Capítulo 9

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Na casa da Patrícia...

Me joguei no sofá me perguntando que merda foi essa que acabou de acontecer. Cara, eu detesto ele e quase o beijei! Essa carência ainda vai me meter em encrenca. Não deveria ter dado o fora naquele loirinho. Deveria ter topado esticar a noite como ele sugeriu! Agora estou aqui, a bebida nem fez o efeito que queria, nem curti a festa toda e estou sozinha na sala da Patrícia olhando o teto! Tomei um banho, vesti uma camisa grande e fui para o quarto de visitas. Deitei na cama, eram mais de três horas da manhã e eu estava sem sono. Passei nem sei quanto tempo lembrando toda a noite, desde o fracasso que foi tentar ficar com Henrique, até a dança e o... Não! Isso é loucura! Sem percebi adormeci.
As mãos que apertavam minha cintura eram firmes, grandes. Os lábios percorriam meu corpo, abocanhavam meus seios, que se encolhiam ao toque de sua língua e percorriam pela minha barriga deixando uma maravilhosa sensação. Minhas mãos passeavam por seus braços fortes sentindo cada musculo, passeava com o dedo sobre a figura do índio tatuada em seu ombro esquerdo. Seus lábios desceram tomando minha parte mais íntima, me fazendo tomar fôlego e soltar um suspiro. Levantou o rosto, seus olhos castanhos me olhavam com desejo, cada detalhe de seu rosto se fazia mais intenso naquele olhar. Ele chegou até mim me beijando, encaixando entre minhas pernas e entro.
- Ah! – Acordei com um gemido abafado sentindo todo meu corpo tremer de prazer por um orgasmo causado por... ele? Que merda, é isso mesmo? Eu sonhei com ele? Minha respiração alterada, como se eu houvesse feito muito esforço. Minhas partes sensíveis ao qualquer toque, só em movimentar minha perna eu já tremia tamanho prazer. Entrei debaixo do chuveiro com roupa e tudo, queria esquecer esse maldito sonho. Não pode ser ele quem me atormenta as noites, eu só fiquei impressionada pelo que aquela menina falou.
 Já de pé? – Patrícia entrou no banheiro sentando no vaso.
 Eu quem pergunto, já acordada?
 Nem dormi? – Sorriu. – O que você faz com roupa e tudo no meu box?
 Estava com calor.
 Ahan! E vem cá, afinal de contas, qual o motivo da repentina vontade de ir embora? O que aquele gato fez com você?
 Até que você vai ficar babando nele?
 Eu vou. Ele é um gato, e olhar não tira pedaços. Ele aprontou alguma coisa?
 Não, ele pediu uma trégua!
 E você aceitou?
 Sim, e depois ele quase me beijou. Não quero confusão na minha vida, mas esse garoto parece que é ela em forma humana. Ele consegue me irritar e ainda quase me beija!
 Cara você é linda, ele também. Não entendi o problema até agora.
 O problema se chama Renato! – Coloquei a testa do azulejo. – Ele é o problema, ele é a confusão. Eu detesto ele e ele faz isso?
 Melhor que te envergonhar!
 Eu acho que ele quis foi fazer isso. Ele fez aquilo para todo mundo da loja ver e ele encher a boca que me pegou.
 Não acredito, de verdade. Mas se você acha... – Se levantou e me estendeu a toalha. – Vamos a Praia?
 Eu preciso fazer o tcc!
 E você acha que vai conseguir fazer alguma coisa com a cabeça embaralhada assim? Olha, vamos a praia do Leblon, o Clay vai nos encontrar lá. Vamos hidratar um pouco com água de coco e dar uns mergulhos.
 Eu não trouxe biquíni.
 Bom sabe que isso não é problema para nós. Te empresto o que quiser!
Em menos de meia hora estávamos na praia, caminhamos pela orla vendo em qual lugar ficaríamos e Patrícia resolveu ficar onde haviam uns rapazes jogando futevôlei, mas outra coisa me chamou a atenção. Dois rapazes malhavam em uma academia ao ar livre, um fazia abdominal em uma prancha inclinada, mas o que prendeu meus olhos de verdade foi o moreno que fazia barras. De costas para mim, tinha o corpo muito bem talhado com músculos e uma tatuagem no ombro esquerdo. Um índio, assim como em meus sonhos. Ela falava algo comigo, mas não conseguia ouvir, só lembrando dos braços, dos lábios. Deus do céu, achei o homem que invade meu quarto, meus sonhos todas as noites e me arrebata de tal forma que me deixa louca pela manhã acabando com qualquer paz dentro de mim. Olhava aquele movimento constante, baixo, cima, baixo, cima presa como em um feitiço, que mantinha meus olhos e minha mente presa naquele homem misterioso.
 Aquele ali não é o filho do dono de onde você trabalha? – Meu feitiço foi quebrado, olhando em direção ao homem que fazia abdominais.
 Sim é o Rafael, quem será aquele que está com ele?
 Não faço ideia, mas olha, é uma perdição de homem! – Eu me prendi novamente aquele homem que há dias me prendeu de uma forma diferente. De repente e soltou das barras se virando, e qual foi meu espanto.
 Renato? – Falei pasma. Não! Não pode ser, ele não. Como pode ele me perturbar desta forma? Permaneci olhando para ele, nem sei bem o porquê, presa naquela pessoa que muito mexia com meus nervos, paralisada naquela tatuagem, naqueles braços. O que? Estou enlouquecendo? De repente ele olhou na minha direção, permanecendo parado, como uma estátua. Os olhos pararam nos meus e meu coração acelerou. Não sei o porquê mais minha respiração agora estava pesada, como se eu quem estivesse malhando. Aquilo não era um bom sinal, não podia ser.
 É ele mesmo, nossa! – Ela falou se abanando. O seu Rafael deu um tchauzinho para nós. Acenei com a cabeça.
 Vou embora!
 Não, não vai. Vai ficar, e vai curtir!
 Não posso, sério. Tenho o trabalho para fazer, e meu irmão, e anda fazendo.
 O Sandro tem 19 anos, e você não é a mãe dele! Pode parando. E se acalma, eles estão vindo ai. - Senti meu coração gelar, não queria ficar nervosa perto dele.
 Oi Sabrina, como tem passado? – Rafael me perguntou simpático.
 Bem, obrigado. – Falei sem graça. – Essa é minha amiga, Patrícia.
 É um prazer conhecer você. – Mantendo a simpatia ele lhe apertou a mão dando um beijo no rosto.
 O prazer é meu. Olá Renato!
 Oi. – Ele a cumprimentou se voltando para mim. – Olá Sabrina. – Dei um sorriso reto, em resposta.
 Desculpem, e quero nadar um pouco antes de ir embora! - Falei indo em direção a areia.
 Mas vocês não chegaram agora?
 Sim senhor Rafael.
 Só Rafael, aqui não sou seu patrão.
 Desculpa, é o hábito. Chegamos sim, mas tenho menos de uma semana para refazer meu tcc, não tenho muito tempo.
 E deixou para fazer ele em cima da hora? Não creio que a loja tome tanto seu tempo a esse ponto? – Ele brincou o que deixou o clima um pouco mais leve, as me fez olhar novamente o Renato naquela sunga azul mostrando seu físico impecável, suas pernas grossas. – Não, na realidade aconteceu um acidente no dia 2 onde todo meu trabalho caiu em uma poça de água suja, e não deu pra aproveitar nada. – Falei reparando a reação de surpresa do Renato. – E como formatei a máquina não tenho como recuperar ele.
 Poxa sinto muito. Vou ver se consigo para você duas horas e meia de almoço, para ajudar.
 Seria muita gentileza. Obrigada. Agora se me dão licença. – Sai andando parecendo um robô. Patrícia ficou falando alguma coisa sobre o ocorrido, mas nem ouvi, seguindo meu destino.
 Ei! – Renato se aproximou me segurando pelo cotovelo. – Espera, por que não me contou o que tinha acontecido?
 Por que você estava ocupado demais arruinando minha vida sentimental para se interessar. Mas está tranquilo. Eu estou conseguindo fazer ele novamente.
 Olha, se quiser, conheço uma pessoa que pode ver seu hd e tentar recuperar seus dados. Quem sabe assim não salva seu trabalho?
 Agradeço, mas de você, no momento, só quero distância.
Segui andando até a areia, onde desamarrei a canga da cintura e coloquei na areia me sentando de costas para ele. Nada fazia sentido, nada mesmo! Como eu poderia sonhar com uma pessoa que nunca conheci? Ele me perturba de muitas maneiras que prefiro nem pensar. Isso não pode ser uma coisa boa. Logo Patrícia se juntou a mim. Passamos uma manhã e começo de tarde muito bons, até meu telefone tocar.
 Oi Isaque.
 Ninha, você tem que vir pra casa. – O desespero na voz dele me deixou em alerta.
 O que aconteceu?
 Vem, por favor.
 Isaque me fala o que aconteceu, anda.
 Um cara lá do morro veio buscar o irmão. O pai está passando mal!
 Tá! – Tentei respirar sentindo uma dor no peito. Patrícia me perguntava o que houve e eu só pedia para ela esperar. – Pega os documentos do pai, leva ele para o posto. Depois eu vou encontrar vocês. Só vai me deixando informada. Eu vou atrás do Sandro!
 Ah não amiga. Não vai subir morro atrás dele mesmo, eu não vou deixar!
 Oi gente. – Clay chegou reparando o clima. – O que aconteceu?
 Sandro aprontou outra.
 Não posso deixar ele lá, nas mãos de traficantes. Esse pessoal não tem perdão!
 Seus cabelos que o digam né? Você não pode se expor assim.
 Mas não posso deixar meu irmão lá. Se acontecer alguma coisa eu nunca vou me perdoar.
 Então eu vou junto. – Patrícia se levantou.
 Eu também!
 Não, eu não quero meter vocês nessa!
 Se você vai nós vamos.
 Eu não vou desistir, nem adianta!
 Então vamos todos nós!
Sai correndo da praia, fazendo sinal para o primeiro taxi que apareceu na minha frente. Chegamos no pé do morro e eu os olhei assustada.
 Esperem aqui!
 Nem sonhando! – Clay falou dando o primeiro passo – Você vai e eu vou!
 Tá, mas por favor, não falem nada. Deixem tudo comigo! – Eles só fizeram que sim com a cabeça... Subimos, passando por várias pessoas armadas. Chegamos em uma porta no beco. Bati na porta com medo.
 Que foi? – Um rapaz com a cara do diabo me atendeu. – O que você quer?
 Vim atrás do meu irmão!
 Ah, você é irmã do vacilão! – Falou sorrindo e nesse momento percebi que ele estava encrencado. – Vem entra! Chefe, a garota ta aqui!
 Ótimo! - Aquele homem asqueroso saiu do quarto ao lado. Devia ser da minha idade ou menos, o pescoço cheio de cordões de ouro e anéis grossos nos dedos. – Sabia que eu iria te ver novamente. Conheço meus clientes, e seu irmão é daqueles que sempre voltam, e não pagam. Gostei do cabelo, mostrou mais o rosto lindo que tem, e deixou esses olhos de gata mais visíveis.
 O que ele está te devendo?
 Ah, mais ou menos a mesma coisa de antes! – Me olhou – Mas tenho certeza que você desta vez não tem o dinheiro para pagar a dívida dele. Então acho que tenho algo melhor para sugerir!
 O que você quer? – Falei, o horror era evidente na minha voz.
 Ah, você sabe que estou louco desde dia que colocou o pé aqui. Nenhuma garota antes se negou para mim.
 Eu consigo o dinheiro, só me dá uns dias!
 Eu quero você, ou seu irmão trabalha para mim fazendo umas entregas para pagar a dívida.
 Meu irmão não vai ser seu soldado! – Nem sei de onde saiu a coragem, mas a voz não tremeu. – Não vou deixar isso. Só me dá uns dias!
 Acho que se entregar para mim seria uma opção mais rápida, e prazerosa, eu posso te garantir.
 Isso não está em negociação.
 Você é durona, gosto disso! – Falou ajeitando o pau dentro da calça me causando nojo.
 Só sei o que quero pra minha vida e o que não! – Falei e a porta se abriu.
 O que essa garota está fazendo aqui. A lição que te dei da última vez não foi suficiente? – Aquela mulher falou olhando para mim. O rosto dela eu nunca mais vou esquecer. Tinha cabelos compridos de aplique, a pele negra ressaltada pelo loiro do cabelo falso. Mas agora, o que tinha em sua cabeça era o meu cabelo.
 Ela está aqui por que o irmão mais uma vez me deve. Você não se mete. E que história é essa... – Olhou meu cabelo e o dela. – Eu sabia que tinha reconhecido esse cabelo! – Falou puxando o cabelo dela e a jogando nas mãos de um capanga. – Desde quando te dei moral para torturar alguém sem minha permissão?
 Não sou otária, você é meu homem!
 Eu não sou homem de ninguém. Guto, ela precisa aprender uma lição, da um jeito nela por favor! – Ele falou e logo ela foi levada, pelos meus cabelos, até a porta de trás. – Bom, acho que não posso te cobrar nada agora, afinal, aquela cascata de cachos linda deveria custar alguma coisa, eu sei quanto a neguinha gasta pra colocar aquelas coisas na cabeça. Pois bem. Essa tá paga, mas a próxima não tem perdão. Jocir, pega o moleque lá! – Logo meu irmão estava na minha frente, imundo e drogado.
 Ele não vai mais voltar!
 Vai, conheço meus fregueses. – ele se aproximou e encostou o dedo na blusa de renda quase transparente que eu vestia, passando o dedo no seio onde o biquíni não cobria. – E eu sei muito bem o preço que vou cobrar!
 Se depender de mim não vai!
 Te espero! – Ele quando eu sai.
 Sabrina eu...
 Cala a boca Sandro, cala a boca antes que eu me arrependa e volte pra te entregar para aquele homem! – Falei sentindo nojo da minha pele. Descemos e quando saímos da visão dos traficantes, comecei a estapear, a chutar meu irmão. – Filho da puta, imbecil. Por que faz isso. Quer me matar do coração. Eu não tenho dinheiro para pagar traficante não, não posso tirar da boca dos nossos irmãos e colocar no seu nariz! Porra! Você não enxerga?
 Eu não vou mais fazer isso!
 Vai sim! – Gritei o mais alto que minha voz deixou. – Ele está certo, você já está viciado! Nosso pai está no hospital!
 Pai? Aquilo não é pai! É um fracasso de pessoa!
 E você, não é? Olha para você, louco de tanta droga que usou? No que é melhor que ele? Que diferença faz?
 Eu vou conseguir dinheiro para ajudar você, eu vou conseguir sair dessa. Não quero que sinta vergonha de mim!
 Por favor! – A voz saiu abafada pelas lágrimas. – Eu te amo demais. Não quero ter que vir buscar seu corpo Sandro, não consigo nem pensar em uma coisa dessa! Se você me ama tanto quanto eu amo você por favor, muda!
 E vou mudar! Acredita em mim? – Os olhos dele diziam isso, mas eu sabia que o vicio era a coisa mais difícil de se exterminar! Ele teria que ser forte, e essa não era sua qualidade. A maior prova foi ele ter entrado nisso mesmo depois de tantas conversas que tivemos.

Meu final de semana já tinha terminado, mesmo sendo só o começo da tarde de sábado. Fui até o hospital, e para meu desespero, meu pai tinha sofrido um AVC, estava internado e não tinha previsão para altas. Isaque estava apavorado, viu nosso pai caído no chão todo torto e foi ajudado por vizinhos. Minha mãe estava apagada quase em coma alcóolico. Minha vida voltou a ser a bagunça de sempre, e eu não sabia mais o que fazer.

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora