Enquanto isso na porta da loja....
Não acredito no que acabei de presenciar. Meu Deus! Creio que se eu não estivesse com ela não conseguiria acreditar no que ela falou. Mas eu vi, ela estava realmente falando a verdade, e fui eu quem pegou o dinheiro do chão, ela rapidamente colocou na bolsa e não parou em nenhum lugar! Ela não pegou dinheiro algum e está sendo escorraçada da minha loja injustamente. Não posso me meter, ninguém sabe quem eu sou e ela soube bem se defender. Não vou deixar que ela seja injustiçada assim, não em minha loja e ainda sabendo a verdade, mesmo sendo ela como é não é justo!
Peguei o capacete e parti para o centro, para o escritório. Mandei uma mensagem para o Rafael dizendo que precisava dele lá, que não saísse e parti o mais rápido, chegando lá em apenas dez minutos.
Rafael! - escancarei a porta da sala dando de cara com Cecília. - Oi Cecília, tudo bem? - fiquei sem graça, ela estava em seu colo enquanto ele estava com a mão em sua... melhor nem pensar no que vinha depois. - Desculpa a invasão, temos um problema muito sério.
Então você já sabe do problema da filial do câmbio no Shopping. - Me olhou intrigado.
Eu estava lá, vi tudo.
Deve ser por isso que o senhor Gustavo está vindo para cá com tanta pressa então. Pegar uma funcionária roubando não é coisa pouca.
Ela não roubou nada! - falei exasperado. - Eu estava com ela e vi como tudo aconteceu.
Não posso acreditar que você não perdoe nem as funcionárias! Cara, isso é assédio sexual, dá processo sabia? - Rafa falou sério.
Está maluco? Aquela garota é o filho do capeta na terra, tem um geniozinho ruim da porra.
Humm! Então devo supor que é a garota da troca do rádio, a tal favelada que você disse?
Exatamente!
Então me fala cara, o que aconteceu. - Ele me examinava enquanto Cecília saiu de seu colo.
Estávamos em frente ao posto, quando toda a confusão começou... - contei detalhadamente como tudo aconteceu, não esquecendo nenhum detalhe, deixando um Rafa e uma Cecília estarrecidos com o teatro do gerente. - E no final a coitada foi embora com mais três companheiros que não aceitaram o absurdo.
Olha, me desculpem intrometer mais isso não pode ficar assim! Esse cara está cometendo abuso de poder.
Enzo, tem certeza que ele não te viu?
Ele nem olhou quem estava atrás dele ou não.
Então deixa ele vir e vamos ver o que tem a dizer! Ele estava saindo da loja quando me ligou, e de taxi deve ser no máximo meia hora até aqui. Você vai ficar bem ali, - apontou para o banheiro - escutando tudo e confrontando com o que viu, e assim vamos pensar juntos no que ocorreu de verdade!
Por mim não tenho dúvidas, mas se quer ouvir mesmo ele, fique a vontade!
Não demorou nem vinte minutos para que ele fosse anunciado, parti para o banheiro deixando a porta entreaberta e a luz apagada, sentei-me na baqueta que estava com revistas, e comecei a ouvir.
Bom dia senhor Rafael, me desculpe vir aqui assim, desta forma.
Não, tudo bem, pelo que me falou ao telefone, o que tem a dizer é importante.
Pois é, essa funcionária em questão é o problema em pessoa! - Bufei, disso não posso discordar! - Ela vem apresentando muitas faltas injustificadas, e alguns atestados que suponho serem falsos. Fora o péssimo comportamento e atendimento. Ela não é, na realidade uma funcionária modelo. Hoje, precisei que levasse um valor, eu a avisei que era uma alta quantia, mas ela ainda assim disse que não haveria problemas em leva-lo. Porém chegou a loja quase duas horas depois com seis mil dólares a menos. Fez um escândalo, me agrediu e por fim fui forçado a demiti-la por justa causa.
E você chamou a policia, certo? - ele indagou.
Não, na hora fiquei tão nervoso, dois dos meus funcionários se voltaram contra mim me ofendendo e eles foram embora, creio que isso foi armado para que não fosse pega em flagrante. Eu trouxe a ficha dela para o senhor mesmo averiguar se eu estou mentindo. Pode também verificar no RH todas as informações sobre ela. Eu soube pelos funcionários que ela andou se envolvendo em dívidas e talvez, coitada, o desespero tenha falado mais alto. Nessas horas não podemos julgar, mas não foi certo!
Torno a repetir, você a deixou sair da loja sem verificar se realmente ela havia pego os 6 mil dólares? E por que ela saiu com uma quantia obcena sozinha? Que eu me lembre, pouco antes do meu pai me passar a diretoria, foi liberado ao senhor contratar dois funcionários para entrega, e tem sido descontado mensalmente das despesas da loja o valor de 400 reais para as despesas do serviço. Por que isso não ocorreu?
Eu fiz o teste com eles, mas não deu certo, esses meninos são muito problemáticos! - Deus do céu, esse aí é um 71 nato! Como pode ser tão sínico? Agora entendo o pensamento dela quanto aos "Patrões". Às vezes precisamos passar por umas dessas na vida para conhecer. Esse é digno de Oscar!
Bom, vou avaliar os funcionários, não aceitando por enquanto a demissão de nenhum deles! - Rafael falou.
Como é? - Não poderia haver mais espanto na voz de uma pessoa. Queria muito poder olhar a cara dele.
Exatamente isso que você ouviu. Vou verificar os fatos primeiro, avaliar todas as imagens das câmeras, solicitar as imagens do local da entrega. Também quero conversar com as três pessoas envolvidas!
Mas senhor Rafael, não precisa se dar a esse trabalho.
Mas eu quero me dar, não gosto de delegar aos outros, funções que cabem a mim!
Mas...
Nem um mais, vou pegar agora mesmo as fichas juntamente com os contratos, e verificar as imagens que consigo para averiguar os fatos. Gustavo, que fique bem ciente que não vou fazer nada sem antes ter certeza. Não quero receber processo de forma alguma por tomar atitudes precipitadas.
Entendo senhor!
Então se era só isso, já pode se retirar. Obrigado pelas informações. - O sujeito saiu pela porta indignado, acho que se pudesse, a teria batido. O perfume insuportavelmente doce impregnou o escritório. - Enzo, ouviu tudo?
Sim, e não poderia me espantar mais com a cena que fez.
Não sei, a história dele não me pareceu de todo mentirosa. Não que eu duvide de você, essa menina, pelo que você falou e pela ficha, realmente parece ser problemática.
Mas ela está na empresa há mais de 5 anos, isso deve contar alguma coisa, não? Também concordo que a forma peculiar que conheci aquela garota não foi nada agradável, mas não sou injusto Rafa, não mesmo. E esse tal aí deve estar escondendo alguma coisa. Não sei por que, mas acho que tem mais coisa aí do que supomos.
Bom, vamos fazer assim, vamos averiguar todas as imagens, em algum momento deve ter ele colocando o valor no envelope, e poderemos confrontar. Fora que também quero ver o que aconteceu, e tudo mais. Vou tentar conseguir as imagens das câmeras do posto que você disse, somente para provar a ele que ela falou a verdade sem te envolver.
Ah não, aí vão dizer que quem estava com ela pegou o dinheiro.
Então apareça e diga toda a verdade!
Seria uma boa, mas dessa forma esse cara escaparia e não descobriríamos o que ele fez.
Você cismou com isso! - Ele falou impaciente.
Sim, acho que tem mais alguma coisa. Ele quer muito que ela saia, e em um momento ela me deixou isso escapar. Rafa, você não viu a cara de desespero dela quando eu peguei o envelope com o dinheiro. Ela ficou em pânico, irada, tudo ao mesmo tempo! Cara eu seria a última pessoa que defenderia ela, se não fosse tão injusto!
Bom, poderíamos colocar alguém de olho nele então.
Só confiaria se fosse você ou eu!
Mas se ficarmos lá ele não vai agir igual! Só se... - Ele olhou para o casaco que eu vestia com o crachá do Renato preso a ele.
Ah não, o que você está pensando? - Perguntei com medo.
Nada que valha a pena, você foi terrível na experiência, não posso nem cogitar.
O que, eu ser Motoboy? - Não posso acreditar nisso!
Daria certo só por que eles não conhecem você. Mas você não suporta a baixada, então, não daria.
Pensando bem... - parei para refletir, eu ia mesmo falar aquilo?Bom, melhor não pensar e acabar me arrependendo. De qualquer forma, no final em qualquer uma das duas decisões vou me arrepender! - Bom... Seria uma opção!
Não, não seria! - Ele me olhou incrédulo.
Ta bom, também estou com dúvidas, mas ninguém me conhece, ao menos ainda. Ela me conhece como motoboy e eu sou da sua empresa. Seria uma boa forma de vigiarmos de perto o que acontece! Assim, se ela for culpada de alguma coisa, eu saberei, e se ele for, que para mim é o mais lógico, saberemos também. Serei imparcial.
Você já está sendo parcial, caso ainda não tenha reparado!
Não estou não, apenas não quero ser injusto. Pensa, só quem vai se foder nessa sou eu. E problemas não vamos ter, afinal, somos os donos!
Tem certeza que quer fazer isso?
Se for para conseguir descobrir afinal quem está certo, sim!
Então está certo, vamos analisar primeiro o que podermos fazer para trazer as pessoas de volta as lojas sem causar maiores problemas, depois pensamos em como te colocar nessa.
Bom, podemos dizer eu não há provas para incriminar ela, uma vez que seu motoboy de confiança estava com ela.
Isso não vai dar certo, você pode acabar se complicando. Quero arrumar um meio dela voltar sem problemas. Bom, vamos analisar as câmeras e fazer da melhor forma possível.
Passamos a maior parte daquela noite em frente ao computador, e ele realmente contou 30 mil e colocou em um envelope, então como a mágica? Assistimos várias vezes às imagens, até que Cecília entrou.
Ainda aí? Nossa, assim vão madrugar!
Não estamos achando o que precisamos amor! - Amor... nhenhenhe... coisa mais chata. Detesto toda essa melação de casais apaixonados.
Vai ver não estão olhando os detalhes. Deixa eu ver.
Observa, ele conta o dinheiro e coloca no envelope, daí ele coloca no cofre. Pega o mesmo envelope e entrega!
Volta um pouco antes dele colocar o primeiro envelope no cofre. - ela falou. - Dá um zum... Isso, mais um... - Olhava atenta ao envelope. - Ele colocou, ta bom, então ele pega... Achei!
Achou? - Falei espantado procurando o que tinha achado.
Achou o que amor?
Olha, volta um pouco. Isso! Ele pega grampeia três vezes, olha bem. Agora passa, isso... Para! Olha quantas vezes está grampeado o envelope.
Quatro vezes! - Falei espantado.
Amor, você não existe!
Não fiz nada, só olhei os pequenos detalhes.
Bom, vou até a loja e verificar o cofre, agora! - Ele disse se levantando e eu ainda com cara de bocó olhando aquele bendito envelope, como isso me passou despercebido?
Mas já são sei horas da noite! - Ela disse indignada.
Não posso deixar isso esperar. Vamos comigo então já que você achou o erro!
Eu? - Ela falou assustada.
Claro, é bom que me sinto mais confiante contigo ao meu lado!
Deixa eu sair daqui se não vou vomitar! - Falei colocando a mão sobre o estomago.
Enzo, você ainda vai cair de joelhos por uma mulher, e vai ficar tão apaixonado, que não vai saber o que fazer da vida sem ela. Não vai conseguir olhar para outra, e ninguém, nem a mais linda modelo vai te atrair, todas serão sem graça perante ela!
Nossa isso é uma praga? ?Virou bruxa? Macumbeira?- Falei batendo três vezes na madeira. Melhor prevenir. Dizem que praga de mulher pega né!
Não sou não, mas vocês mulherengos são os piores.
Bom, a picuinha está divertida, mas temos que ir até a loja verificar o que aconteceu! - Concordei com o Rafa. - E você também vai Enzo, se o dinheiro estiver lá vou te apresentar como meu motoboy e você começará amanhã!
Tá bem, o que eu perdi? - Cecília me olhava confusa.
Ele se ofereceu para ficar como motoboy, pois acha que esse gerente não presta.
Sendo bem sincera eu também não fui com a cara dele.
Está vendo, escuta sua mulher!
Não vou julgar ele. Ao contrário dela ele tem uma ótima ficha. Vamos seguir esse plano até o fim!
Partimos, a caminho da loja me peguei pensando em tudo o que aconteceu desde cedo. Será que sou cego? Está certo que ela é desbocada, mal educada e muito encrenqueira, mas não vi dentro de seus olhos cor de mel nenhum traço de falta de caráter. Ao contrário, ela parece ser bem transparente, sincera até demais, ao ponto de chamar de muquirana seu patrão, claro que não sabia quem eu era. Geralmente essas pessoas são dissimuladas, não a enxergo assim. Ela chegou cheia de pose no posto, mas foi só a coisa ficar preta logo se acovardou. Tremia mais que vara verde. Definitivamente não creio que seja assim, não mesmo.
Chegamos na loja, pegando todos desprevenidos, eu ainda estava com aquela maldita roupa quente, o cheiro dela estava me enjoando. Se ia trabalhar com isso teria que ter minha própria roupa. Não quero ficar com o cheiro de ninguém em mim! Assim que Rafa apareceu a entrada dele foi liberada.
Boa noite senhor Rafael, tudo bem? - Uma garota o cumprimentou.
Tudo bem Carla. Onde está o Gustavo?
Ele saiu, mas já deve estar de volta.
Bem, não sei se terei tempo de esperá-lo. Preciso mexer no cofre, poderia abri-lo para mim?
C-claro! - ela ficou pálida, colocou a senha e logo a porta se abriu.
Obrigado. - Rafa abaixou-se e a porta da loja se abriu.
O que esse cofre faz... Olá senhor Rafael! - Gustavo nos olhou mais branco que o papel ofício que carregava nas mãos. - Eu posso ajuda-lo?
Não, eu só preciso conferir uma coisa. - Ele tateava todo o cofre a procura do bendito envelope.
Eu sei tudo o que tem aí, só me pedir que eu pego.
Prefiro procurar eu mesmo. Aqui, achei! - Segurou em suas mãos o envelope preso em apenas três lugares. - Gustavo, poderia me explicar o que esse envelope faz aqui?
Esse... Esse... É. ..
Nas câmaras fica claro que o senhor conta o dinheiro, coloca um envelope e depois pega outro. Por favor, conte os valores deste.
Mas senhor Rafae...
Agora Gustavo, conte essas notas. - Ele se sentou e contou um a um os trinta bolinhos com notas de cem. - E então?
Trinta mil.
Por que contou um e entregou outro?
Eu não... Não percebi! - Sua voz era quase um sussurro.
Então, o senhor se enganou quanto ao valor. Quanto havia no outro envelope?
Não me recordo.
Como não, se você faz diariamente a conferência deveria saber. Vamos fazer assim, vou ver nas câmeras quando foi que conferiu aquele.
Eu tenho anotado. - Mexeu no livro caixa se voltando para Rafael. - E-e-ram 26 mil.
Ou seja, houve uma acusação grave e injusta, estou certo?
Senhor Rafael, eu...
Só quero a resposta.
Ao que tudo indica sim. - Ele estava mais que contrariado. - Mas não tenho mais como voltar atrás e...
Gustavo, não quero processos por falsa acusação, ainda mais deste porte! Você irá trazer os três funcionários de volta, irá se desculpar pelas palavras que disse e amanhã quero eles trabalhando normalmente.
Mas...
Sem mais. Vamos agora mesmo a casa de cada um nos desculpar pelo dano causado e resolver isso!
Não posso fazer isso, aquela garota vai...
Aquela garota merece desculpas, e pessoalmente.
Eu não sei onde ela mora.
Eu sei! - Carla falou em um entusiasmo parecendo amar o desespero do chefe.
Então por favor, anote para mim que quero ir junto. Faço questão de me desculpar também! - Gustavo olhava Rafa indignado. Juro que quase gemi de satisfaço em ver aquele homem se borrar em desespero. - Também quero informar que a partir de amanhã o Renato será o novo Motoboy da loja, até meu rh conseguir a contratação de outra pessoa, o que espero não tardar pois vai fazer falta em nossa equipe.
Mas não precisa, eu consigo...
Não estou pedindo sua permissão. - O cortou secamente. - Renato, já está liberado, amanhã quero você aqui as 9 horas.
Eu vou embora? - perguntei estranhando. Não queria perder por nada esse bola fofa mau caráter se desculpando.
Desculpe mas não posso levar o motoboy comigo, será algo muito pessoal, não vou expor mais meus funcionários do que já foram! - Falou se divertindo da minha frustração.
Saímos todos da loja, aproveitei para comprar novos uniformes para meu novo emprego. Agora me animei, quero ver o que esse cara esconde!
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Sabrina
RomanceSabrina é uma menina problemática com uma família cheia de problemas e por essa motivo foge de romances... até agora