Capítulo sessenta e dois - A Alice!

1.1K 86 46
                                    


Alguns meses depois...

Sete de novembro. Admito que essa data já não será como antes, pois nada tornaria esse dia especial para mim com a ausência de vovó. Na verdade, a antiga Alice deveria morrer aos dezesseis anos, ficar para trás; Dando então a chance de uma nova Alice tomar posse de minha nova vida.

— Nem Jonas, nem Marc! — encarei meu reflexo no espelho. Eu já havia perdido o velho olhar, sendo assim, sentia-me mais forte, madura e indestrutível.

Meu celular não parava de apitar. O dever me chamava!

Após me arrumar, eu sabia que meu novo "eu" modificou-se por completo. De dentro pra fora, inteiramente. Eu não seria nunca mais a boba que já fui um dia, muito pelo contrário...

— Prazer. Sou "a" Alice!

Não queria mais o cabelo alinhado, muito menos as roupas de menina que me tornava aparentemente uma tola. Eu tinha boas roupas, e as usaria da forma correta, da forma como ninguém que não fosse com minha cara gostaria de me ver. Se importar com o que irão pensar de mim era como dar um tiro em meu próprio pé, pois não importa o que eu fizesse... Eles continuariam me odiando, me incomodando, e isso eu não poderia mais permitir. Deixar que terceiros resolvessem esses problemas por mim não seria mais parte da minha forma de viver, pois sou suficientemente capaz de me defender. Até porque, diante da lei... Sou maior de idade e responsável por meus atos.

[...]

Jonas ainda estava comigo, por dias e mais dias eu me esforcei para esquecer toda a confusão em minha cabeça e não colocar mais barreiras em meu caminho. Se tinha alguém que pudesse fazer algo por mim, essa pessoa era eu mesma. Tivemos momentos normais, incrivelmente ele parecia estar se tornando uma pessoa mais amigável e menos enjoativa. Inclusive, não houve mais uma ameaça dele tocar em mim.

— Oi, princesa.

—Oi, Jonas.

Notei que ele me observava espantado, havia sem duvidas reparado que algo havia mudado em mim. Esperei por seus comentários.

—Parece diferente hoje — por fim, o vi sorrir —selvagem é a nova tendência?

— Exatamente, acordei para não ser a mesma nunca mais, e quem ousar se meter no meu caminho irá sair tão machucado quanto eu... — o vi arregalar os olhos enquanto continuava a rir — ou menos que eu!

—Bom, princesa...

— Primeiramente, comece tirando o "princesa" quando se referir à mim. Eu tenho um nome.

— Mais alguma exigência antes de eu te desejar parabéns?

Juntos, arqueamos uma de nossas sobrancelhas enquanto nos encarávamos. Jonas nunca deixou de dar aquele sorriso idiota e irônico, então eu já havia me acostumado com isso. Havia me acostumado com tantas coisas pelas quais eu morreria antes, que tinha certeza de que nem mesmo Marc teria mais efeito sobre mim. O mesmo que nunca mais me ligou, o mesmo que se quer se importaria em me parabenizar em meu aniversário e em nada mais parecia se importar. Sei que a culpa era de Jonas, porém, se ele realmente me amasse, saberia que eu jamais faria nada para magoá-lo.

Pelo menos... Não antes.

—Eu adoraria te dar um presentão, mas como sei que você prefere coisas simples...

— Então faz assim, Jonas. Guarde o que tem aí, e me dê o que gostaria de dar realmente — dessa vez o surpreendi — quero o "presentão", não menos que isso! — sorri amigavelmente antes de abrir a porta para sair — estou indo para a escola, já chamei o motorista de Marc... Vou usufruir de tudo aquilo que mereço a partir de hoje, se cuida!

Fechei a porta após passar por ela e o belo carro preto já me esperava em frente de casa.

Não me permiti reparar as ruas no caminho. Chequei minhas redes sociais e aproveitei para garantir uma selfie digna de bom dia. Aparentemente eu estava em perfeito estado, o que poderia dar errado?

Em frente ao colégio, desci do carro e me despedi com um aceno para o motorista. Alguns me olharam, outros preferiram ignorar minha imagem. Porém, uma coisa não iria mudar...

Jess...

Minha amiga me encarava de longe e tinha ao seu lado o incrível namorado chamado Arthur. Confesso, era um belo casal para se admirar.

Sem pensar duas vezes, resolvi ir até eles. Era um bom dia para recomeçar às aulas, pois o tempo que passei enfurnada em casa me afastou de todos aqueles que eu gostava... Ou melhor, apenas duas pessoas. Triste...

Com meu melhor sorriso de orelha à orelha, parei na frente dos "pombinhos" e respirei fundo enquanto abria os braços para receber minha amiga.

—Jess! Que saudades... — revelei animada.

—Oi, Alice — ela não se levantou, e Arthur se quer me olhou.

Abraço ignorado com sucesso. Mas por qual motivo?

— Aconteceu algo? Fiz algo de errado?

— Não... Essa é a questão. Você simplesmente sumiu e se esqueceu de quem estava aqui por você, ingrata! — suas palavras duras me fez tombar a cabeça pro lado para analisá-la melhor — Vamos, Tutu!

E dessa forma, os dois se levantaram e me deixaram plantada. Isolada, melhor dizendo.

"Tutu"?

Era assim que ela o chamava? E era assim que iria me tratar após saber de tudo o que passei?

A antiga Alice choraria e se decepcionaria vendo essa cena... Mas a nova sem duvidas iria rir do apelido carinhoso que Jess arrumou para Arthur.

Ótimo! Não precisarei dessa amizade pensando bem...

[...]

Algo em comum que a nova Alice teria com a antiga, era em relação aos estudos. Pois seria inútil ignorar as boas notas e não ser a melhor, no futuro, isso acrescentaria em minha vida.

Em cada aula, minha atenção era apenas focada no "aprender", e por isso, não tive dificuldades para entender exercícios que haviam ficado para trás. Sem contar que, quando presto atenção, o tempo voa.

Quando chegou a aula de filosofia, confesso que meu coração acelerou na esperança de ver Marc entrando com uma cara séria, como sempre fez ao adentrar em sala de aula. As sobrancelhas estreitas... A sombra em seu olhar... Deus, não!

Ele estava bem longe de mim, e se quer lembraria de meu aniversário. Aliás, como ele poderia não desconfiar de nada? De que o beijo na foto com Jonas era forçado e tudo mais? Marc não passava de mais um idiota em minha vida!

Respirei fundo e aguardei o tempo passar com uma expressão nada amigável.


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Ensina-meOnde histórias criam vida. Descubra agora