58 - Lisie

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O retorno

Um telefonema.

Lisie iria pedir ajuda à pessoa que mais confiava no mundo: sua mãe. Se caso outra pessoa atendesse ao telefone, ela o desligaria, mas foi Edith quem atendeu.

– Mãe... – Lisie sussurrou segurando o fone.

Edith surtou do outro lado da linha. Fez inúmeras perguntas a filha e gritou muito com ela por ter deixado a mansão sem avisar e ficar longe por tanto tempo.

– Seja discreta. – Lisie pediu.

Lisie decidiu que não contaria nada sobre seu primo Hans ou sobre a gravidez. Sobre a libertação de Hoffnung, Edith já sabia. É claro, seu pai devia estar aflito.

Quando sua mãe comentou sobre um velório que aconteceria em Frankfurt, Lisie ficou preocupada.

– Estamos indo até Frankfurt para velar os corpos de Werner e Artur que morreram em combate. Você acredita que Hans está desaparecido? Ninguém tem notícias dele. Essa família está toda bagunçada. Você some, Hans some, seu tio e seu primo morrem.

Lisie ficou chocada. Sua boca se abriu em forma de um O e ela deixou o fone cair.

Hans percebeu que a conversa entre a prima e a tia não ia muito bem e pegou o fone caído.

– Tia? – ele indagou.

Mas a ligação já tinha sido encerrada.

Lisie conseguira explicar a mãe que pretendia retornar à Alemanha com alguns dos resgatados. Edith sugeriu que eles fossem levados a casa em Regensburg onde seus avós residiam antes de irem morar na mansão de Stuttgart. Lisie achou a ideia boa, porém a casa estava trancada. Edith prometeu que no dia da chegada, o padre Heiner estaria em Regensburg com as chaves da casa.

No dia seguinte, todos embarcaram.

Era um trem com vagões de gado, mas a viagem prosseguiu com as portas abertas e com poucas pessoas lá dentro. Afinal, dentro do vagão estavam Hans, Strauss, Lisie, Caleb, Benjamin, Samuel e Schuzy. Outros vagões foram preenchidos com a última leva de prisioneiros resgatados (que seriam levados à França). Schneider ficou para trás com alguns resgatados poloneses que decidiram continuar no país. Schneider e Lisie nunca mais se viram.

Lisie se sentia enjoada dentro do vagão. Hans estava sentado ao seu lado calado e quieto. Ela decidiu contar.

– Hans...

– Diga. – ele respondeu.

– O tio Werner e Artur... – Lisie não conseguiu terminar a frase. Começou a chorar.

Os primos se abraçaram. Não era preciso dizer mais nada. Eles compartilhavam da mesma dor.

A vida é uma história misteriosa e conta com o tempo para tornar tudo ainda mais místico. Em um segundo você está vivo e respirando o ar tênue desse mundo, em outro segundo você está dentro de um caixão pronto para ser coberto com quilos de terra e ninguém nunca mais o verá.

Essa sensação com certeza perturbou todos que presenciaram a desumanidade do Holocausto.

A vigem durou muito tempo.

Lisie acariciava seu gato com a mão esquerda e o pequeno Samuel com a mão direita. Podia ver o quanto o garotinho tinha ficado mais forte e saudável. Ela também sentia algo estranho dentro de sua barriga. Claro, era seu bebê. Caleb e Benjamin estavam de frente para ela e sempre que se entreolhavam, trocavam lindos sorrisos.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora