Não demoramos para chegar à escola novamente. De longe, eu consegui avistar alguns alunos ainda formados em grupinhos, mas a pior visão de todas, fora a da caminhonete de vovó estacionada no mesmo lugar de sempre. Imaginar que ela já estivesse sabendo de tudo, me fez respirar descompassadamente mais uma vez.
Jonas e Marc me olharam com pesar, eles sabiam que havia mais coisas para acontecer.
– Eu não posso... – digo baixinho e de forma aguda já esperando o choro retornar – não vou conseguir encarar o rosto dela... Marc? Jonas? – imploro por algo que nem eu mesma sei o que é.
– Calma – Jonas pede como se eu realmente fosse me acalmar.
Marc desceu do carro assim que estacionamos numa vaga qualquer e abriu a porta para mim.
Saio relutante, meus passos direcionados à escola protestavam, não queriam prosseguir de forma alguma. Por onde passávamos, todos nos olhavam curiosos e pareciam contemplar minha expressão de dor.
Vi Jess e Arthur de longe me olhando com pena, e ela parecia estar chorando assim como eu estava.
A sensação era extremamente estranha – como se eu fosse uma caixinha de dez centímetros que carregava uma bagagem que pesava toneladas e mais toneladas...
Os corredores do colégio pareciam querer me espremer, por vezes, até pensei estar alucinando e vendo o que não estava acontecendo de fato. Mas... Ao adentrar a sala da direção, encontrei Ana e Joana com seus pais ao lado delas. Observei cada rosto ali dentro, mas fui incapaz de encarar vovó que segurava firmemente a minha foto.
Marc tinha uma de suas mãos em minhas costas me dando apoio, e Jonas apoiava a dele em meu ombro direito.
Minha pose era de uma menina acuada diante de seus maiores problemas.
O diretor da escola estava em pé atrás de sua mesa e mantinha suas mãos entrelaçadas em frente ao próprio corpo. Em seu rosto não havia expressão alguma, apenas era um espectador ali dentro.
– Olhe pra mim – a voz tremula de minha avó quebrou o silêncio do ambiente – olhe pra mim, Alice!
O seu tom de voz se alterou e me fez encará-la de imediato. Seu rosto era severo e ao mesmo tempo exalava seu péssimo estado de saúde.
Ela parou em minha frente, e levantou meu queixo com o dedo indicador. Me encarou profundamente com a decepção estampada em seus olhos lacrimejados – e num gesto bruto, sua mão chocou-se com força contra meu rosto.
Alguns dizem, que palavras ditas machucam mais que um tapa, mas o que eu senti, fora a pior das sensações. Havia desprezo em seu gesto brusco, havia desprezo em seu tom de voz também; e com a face direcionada para o chão, não fui capaz de levantar a cabeça novamente.
– Desculpa... – imploro na medida em que tapo meu rosto com as mãos.
– Eu nunca imaginaria que minha neta fosse capaz de se entregar no primeiro dia-de-aula! Muito menos que mentiria tantas vezes para mim...
– Por favor, vó? – caio de joelhos à sua frente e seguro na barra de seu vestido – eu não queria...
– Mas fez! – ela posicionou a foto em minha frente por alguns segundos e me obrigou a olhar – olhe você... Parece uma qualquer em baixo de um marmanjo, sem roupas... – em seguida, vovó esfrega a fotografia em meu rosto com força me fazendo pender para trás até cair sentada de um jeito desgovernado.
Lá estava eu, no chão diante de Joana, Ana, seus pais, o diretor da escola, Jonas, Marc e minha avó.
Um riso surgiu de uma das meninas, e todos as encaramos rapidamente.
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Ensina-me
RomancePara aqueles que gostam de um cliché cercado de drama e aventuras perigosas no amor, a história vem recheada com romance proibido e momentos dramáticos. Maria Alice foi criada no interior e se viu encantada ao pisar pela primeira vez num colégio d...