Luz para Caleb
1- Estamos vivendo uma guerra desde 1939. Os que lutam ao nosso lado são: Itália e Japão formando o denominado "eixo".
2- Acho a guerra desnecessária.
3- Desde a chegada de Hitler ao poder, as ideias de um Reich alemão são colocadas em prática.
Anotações de Lisie em relação aos judeus:
1- São gente, como eu e todos.
2- Merecem atenção.
3- Sofrem perseguição sistemática desde 1935.
4- Há boatos que se você entrar em contato constante com judeus, eles vão nos contaminar com seu sangue impuro.
5- São inimigos, responsáveis pelo fracasso econômico e por fazer centenas de alemães pobres.
6- São traidores, ratos.
7- Um fato: eu não acredito nessas bobagens que eles dizem.
É nítido que Lisie tem um coração puro.
Já era noite. Seu pai saiu em direção ao emprego, o qual Lisie podia afirmar agora que detestava, embora a verdadeira imagem do campo de concentração e extermínio não estivesse totalmente clara em sua mente.
Derek a atormentou pela tarde inteira falando de coisas sobre o seu pai e incentivando-a a ler Mein Kampf. Ela não faria isso.
– Seu pai é uma pessoa brilhante Lili, de muito respeito. – ele dizia quase de meio em meio minuto.
– Não sei se prender pessoas é algo brilhante. – ela sempre dava a mesma resposta.
Mas aquela noite foi talvez a melhor de sua adolescência.
Após verificar se todos na casa haviam dormido, e por sorte o maluco do Derek não tinha inventado ainda de querer dormir lá, ela mais que depressa desenrolou o tapete, deu duas batidas na tampa, abriu-a, desceu a escada de madeira velha e chegou ao local onde se sentia muito bem: o porão.
Lá estavam as quatro pessoas deitadas num emaranhado de cobertas e roupas e um cheiro terrível tomou conta das vias aéreas de Lisie.
– Boa noite. – Lisie falou tão baixo que era quase inaudível.
Alguém mexeu no emaranhado de panos. Levantou a cabeça. Era Caleb.
– Oi, Lisie?
– Sou eu Caleb. – ela reconheceu a voz.
Não viam nada. A escuridão era total. Caleb se levantou e foi andando meio atrapalhado, chegou a tropeçar três vezes. Mas enfim, chegou à ponta da escada de madeira velha e Lisie pôde sentir sua mão grande e ossuda em seu braço.
– Tudo bem? – ela perguntou sorrindo.
– Agora sim. Pensei que você tivesse nos deixado.
– Mil desculpas, Caleb, meu pai estava aqui o dia todo e eu não podia deixar de ir vê-lo. Ele ficou um mês fora de casa.
Um silêncio na escuridão. Lisie podia sentir a respiração de Caleb bem perto da sua. Ela quebrou o silêncio:
– Deixei vocês com fome. Vou subir e pegar a janta.
Lisie não pode deixar de perceber o cheiro horrível que acomodou o porão.
– Que cheiro é esse?
– O Joseph fez xixi fora do pinico hoje.
– Vocês tem um pinico? – Lisie pareceu surpresa.
– Na verdade é uma caixa onde a gente...
– E para onde isso vai? – Mais surpresa.
– Para a outra entrada do porão.
Lisie nunca havia pensado em satisfazer seus amigos dessa forma. Por isso ela resolveu dar uma limpeza no porão naquela noite quente.
– Vou dar um jeito nisso! Mas preciso de você. – dessa vez ela encostou-se ao braço fino e longo de Caleb.
– Só dizer o que tenho que fazer.
– Vamos até lá comigo. – ela apontava em direção à escada de madeira velha.
– Não posso ir até lá Lisie. – ele parecia tremer na escuridão.
– Vamos, todos já estão dormindo.
– Não...
– Não tenha medo confie em mim. – ela abraçou o rapaz.
Ele respirava tão densamente. Parecia ter muito medo.
– Vem comigo, Caleb. – a menina sorria no escuro.
Segurou a mão do jovem judeu e foi conduzindo-o para cima. Para sua casa.
– Não vá Caleb! – uma voz. A mãe de Caleb. – Fique aqui meu filho.
– Não se preocupe Sarah. Eu asseguro. Não tem problema nenhum.
– Não sou doida de deixar meu filho se expor dessa forma. – ela ia se levantar, mas foi presa pelos braços do pequeno Joseph que dormia.
– Eu quero ajudar. Tenho muita coisa para trazer lá de casa para cá.
– Não vá filho. – Sarah parecia ignorar o pedido de Lisie.
As mãos dos jovens estavam entrelaçadas. Na escuridão eles se olhavam, mas nenhum percebia isso.
– Não vai demorar mãe. – Caleb pode pronunciar essas palavras, mas Lisie percebia que ele tremia.
Assim os adolescentes subiram a escada de madeira velha. Num minuto estavam no quarto de Lisie. A garota saiu primeiro, ajudando o rapaz que a seguia.
– Cuidado para não bater sua cabeça Caleb. É meio estreito aqui.
Arrastaram-se por debaixo da cama e Lisie foi acender a luz.
– Uau! – Caleb parecia maravilhado. – que quarto enorme! Nem o meu era tão grande assim.
– Você que não viu o do meus pais. – ela colocou uma mão em um ombro magrelo de Caleb.
Com presença total de luz, Lisie pôde reparar bem mais a fundo o rapaz. Ele era bem alto, muito magro, sua pele era um branco encardido, seus cabelos eram pretos com leves ondulações, seus olhos eram bem redondos e castanhos, em seu rosto leves penugens de uma barba apareciam, tinha os dentes alinhados e amarelados, seu nariz era fino e comprido e sua boca era grande. Coisas que ela não notou muito na penumbra do porão.
– Bem vindo Caleb. – ela sorriu.
Olhavam-se fixamente. A mão de Lisie no ombro, agora tocava uma das mãos do menino. Uma aproximação repentina e um abraço bem apertado.
– Quanto tempo que eu não via uma luz descente. – Caleb sussurrava.
– Se depender de mim, você verá sempre. - Lisie sorria em meio aquele abraço.
O rapaz foi até a imensa janela do quarto. Saudava a Stuttgart que não dormia.
– Obrigado Lisie. – ele disse olhando pela janela.
– Não precisa agradecer.
Dois minutos olhando pela janela.
– Vamos Caleb! Tenho muita coisa para levar para o porão.
– Para onde iremos?
– Você vai conhecer a minha casa. – Lisie sorria como nunca.
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Amor na Guerra
Historical FictionROMANCE/FICÇÃO HISTÓRICA 4 de maio de 1943 Já faz 3 anos e 9 meses que a Segunda Guerra Mundial começou. E pouco mais de um ano que a "Solução Final para a questão judaica" foi posta em prática. Lisie Schmidt tem 17 anos . É uma alemã filha de um d...