57 - Caleb

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Eu sou papai

Deitado. Fraco. Nada parava em seu estômago. Extremamente machucado. Careca. Uma tatuagem numérica no braço. Sem roupa listrada. A gargantilha com a estrela-de-davi em seu pescoço. Olhava para o teto. A princesa surgiu. 13 de agosto de 1944. Ele estava vivo.

Lisie acariciou sua cabeça raspada. Ela sorria como sempre. Aquele sorriso lindo. Carregava consigo um prato de sopa e um copo de água.

– Eu não consigo comer. – ele disse baixo e devagar.

Lisie o ajudou a sentar-se na cama, tocou sua mão grande e ossuda, acariciou seu rosto. Ela havia deixado o prato de sopa e o copo de água ao lado da cama.

– Você precisa fazer um esforço. – ela disse num tom doce.

Caleb fitava a princesa. Como ela era linda. Estava sendo difícil até conversar com ela. Mesmo não estando confinado em Hoffnung, ele ainda sentia que ia morrer.

Lá no cômodo que servia como quarto de Lisie, ele estava isolado de todos os acontecimentos da fábrica e do resgate. Estava em completo repouso e dependia dos outros para tudo, até para tomar banho. Nessas horas, seu pai vinha ajudá-lo. Ele não sentia dor, mas sentia a morte chegar devagarinho.

Lisie sorria para ele. Os dois nem precisavam pronunciar palavras para estabelecer uma comunicação. Olhavam-se e sorriam, davam as mãos e sorriam de novo.

Caleb queria saber como tudo aquilo aconteceu. Como Lisie chegou lá e como o salvou. Queria saber também porque ela estava mais gordinha sendo que praticamente só comiam sopa, pão e água, às vezes queijo e chá.

Lisie tentou fazê-lo comer. Ele repudiou. Dentro de seu abdome sentia tudo revirado, parecia que seus órgãos não estavam no lugar de costume.

Schuzy não estava lá. Como no dia 13 de abril. Exatos quatro meses atrás. Como tudo mudou de forma absurda em quatro meses.

– Eu nunca me esqueci de você. – ele pronunciou.

Lisie o abraçou. Aquele corpo magro. O ajudou a deitar de novo, sorriu e disse que também não havia se esquecido dele. Ele segurou a mão dela e juntou todas as míseras forças de seu corpo, levantou-se novamente e a beijou. Queria dizer que a amava, que ela era sua princesa. Mas, nada fala mais que um beijo.

– Desculpe interromper. – era Strauss.

Os dois olharam para a porta do cômodo com cara de assustados. Ao olhar para o jovem rapaz na porta, Caleb teve uma percepção incrível que o conhecia e sua memória lhe alertou; foi aquele rapaz que conduziu sua mãe e Joseph na fila da esquerda, para algum lugar...

– Seu pai está aqui Lisie. – disse o jovem rapaz.

Lisie saiu correndo em direção à porta. Caleb estava sozinho de novo. Havia tantas perguntas que ele queria fazer.

Caleb ouviu um alvoroço vindo da fábrica. Mais uma vez, juntou as míseras forças de seu corpo para ver o que estava acontecendo. Pela pequena vidraça do cômodo ele viu uma intensa movimentação. Os trabalhadores corriam em diversas direções cada um se escondendo como podia. Teve gente que se escondeu entre as máquinas, outros se camuflaram nas plantas e teve alguns que se enterraram momentaneamente.

Lá estava a figura terrível de Wichard Schmidt. Lisie entrou no cômodo assim como Strauss e outro rapaz que ele não conhecia.

– Ei judeu, vá para debaixo da cama! – um rapaz desconhecido lhe ordenou.

Caleb sem titubear se escondeu debaixo da cama e lá ficou quieto.

Alguns minutos depois o mesmo sujeito alertou:

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora