52 - Wichard

875 101 26
                                    

Um prisioneiro especial para Derek

Wichard já não aguentava mais o sofrimento interno. Ele tivera notícias que seu irmão Werner e seus sobrinhos Hans e Artur estavam no front, o que o deixou apavorado. A guerra o assombrava. Pior ainda era não ter recebido nenhuma notícia da filha. Já se completavam dois meses de seu desaparecimento. Ele chegou a pensar que os Aliados a haviam sequestrado.

Para controlar sua ansiedade e seu nervosismo, ele conseguiu com auxílio do doutor Werneck, um remédio tranquilizante. Aquilo de início o deixava numa sonolência sem fim, mas seu organismo logo se adaptou à medicação.

Como parte de uma promessa antiga, Wichard mandou trazer ao seu escritório um prisioneiro específico que estava lá desde 1941 e ele não queria de jeito nenhum que o tal sujeito morresse. O homem não era judeu, comunista, homossexual, negro ou deficiente... para todo o espanto, ele era ariano.

Para dar um destino adequado ao prisioneiro, Wichard convocou Derek Kupffer, que passava a maior parte do tempo atormentando Caleb. Como ele, Derek também estava deveras preocupado com Lisie. Ele tinha um afeto pela menina e todo dia perguntava ao comandante se ela já havia aparecido ou se tinha notícias. Derek ficou triste por ter que adiar seu casamento e se arrependeu das ameaças e grosserias que fez com Lisie quando descobriu que ela o traíra com um judeu.

Toda sua raiva, seu arrependimento e sua preocupação ele descontava em Caleb e sempre o culpava por todas as desgraças que estavam acontecendo.

Ao convocar Derek para uma reunião particular, Wichard tentou ser breve, mas o rapaz não abria exceções em relação a sua distração.

– O que mais lhe incomoda na vida Derek? – o comandante perguntou ao soldado depois dos cumprimentos e de ter autorizado que ele se sentasse.

– O sumiço da Lisie Herr comandante. – ele disse tentando se acomodar na cadeira.

– Eu me refiro a sua infância. – Wichard tentou ser mais preciso.

– A perda do meu pai Herr comandante. – ele ainda tentava se ajeitar no assento.

– Falo de suas experiências de vida... – Wichard já se estava impaciente.

– Aprendo muito com o senhor aqui no campo Herr comandante. – Derek disse rindo, pois já havia se acomodado na cadeira.

Wichard esfregou as duas mãos na face. Deu um suspiro longo. Recostou as mãos na mesa e olhou para o alto. Dominado pela impaciência, ele passou a mão nos cabelos castanhos e ordenou que alguém entrasse no escritório.

Dois soldados entraram segurando um prisioneiro. O comandante pediu para que os dois se retirassem, ficando apenas o prisioneiro, Derek e ele no escritório.

– Tenho um prisioneiro especial para você Derek. – ele disse.

– Não se preocupe Herr comandante o judeu já está na minha mira. – Derek riu de novo.

– Não seu asno! – Wichard gritou mas se arrependeu das palavras proferidas.

O prisioneiro que estava no canto do escritório riu.

– Do que você está rindo? Você não tem o direito de rir. – Wichard levantou-se rapidamente o deu um soco na cara do prisioneiro que o fez sangrar.

Depois que esmurrou Caleb quando ele era um recém-chegado a Hoffnung, Wichard deixou de lado seu comportamento quanto a não tocar nos prisioneiros. Agora, era uma diversão bater neles.

Schmidt voltou-se para Derek e pôs a mão em seu ombro, mandou que ele se levantasse e disse cochichando:

– Honre o seu pai e sua dignidade. Faça o que quiser com esse crápula aqui.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora