Capítulo sessenta e três - Me conte tudo!

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(Marc)

Alguns minutos bastaram até ela retornar até a mesa da sacada para jantarmos. Era engraçado que o tempo passava e ela ainda não havia perdido a vergonha perto de mim. Sorri para ela.

- O cardápio de hoje é muito importante - ela se sentou assim que me sentei - Eu fiquei sabendo que sua família tinha muita descendência italiana e que gosta de massas, e por isso eu contratei um Cheff especialista em culinária italiana para nos proporcionar mais um momento bom em nossa noite.

Alice apenas sorriu simpática.

Resumindo, ela escolheu e aproveitou os pratos servidos e demonstrou apreciar tudo o que a proporcionei até então. E foi aí que o silêncio pairou sobre nós, duas pessoas se encarando na sacada, com uma bela visão da lua sob nossas cabeças.

- Alice - a chamo.

Seu olhar se mantém firme em meu rosto e ela parece preocupada com o que vou falar. E realmente não é agradável...

- Alice, eu tenho pensado muito no que você passou enquanto estive fora, e preciso saber cada detalhe... Eu preciso saber de Jonas, eu preciso saber de qualquer pessoa que tenha feito algo contra você!
Eu consigo notar seu olhar se perdendo num passado após me ouvir, claramente ela não iria querer falar...

- Bom... Eu não sei por onde começar na verdade. Mas depois que vovó se foi, Jonas esteve comigo no meu momento mais triste e frágil, e eu não enxerguei a tempo o que eu estava passando. Na minha cabeça, eu fui agredida. Eu lembro de tudo, mas eu não estava machucada quando acordei e isso me deixa confusa ainda. Era sonho? Eu estou louca? - Sua voz embargou.

- E do que você se lembra exatamente? - perguntei curioso.

- Eu... Eu lembro que nos primeiros dias ele foi gentil, e depois as coisas foram saindo do controle. Ele basicamente me manteve presa em casa, tirou uma foto nossa beijando e me forçou pra isso... Não sei se até aí eu ja estava alucinando, mas em minha mente teve um dia que ele saiu e me deixou sozinha, esqueceu o meu celular na casa e quando ele voltou pra pegar, me viu te pedindo ajuda... Foi aí que eu realmente acho que enlouqueci, porque quando acordei não tinha ligações atendidas por você, então não nos falamos de fato. Por isso devo ter alucinado que ele ficou muito bravo por eu te ligar, e então na minha loucura ele me bateu... Ele poderia ter feito sexo com.... - Ela engoliu em seco - foi isso, o trauma me fez alucinar.

Suspirei pelo aperto no peito que me atingiu ali. Pois sim, ela havia me ligado e ele apagou a chamada para confundir ela.

- Eu lembro que ele bateu nos móveis de casa e quebrou alguns, e também me bateu com as rosas e tinha espinhos que me machucaram. Quer dizer, eu tenho essa lembrança, mas...

- Mas pode ser real, infelizmente... - completei chateado.

- Marc, nem a parte em que te liguei foi real...

- Você me ligou Alice, e eu me culpo por ter deixado meu ego te ferir tanto e nesse nível. Eu sou um grande filho da puta por ter deixado isso acontecer, eu poderia ter PELO MENOS mandado alguém até você... Mas eu juro, ele não vai viver pra contar nenhuma história!

Jonas estava com alguns homens meus, preso, a minha disposição. Era só uma ligação para que eles arrebentassem ele até...

- Marc, você disse que eu te liguei? - Sua voz me interrompe em um tom melancólico. Então afirmo com a cabeça - eu fui estup...

- Você terá toda ajuda necessária, todo acompanhamento necessário, e independente de qualquer coisa eu estarei aqui pra te proporcionar tudo o que precisa - me levanto e vou até seu lado oferecendo minha mão para que ela se levante.

Alice segura em minha mão e fica em pé, porém, seus olhos fitam o chão tristemente.

- Eu posso sem nenhuma malícia ver seu corpo atrás? - Ela me olha confusa - quero achar alguma marca que ele possa ter feito...

E então ela vai se desfazendo de seu vestido e virando de costas para mim. Observo cada gesto seu e começo analisando cada parte de suas costas enquanto ela se despe.
Inicialmente não havia nada em sua pele, por isso me ajoelhei atrás dela e quando seu vestido caiu ao chão, observei em sua bunda algumas marcas sutis que não me recordo ter visto antes, e como bom observador que sou, se elas existissem, eu notaria... Ainda mais onde estavam marcadas.

- Você já se machucou e teve cicatrizes na bunda? - perguntei para sanar qualquer dúvida.

- Eu não... - ela suspira e vira de frente para mim.

A encaro de baixo pra cima, seus seios estão cobertos pelos seus braços e seus olhos me encaram marejados.

- Como isso pode ser verdade se eu não me lembro de acordar com dor? - ela me pergunta com voz de choro.

- Você lembra se desmaiou? Ele te deu remédio? Ele pode ter te drogado, não sei.  Mas algo aconteceu, e até aqui está tudo se encaixando com o que me disse ter em sua memória... - Respiro fundo antes de fazer uma pergunta delicada - eu posso matar ele agora mesmo se você se sentir melhor com isso, porque eu estou com ele preso para termos uma conversa em breve.

Ela arregala os olhos espantada.

- Eu não quero que você se suje por alguém como ele, por favor, não quero que você corra o risco de ser preso e me deixar sozinha. Eu não aguento mais ficar sozinha!

Seu tom de voz se altera em desespero e eu a abraço forte.

- Você é a única que me deixa fraco, você é meu ponto fraco Alice. Eu nunca mais vou te deixar, a não ser que queira...

- Marc?

- Sim? - A seguro pela nuca gentilmente e observo seu rosto.

- Me faz dormir?

Meu coração amoleceu naquele momento.
A segurei pelas mãos e a puxei lentamente em direção a cama. Alice estava apenas com uma calcinha de renda e ainda usava seu salto dourado.
Vendo um certo cansaço em sua expressão, a sentei na beira do colchão e fiz questão de tirar suas sandálias antes de deita-lá e a acolher em um abraço.

Com os próprios pés, me desfiz de meus sapatos, e depois apenas a acariciei com uma de minhas mãos. Mas dessa vez, mesmo que ela estivesse nua em minha cama, eu apenas a dei todo meu carinho sem pensar em mais nada além de a proporcionar um pouco de segurança.

Porém, uma coisa era certa! Eu teria, em breve, o meu momento a sós com Jonas.

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