia de trabalho na casa, ficou na cozinha. Ao chegar, avistou um menino abatido sentado em um caixote enxugando pratos. Pensou se tratar de seu irmãozinho.

– Joseph é você?- ele perguntou em iídiche.

O menino não olhou para trás.

– Joseph? – ele insistiu.

– Samuel. – ele disse baixo e sem se virar.

Caleb ficou triste ao perceber que não era seu irmão e resolveu deixar para lá, pois não sabia em qual idioma deveria dialogar com o menino.

– Já acabou meu bem? – uma voz feminina doce que Caleb conhecia soou em alemão.

Quando a menina entrou na cozinha, também vestida de roupa listrada, sapatos de madeira e magra, porém com cabelo, Caleb reconheceu na hora. Ela pareceu assustada ao ver o rosto dele.

– Caleb? – ela indagou.

– Hanna! – ele sorriu.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora