Capítulo quarenta e um - Jess e Arthur?

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O celular apitava sem piedade próximo de meus ouvidos, tirando-me de meu sono profundo e trazendo a Alice sonolenta para a realidade.

De relance, chequei se vovó havia acordado e seu corpo se quer havia se mexido ou soltado um suspiro pesado de quem estava prestes a acordar. Meu cérebro fez questão de criar diversas teorias que me preocupassem por vê-la ultimamente tão parada e sossegada – algo que jamais fez parte de sua personalidade. Antes, ao invés do despertador, era comum ser acordada por ela me chamando suavemente, sempre com uma calmaria que fazia-me levantar disposta e feliz por ter a graça de abrir os olhos mais uma vez. Só que agora minha realidade estava mudando, drasticamente, melhor dizendo.

Fiquei entre acordá-la ou deixá-la descansando, onde no fim das contas... Senti pena em interromper seu sono. Ao menos dormindo, ela parecia estar bem.

Após escovar os dentes e lavar o rosto, ignorei a parte do café da manha e corri para deixar um bilhete sobre a mesa dizendo que estava tudo bem e um amigo me ensinaria a ir pra escola sozinha. A cartinha estava ali, esperando por ela e ao ver-me pronta para o colégio, coloquei a mochila nas costas e segui para fora à espera de Arthur.

Corri meus olhos para todo canto e ainda não o vi, no celular vi que eram ainda 6h11min da manhã.

Ele não iria me esquecer ali, claro que não!

Como explicar o momento em que eu estava de costas para uma esquina observando uma outra à minha frente? Arthur puxou-me pelas alças da mochila e simplesmente virou-me para ele e... Selou nossos lábios como se fossemos um casal e sua atitude fosse completamente natural para uma manhã comum. Não era certo... Tanto pelo Marc quanto por ele mesmo.

Entortei o lábio inferior totalmente confusa e surpresa elo seu gesto espontâneo, não fui capaz ao menos de sorrir ou disfarçar meu constrangimento. No entanto, também sabia que ele ainda não se deu conta de meu caso cada vez mais sério com Marc, até porquê, o beijo no rio deixou muita esperança e uma situação muito mal resolvida. A culpa era inteiramente minha, disso eu sabia muito bem.

Bufei. Mais pelo desapontamento comigo mesma do que qualquer outra coisa.

— Tudo bem? — perguntou-me sem dar-se conta de que eu estava estranha.

Não! Não estava tudo tão bem. E só piorou quando notei seus machucados no rosto – aqueles que ele havia contado pelo celular.

Os lábios estavam um pouco inchados ainda, assim como o supercílio. Sua orelha nem parecia estar maltratada quanto imaginei que estivesse, mas os outros "leves" cortes, eram bem evidentes e fez-me sentir culpada.

— Uhum — menti, menti feito uma profissional em não saber mentir.

— Parece que não... Mas eu entendo você, está passando uma barra, né? — suas mãos enfiaram-se no bolso de seu jeans preto e seus ombros se ergueram — vou te mostrar onde deve esperar o ônibus. Vem?

— Ta bom...

Iniciamos uma caminhada. Arthur encarava o chão a todo momento, chutava despreocupado algumas pedrinhas e latas que surgiam à sua frete e também mantinha o lábio inferior preso por seus dentes superiores. Fiquei me questionando no que se passava por sua cabeça enquanto andava daquela forma incomum, sempre de cabeça baixa e mandando longe qualquer coisa que aproximava-se de seus pés. Talvez pensasse na ex namorada, ou então, não sei...

Nós haviamos virado a primeira esquina para a esquerda e no final dela, havia um ponto de ônibus coberto por uma estrutura de ferro amarela, ali também havia um banco de madeira longo para acomodar passageiros – foi onde sentamos.

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