15 - Wichard

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Setembro de 1943


Três meses fora de casa. Isso porque a demanda de prisioneiros crescia cada dia mais, como um crescimento exponencial. O massacre cada dia se intensificava. A produção de Zyklon-B foi triplicada para atender as câmaras de gás. O fedor proveniente da queima de corpos no crematório demonstrava "a pátria sendo construída".

Os judeus, comunistas, ciganos, negros e todos que ali estavam trabalhavam exaustivamente e por longas horas. Muitos estavam morrendo de fome porque não havia "ração" que servia a todos, ou de doenças principalmente virais e vermífugas. Várias cabanas foram construídas pelos prisioneiros para abrigar novos e a SS ganhava mais membros, como por exemplo, Derek que adentrou a organização logo após completar dezenove anos.

Era uma noite fria de setembro de 1943 e o comandante Schmidt lia a sua Bíblia Sagrada deitado em sua cama no seu quarto da "casa de soldados". Ele fazia uma leitura minuciosa do antigo testamento, no Livro de Ester capítulo 3, versículos de 7 a 15 que dizia:

"Aman obtém um decreto de destruição contra os judeus

No ano duodécimo do reinado de Assuero, no primeiro mês, chamado Nisan, foi diante de Aman lançada na urna a sorte, que em hebreu se chamava Fur, para se saber em que dia e em que mês devia ser trucidada a nação dos Judeus, e caiu a sorte no duodécimo mês, chamado Adar. Então Aman disse ao rei Assuero: Há um povo disperso por todas as províncias do teu reino, e separado entre si mutuamente, que pratica novas leis e cerimônias, e que, além disso, despreza as ordens do rei. E tu sabes muito bem que é do interesse do teu reino não tolerar a sua insolência. Se te apraz, ordena que ele pereça, e eu pesarei aos tesoureiros do teu erário dez mil talentos (provenientes da confiscação dos bens dos Judeus). Então o rei tirou do seu dedo o anel que costumava trazer, e deu-o a Aman, filho de Amadati, da linhagem de Agag, inimigo dos Judeus, e disse-lhe: O dinheiro que prometeste seja teu, e relativamente ao povo faze o que quiseres.

Promulgação do decreto

E foram chamados os secretários do rei no mês primeiro de Nisan, no dia treze do mesmo mês, e foi escrito em nome do rei Assuero como tinha ordenado Aman, a todos os sátrapas do rei, e aos juízes das províncias e das diversas nações, em tal variedade de línguas que cada uma delas podia ler e entender, e as cartas foram seladas com o anel do rei.

Foram enviadas pelos correios do rei a todas as províncias, para que matassem e exterminassem todos os Judeus, desde o jovem até ao velho, meninos e mulheres, num mesmo dia, isto é, a treze do mês duodécimo, que se chama Adar, e saqueassem os seus bens. E era esta a substância das cartas, para que todas as províncias fossem informadas, e se preparassem para o referido dia. Os correios, que tinham sido enviados, apressavam-se a cumprir a ordem do rei. E logo se afixou em Susa o edito, enquanto o rei e Aman celebravam um banquete, e todos os Judeus, que havia na cidade, se debulhavam em lágrimas."

Wichard sorria ao ler os trechos da Bíblia e contemplar a "benção divina" que lhe era concebida para exercer sua profissão grandiosa. Ele, mais que qualquer um, sabia que as inspirações do querido Führer eram pautadas na Bíblia* e isso podia ser comprovado. Wichard se orgulhava demais de tudo aquilo e sabia estar coberto de razão. Só precisava mostrar aquele trecho para Lisie e ela iria concordar. A sua filha era religiosa e tinha uma fé enorme então ela iria concordar, tinha certeza.

A noite era tão tenebrosa quanto o dia em Hoffnung. O lugar afastado cercado de vegetação provocava uma sensação ruim até mesmo nos soldados que trabalhavam ali. Wichard precisava descansar, mas muitas vezes seu sono era escasso. Por fim, terminou de ler a Bíblia e pegou seu terço de prata, começou a rezar. Ele pedia bênçãos à família e amigos e agradecia Deus por tudo, pela vida e pela saúde.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora